domingo, setembro 22

Paulo Macedo, espera que o SNS caia de maduro

“Há uma máquina infernal que está montada para desacreditar o sector público em benefício dos privados. Aqui em Coimbra, nos últimos tempos abriram três unidades privadas de média dimensão e uma até está encostada a um hospital público” 
António Arnaut
Público 21/09/2013

António Arnaut poderia ser operado quando e onde quisesse mas, bem, preferiu testar o sistema. Seguindo a via-sacra do comum dos portugueses, tem toda a autoridade moral para dizer que o rei vai nu e, sem ter que calar favores, apontar o dedo à trama de conflitos de interesses que tolhe e corrói o SNS.
Seria injusto, por ser falso, dizer-se que todo este processo de desacreditação do SNS se deve ao actual governo. Vem de longe, tendo-se acentuado a partir de Luís Filipe Pereira (por convicção), Correia de Campos (por ambiguidade), Ana Jorge (por incapacidade).
Tendo na crise o bastão, Paulo Macedo tem conduzido com inteligência o papel de desacreditação do SNS. Sem por em causa o modelo (contrariamente ao que está previsto no programa do PSD) vai-o esvaziando de doentes (perda de qualidade por subfinanciamento, dificultando o acesso pelas taxas moderadoras) ao mesmo tempo que estimula o recurso ao privado (pelas razões anteriores e ainda pela manutenção com reforço financeiro dos iníquos subsistemas públicos). Simultaneamente vai reduzindo a capacidade logística do SNS insistindo nas PPP (novo hospital de Lisboa) e entregando hospitais ao sector social. Percebe-se assim porque, sem a contrariar, mantém congelada a reforma dos cuidados primários e, sem a recusar, adia a reforma hospitalar ensarilhada numa trama de estudos encomendados por si e pelos antecessores.
Resumirei pois esta atitude dizendo que Paulo Macedo espera que o SNS caia de maduro para depois alguém dar seguimento ao programa neoliberal de Passos Coelho.
Discordo de PKM quando diz que “mais de dois anos de ausência de qualquer ideia estruturada para as políticas de saúde geraram um contexto de profunda depressão em todos os agentes do sistema de saúde e do SNS”.link 
Não é pelo menos isso que mostram os resultados financeiros do sector privado, divulgando lucros acima dos dois dígitos num contexto de profunda depressão económica, nem a forma entusiasta como Manuel Lemos, escondendo lucros, acolhe a devolução de hospitais da rede do SNS.
Talvez aqui resida a razão principal para que, passo a citar: o debate de ideias esteja limitado pela intenção de “manter tudo como está” e pouco aberto a novos modelos de prestação e organização intersectorial dos cuidados de saúde. 

Tavisto

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