Um Guião ‘neo-feudalista’...
O Guião para a Reforma do Estado apresentado por Paulo
Portas já mereceu diversos qualificativos, foi submetido a análises imediatas e
a outras mais cuidadas, escrutinado nas suas expressas e ocultas intenções,
teimando em permanecer por aí, na agenda política, não sabemos bem com que
finalidade.
Se, na verdade, como qualquer português entende, a Reforma
do Estado é uma abrangente e multifacetada tarefa de modernização de um vasto e
instrumental aparelho (público, estrutural e ideológico) situação que para ser
viável carece de um amplo consenso político, partidário e em última análise
constitucional, o referido Guião, falhou rotundamente ab initio, ou, se
quisermos usar termos correntes e explícitos, abortou.
Entrou, portanto, na rotina dos actos deste Governo (foi
aprovado em reunião de Conselho de Ministros do dia 30.10.2013 link
em que os falhanços são a regra e a desresponsabilização política o permanente
roteiro.
Reduzir - como fez Portas - esta ‘missão’ a um mero
exercício de equilíbrio orçamental é uma tremenda fraude.
O Estado – e para ter essa noção não é preciso recorrer a
conceitos aristotélicos, kantianos, hegelianos, marxistas, althusserianos, etc.
- será um poderoso e complexo instrumento organizativo e estrutural – 'o
aparelho' - que formata, regula e assegura o funcionamento global da sociedade,
i.e., os sistemas políticos, económicos, financeiros, sociais e culturais.
Reformar o Estado, não pode reduzir-se a definir – encolher
ou transferir - funções (‘melhorar’), como - no documento concebido por Paulo
Portas - se pretende fazer. A modernização do Estado, embora necessária e quiçá
urgente, é uma tarefa muito complexa, primeiro pelo contexto europeu que
alterou o clássico conceito Estado-Nação e depois pelas implicações que encerra
quanto aos contratos sociais existentes e a tudo o que pode ser definido e
englobado como espaço público (a res publica). A complexidade desta tarefa de
reformar aumenta exponencialmente com a introdução neste conceito de reforma de
um novo e poderoso vector actuante na sua definição: 'os mercados'. Situação
que o documento ilude (pretende contornar).
Sem ser necessário focalizar-nos sobre as medidas propostas
neste ‘guião’ para a área social onde taxativamente se afirma “Reformar o Estado, é, na área social, desenvolver
uma política de maior contratualização com as IPSS” conclui-se que a ‘visão
contratualista’ do texto remete-nos para concepções primitivas, onde a 'Ordem'
seria o fundamental bastião a preservar.
A reforma do Estado é, antes de tudo, definir, enquadrar e
separar poderes na sociedade. E o que se propõe, para sermos breves e
sintéticos, não passa do regresso ao ‘Estado Privado’. Aquele que,
historicamente, existiu na era pré-democrática, isto é, no feudalismo e não
deixou boa memória.
A reforma do Estado não é uma questão orçamental mas acima
de tudo um assunto de poderes.
Terá sido a ignorância, ou a deliberada fuga, a estas
evidências que, nos dias que correm, põem em cheque a fantasiosa áurea de
argúcia política que se pretendeu colar a Paulo Portas. E que tornam este guião
sobre ‘Um Estado Melhor’ um documento intragável e impossível de ser tomado
como sério.
E-Pá!
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