Ministro da saúde, pior de sempre
«Tempo Medicina» («TM») – Na qualidade de presidente do
Conselho Regional do Centro (CRC) da Ordem dos Médicos (OM), disse recentemente
que «o actual ministro da Saúde está a destruir o Serviço Nacional de Saúde
(SNS) e a legislar de forma irresponsável». Poderia concretizar o que afirmou?
Carlos Cortes (CC) – No início do mandato do actual
ministro, houve a esperança de que um homem ligado à finança conseguisse
equilibrar as contas do sector da Saúde, adquirindo, simultaneamente, a
sensibilidade que uma pasta com um forte cariz social e humano exige.
Após quatro anos, o Dr. Paulo Macedo é das maiores
desilusões deste governo e está a tornar-se um dos piores ministros da Saúde de
sempre. Toma decisões gravosas para a Saúde, fragiliza o SNS, desrespeita os
profissionais de saúde e esquece que o sector tem como objectivo defender e
ajudar os doentes, e não servir de muleta para equilibrar as contas de outros
ministérios mais despesistas. Foi a própria troika que considerou que, na
Saúde, os cortes financeiros tinham ido bem mais além do exigido. Este
ministério decidiu tomar medidas, muitas delas de base técnica ou laboral, sem
consultar a OM ou os sindicatos médicos. Os resultados estão à vista: são
desastrosos e irresponsáveis.
«TM» – Circunstanciando esta decisão da tutela da Saúde,
entende que a qualidade dos cuidados a prestar aos doentes/utentes é posta em
causa?
CC – Não é difícil perceber que as decisões que são tomadas
só têm o objectivo de reduzir cegamente na despesa. Mesmo quando essa redução
afecta a disponibilidade de medicamentos, de meios técnicos ou de recursos
humanos. Das decisões tomadas, o parâmetro «qualidade» tem sido substituído
pelo «mais baixo preço» e, naturalmente, é impossível conseguir manter a
qualidade adequada para o atendimento e tratamento dos doentes. Estamos em
tempo de crise, de dificuldades económicas e já ninguém pede o «melhor», mas
sim o «adequado». Infelizmente, já nem o adequado está disponível nas unidades
de saúde. Existe uma luta diária entre os médicos, que querem defender os seus
doentes, e o Ministério da Saúde [MS], que esqueceu esse objectivo.
Um «estorvo» para o Ministério
«TM» – Além de acusar o MS de não dialogar com a OM e as
estruturas sindicais, o Conselho Regional do Centro da OM denuncia que a
Portaria 112/2004 «viola claramente as boas práticas do exercício da Medicina»
e que «é tomada ao arrepio das regras técnicas e científicas já implementadas e
validades pela Ordem dos Médicos». Porquê? Haverá por parte do MS a intenção de
«esvaziar o papel» da OM?
CC – A Ordem dos Médicos, os sindicatos médicos e os próprios
médicos são um estorvo para o Ministério. Por isso, foi elaborado um «Código de
Ética», pelo MS, que visa silenciar, amordaçar os médicos e impedir que possam
ser denunciadas as situações de deficiência das instituições de saúde. Nenhuma
das principais decisões tomadas, recentemente, pelo MS foi do conhecimento da
OM. Por exemplo, através da Portaria 82/2014 [de 10 de Abril], foi criada uma
nova rede hospitalar. Como pode um ministério legislar desta maneira, sem
auscultar os principais intervenientes na matéria? É uma postura desonesta e
irresponsável.
«TM» – O «memorando de exigências» ou «caderno de encargos»
que acaba de sair da última reunião do CNE é um exaustivo documento que
fundamenta as razões de uma tomada de posição da OM em «defesa da Saúde e dos
doentes». Este é o caminho certo para alterar as situações que denunciam no
domínio da Saúde, no «respeito absoluto dos legítimos direitos dos doentes e
pelos desígnios constitucionais», nomeadamente no acesso ao SNS, de forma
universal, equitativa, tendencialmente gratuita e de qualidade?
CC – A Ordem dos Médicos defende a qualidade da Medicina.
Nesta justa medida, defende os médicos que são o veículo das boas práticas, as
quais se centram no doente, que é quem tem de beneficiar com a luta que a OM e
os sindicatos estão agora a iniciar e a intensificar.
«Denunciaremos aquilo que tiver de ser denunciado!»
«TM» – Entre as oito medidas concretas a implementar, caso o
diálogo com o MS seja «inconsequente a curto prazo», a OM declara no presente
«caderno de encargos» que vai ser solicitado «a todos os colegas, a todas as
distritais médicas e a todos os colégios de especialidade que denunciem à OM
(em cada secção regional) todas as situações de deficiência ou insuficiência
que possam pôr em risco a saúde dos doentes». Como é que o CRCOM vai agir,
mantendo o anonimato dos médicos? Considera ser possível contrariar a expressa
«lei da rolha» denunciando as insuficiências/deficiências das unidades de saúde
do SNS?
CC – A OM tem por missão defender uma Saúde de qualidade.
Não há «lei da rolha» na Ordem. Seremos o veículo dos médicos na denúncia das
insuficiências e da degradação dos serviços. Os portugueses têm de saber o que
realmente está a acontecer nos hospitais e nos centros de saúde deste país. Os
artifícios mediáticos do Ministério da Saúde para fazer crer numa realidade que
é um paraíso irão desaparecer rapidamente, quando todos perceberem que estamos
a regredir vários anos na qualidade dos cuidados de saúde.
«TM» – Os profissionais abrangidos pela SRC OM estão a
acatar o «dever de confidencialidade» que lhes é exigido pelo MS, além do
expectável sigilo médico? Tem conhecimento de queixas a este respeito?
CC – Não existem propriamente queixas, mas relatos de
perseguições em hospitais onde os médicos são excluídos do diálogo e
perseguidos quando tentam denunciar aspectos de má gestão que prejudicam
claramente o atendimento aos doentes. A Ordem dos Médicos não pode ficar
silenciosa perante tais situações. Denunciaremos aquilo que tiver de ser
denunciado!
TM 31.05.14
Etiquetas: Paulo Macedo
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