SNS, estrangulamento financeiro
A partir de
2011, a situação da saúde em Portugal agravou-se ainda mais devido aos cortes brutais
feitos na despesa pública com a saúde e devido também à quebra significativa do
rendimento da maioria da população portuguesa (baixa dos salários dos
trabalhadores do setor privado; cortes nas remunerações dos trabalhadores da
Função Pública e nas pensões, aumento brutal dos impostos que incidem sobre
estas classes da população, desemprego em massa, etc.) o que impossibilita a
maioria dos portugueses de suportar os custos crescentes que têm de pagar que
se verificam com saúde. O quadro 1, com dados dos Relatórios do Orçamento do
Estado mostra a quebra acentuada verificada na despesa pública com saúde, no
período 2011-2014, com o governo PSD/CDS e “troika”.
A redução da
despesa do Estado com a função social “Saúde” em Portugal, ou seja, com a saúde
dos portugueses, no período 2011-2014, é significativa. Entre 2011 e 2014, em
termos nominais a despesa pública diminuiu em 676 milhões €, mas em termos
reais, ou seja, eliminando o efeito da subida de preços, a redução atinge 833,7
milhões €. A despesa pública por habitante, em termos reais, passou de 861 €
para apenas 783 €. Um dos argumentos utilizados por aqueles que atacam o SNS é
a elevada despesa pública em Portugal com a saúde quando medida em percentagem
do PIB. E para isso referem que a despesa total com a saúde em Portugal
atingiu, em 2011, 10,2% do PIB, quando a média nos países da OCDE correspondia
a 9,3% do PIB. No entanto, esquecem-se, por ignorância ou intencionalmente, de
dizer que aquele valor refere-se à soma da despesa pública mais a despesa
privada, ou seja, inclui a parcela que é paga diretamente pelos portugueses
que, no nosso país é muito superior à de outros países. Em Portugal a despesa
privada representava, já em 2011, 35% da despesa total com saúde, quando a
média nos países da OCDE correspondia apenas a 27,3%. Em suma, os dados do
Orçamento do Estado constantes do quadro 1 mostram que a partir de 2011
verificou-se em Portugal, fruto da politica deste governo e da “troika”, um
corte muito grande na despesa pública com a saúde pública. Em 2014, ela
corresponderá apenas a 5,1% do PIB, um valor muito inferior ao utilizado pela
direita nos seus ataques ao SNS, o que determinará ou que os portugueses tenham
de pagar muito mais para aceder aos cuidados de saúde ou então que fiquem sem
acesso a eles.
O CORTE
BRUTAL NA DESPESA E NO FINANCIAMENTO DO SNS EM 2011-2014
Como mostra o
gráfico do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2014, ou seja, com o governo PSD/CDS
e “troika”, foi imposto ao SNS um corte na despesa que atinge 1.667 milhões €, pois
passa de 9.710 milhões para apenas 8.043 milhões €. E isto em termos nominais, porque
se o cálculo for feito em termos reais (anulando o efeito do aumento de
preços), a redução atinge 2.398 milhões € (em 2014, é de apenas 7.312 milhões €
a preços constantes).
No período
2010-2014, o financiamento do SNS pelo O.E. também sofreu uma forte redução. Entre
2010 e 2014, passa de 8.849 milhões € para 8.043 milhões €, no entanto o subfinanciamento
crónico determinou que o Estado fosse obrigado, só para pagar dividas atrasadas
a privados, a disponibilizar 1.500 milhões € em 2012, e 412 milhões € em 2013, portanto
valores que não foram utilizados para pagar despesas desses anos. Em 2014, no total
de 8.043 milhões € estão 451 milhões € para reforçar o capital dos Hospitais
EPE e que, por isso, não devem ser utilizados em despesas correntes com a
prestação de cuidados de saúde. Se o retirarmos ficarão apenas 7.592 milhões €
o que representa, em relação à 2010, menos 1.257 milhões € em valores nominais,
e menos 1.947 milhões € em termos reais.
O
subfinanciamento crónico do SNS tem sido “resolvido” pelos sucessivos governos obrigando
os Hospitais EPE a acumularem elevados prejuízos. E o método utilizado tem sido
o seguinte: transferem para esses hospitais verbas insuficientes obrigando
estes, para poderem prestar serviços de saúde à população, a se endividarem (no
4º Trim.2013, a divida total do SNS era já de 1.500 milhões €). Em 2011, os
prejuízos dos Hospitais EPE atingiram 446 milhões € e, em 2012, 287.000 milhões
€. Entre 2013 e 2014, segundo o Ministério da Saúde, as transferências do OE
para os Hospitais EPE diminuirão de 4.284 milhões € para 4.086 milhões €,
enquanto os pagamentos aos grupos económicos privados de saúde (BES saúde,
Mello saúde, etc.) com PPP aumentarão de 388,5 milhões € para 395 milhões €. Se
se tiver presente que no setor público está em vigor a chamada “Lei dos
compromissos” que criminaliza o endividamento dos hospitais (a divida não poderá
ser superior a ¼ do valor que recebem anualmente do O.E. sob pena dos
respetivos gestores e responsáveis financeiros serem acusado de crime),
rapidamente se conclui que o que se pretende é destruir o SNS para abrir assim
o caminho ao negócio privado da saúde financiado pelo O.E. Paulo Macedo, um
homem de um grupo económico (BCP), com o seu ar tecnocrata, está a concretizar
de uma forma silenciosa esse objetivo. 2014 será um ano de profunda degradação
dos serviços públicos de saúde, com fechos de serviços, com redução de numero
de profissionais de saúde, e com dificuldades crescentes para os portugueses em
acederem a cuidados de saúde, o que contribuirá para agravar ainda mais as desigualdades
em Portugal pois quem não tem dinheiro terá menos saúde. Exigir que o direito à
saúde consagrado na Constituição da República seja respeitado, torna-se um
imperativo nacional e de todos os portugueses.
Eugénio Rosa
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