Saúde, conflito de interesses público/privado
Relativamente ao êxodo médico do SNS direi que se tem
acentuado nos últimos anos. Quer através da saída (a maioria a tempo parcial)
para o sector privado/social, quer por reformas antecipadas. Ou seja, a actual
permissividade laboral (chamemos-lhe assim) não tem garantido um SNS
estruturalmente mais forte mas precisamente o oposto.
Por outro lado, a capacidade de oferta de emprego do sector
privado não é ilimitada. Sabemos que a saúde financeira que aparenta se deve
essencialmente à transferência de dinheiros públicos através dos subsistemas,
desnatação de patologias e à parasitação do SNS deslocando os casos mais graves
e complicados. Estou pois convicto que avançar na separação de sectores, que em
meu entender terá de envolver as relações de trabalho dos profissionais, viria
em reforço do SNS e não o contrário.
Não querendo fazer demagogia, aqui deixo uma notícia que
evidencia bem a irracionalidade a que pode conduzir o conflito de interesses
público/privado.
Pai do SNS em lista
de espera
Precisa de ser operado às cataratas e diz que o mais certo é
ser enviado para o setor privado. António Arnaut, conhecido por pai do Serviço Nacional de
Saúde (SNS), está em lista de espera para uma cirurgia aos olhos há seis meses.
Em declarações ao CM, o advogado explicou que é seguido no Hospital dos Covões,
em Coimbra, e que precisa de ser operado às cataratas.
"O mais certo é ir parar ao setor privado e o Estado
pagar a operação", lamenta, sublinhando que "se os blocos operatórios
funcionassem da parte da tarde isto não acontecia".
Segundo António Arnaut, que faz questão de ser atendido nos
serviços públicos, o SNS tem capacidade para resolver as listas de espera sem
aumentar a despesa. Porém, diz, "não há interesse". "O único
interesse é favorecer os prestadores privados e tornar a saúde numa mercadoria
e cada vez menos num direito", refere, acrescentando que tem uma lista de
situações para confrontar com o ministro da Saúde, Paulo Macedo, no próximo dia
27, no congresso da Fundação do SNS, em Lisboa. Para o advogado, a
desconstrução do Estado Social que está a acontecer em toda a Europa pode dar
origem a uma revolução.
Sónia Trigueirão, CM 17/09/13Tá visto
Etiquetas: Público e privado, Tá visto
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