HH do SNS para as Misericórdias
De acordo com informações hoje
divulgadas na comunicação social, o Governo estará a preparar-se para, dentro
de poucos dias, entregar às Misericórdias a gestão de seis hospitais do Serviço
Nacional de Saúde (SNS), a saber: Fafe, Cantanhede, Ovar, Serpa, Anadia e
Régua. De acordo com estas notícias, o Governo pretende proceder a estas
transferências já em novembro e refere ser necessário fazer um estudo que
demonstre que os encargos globais do SNS irão reduzir, pelo menos, 25%.
Ora, esta situação, a
confirmar-se, necessita de clarificação urgente. Recorde-se que, em 2011, o Governo
anunciou a intenção de entregar às Misericórdias a gestão dos hospitais do SNS
instalados em edifícios cuja propriedade pertence às Misericórdias. No ano
seguinte, em declarações à comunicação social, o Secretário de Estado Adjunto
do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, afirmou as de Vila do Conde e da
Póvoa de Varzim. Alguns meses depois, surgiram notícias que o Governo pretendia
entregar às Misericórdias cinco unidades em 2013, ntre as quais se
encontrariam referindo que estava na calha a transferência das unidades de
Barcelos, Anadia, Ovar e Cantanhede. Agora, anuncia-se a intenção de transferir
já nos próximos dias os hospitais de Fafe, Cantanhede, Ovar, Serpa, Anadia e
Régua.
Seja qual for o plano do Governo,
seria pertinente conhecê-lo e discuti-lo; uma mudança profunda como esta não
pode ser feita nas costas das populaçõees, do poder local, dos serviços de saúde
nem da Assembleia da República. No entanto, é cada vez mais claro que este
plano não existe, nunca existiu e que o Governo vai proferindo declarações
avulso sobre o assunto, sem nunca dar a conhecer a planificação.
Recorde-se que em julho de 2012
foi constituído um grupo de trabalho com o objetivo de “analisar as condições
de devolução às Misericórdias das unidades de saúde que se encontram sob gestão
pública” (Despacho n.º 10016/2012 publicado em Diário da República, 2ª série, a
25 de julho de 2012). Este grupo deveria ter apresentado um primeiro relatório
até ao dia 15 de outubro de 2012. Até ver, no entanto, nada se sabe sobre este
relatório.
Sabe-se isso sim, que o Governo
insiste na entrega de hospitais do SNS às Misericórdias. Esta situação tem
motivado sucessivos e intensos protestos por parte das populações, conscientes
do facto de que esta entrega significará uma perda para o serviço público
acarretando menos cuidados de saúde. Como tal, compreende-se que o Governo nada
tenha referido sobre este processo durante a campanha eleitoral mas que agora,
volvido o período eleitoral, regresse a ele.
Refira-se igualmente que o Governo
tem tentando sucessivamente criar um equívoco em torno da ideia de que está a
“devolver” estes hospitais às Misericórdias. Ora, não é isso que está em causa:
o Estado paga renda às Misericórdias pela utilização destes edifícios e
continuará a fazê-lo. O que está a ser feito é entregar às Misericórdias a
gestão de hospitais públicos do SNS.
O Bloco de Esquerda considera que
o que é público deve ser gerido pelo público, o que é privado deve ser gerido
pelo privado, o que é do setor social deve ser gerido pelo setor social.
Não é lícito tentar-se ludibriar
as pessoas passando a ideia de que tudo vai ficar na mesma depois de se
“devolverem” estes hospitais às Misericórdias, pois isso não é verdade.
Acresce que a maioria destas
unidades hospitalares se situa em cidades de pequena ou média dimensão (Régua,
Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Cantanhede, Anadia, Montijo, Serpa, Famalicão,
Ovar ou Valongo) pelo que a entrega da sua gestão às Misericórdias irá deixar
estas populações mais desprotegidas no seu acesso à saúde pública.
A transferência para particulares
da gestão de hospitais públicos comporta o risco de orientações e decisões
divergentes e conflituantes com a matriz da gestão pública da rede de hospitais
do SNS como, aliás, já hoje se verifica com evidência nos hospitais públicos em
regime de parceria público privada (PPP). Não se vê qualquer vantagem para o
Estado na entrega da gestão destes hospitais às Misericórdias, concessão que
obviamente terá custos elevados para o Estado e que não são ainda conhecidos.
Atendendo ao exposto, e ao abrigo
das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar
do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao Governo, através do
Ministério da Saúde, as seguintes perguntas:
1. O grupo de trabalho criado pelo
Despacho n.º 10016/2012 que tinha como função “analisar as condições de
devolução às Misericórdias das unidades de saúde que se encontram sob gestão
pública” apresentou o primeiro relatório a 15 de outubro de 2012? Este grupo de
trabalho entregou a versão final deste relatório?
2. O Governo confirma as notícias
hoje publicadas segundo as quais, nas próximas semanas, irá entregar às
Misericórdias a gestão dos hospitais de Fafe, Cantanhede, Ovar, Serpa, Anadia e
Régua? Em caso de resposta afirmativa:
- Qual o valor de renda que o
Estado paga atualmente às Misericórdias respetivas pelo arrendamento destes
edifícios? Qual é o valor da renda que irá ser pago doravante?
- Quais os termos em que irá ser
efetuada esta transferência de gestão?
- Os postos de trabalho de todos
os trabalhadores (independentemente do seu vínculo) estão garantidos?
3.
O Governo tem alguma planificação para a entrega da gestão dos hospitais
públicos que funcionam em edifícios do SNS às Misericórdias? Qual é essa
planificação? Quais são os custos associados a estas transferências?
4. O Governo está disposto a parar
este processo e a manter os hospitais do SNS que funcionam em edifícios da
Misericórdia geridos pelo SNS em vez de entregar a sua gestão às Misericórdias?
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Etiquetas: BE parlamento, s.n.s
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