Pior equipa ministerial da história do SNS
Relógio em contagem crescente
Os deputados portugueses eleitos para o Parlamento Europeu,
deixam dúvidas sobre as suas capacidades para defenderem os melhores interesses
nacionais no sector da saúde que, de forma calculista, evitaram na campanha
eleitoral.
Entretanto, os portugueses que ficam enfrentam a pior equipa
ministerial da história do SNS, que falhou em todas as dimensões da
modernização dos sistemas de saúde ainda que continue a tentar projectar
ilusões de sucesso, protegida por uma poderosa máquina de propaganda. Os casos
de incompetência na gestão do SNS multiplicam-se e contrastam com a realidade
internacional. Destaco, neste texto, algumas das mais graves para esclarecer a
opinião pública nacional.
O adiamento, aparentemente premeditado, na atribuição de
autorização de introdução no mercado (AIM) a terapêuticas inovadoras, promove
uma poupança ilusória de curto prazo na despesa com os medicamentos. Porém, os
casos da esclerose múltipla e oncologia chocam-nos na medida do sofrimento
evitável que esta esperteza ministerial tem promovido.
O atraso na regulação nacional para a directiva Europeia da
livre circulação de doentes envergonha-nos e, havendo seriedade nestes
processos haverá consequências políticas negativas. A proposta de regulação
apresentada pelo actual ministro da saúde representa uma tentativa irregular de
impedir o acesso a outros sistemas de saúde ao doente português quando, em
simultâneo e de forma pobremente demagógica, diz estar muito empenhado em
trazer doentes internacionais para o SNS em que ele próprio tem promovido o
centralismo inoperante da gestão das organizações, longos tempos de espera,
condições de elevada desmotivação dos profissionais de saúde e evidentes
contextos de desigualdade regional no acesso aos cuidados de saúde.
Elevados tempos de espera e um contínuo desrespeito pelos
tempos mínimos de resposta garantida em hospitais e centros de saúde contrastam
com a obrigação de elevadas “taxas moderadoras” e multas, caso o cidadão falte
a consultas sem avisar os serviços que nunca atendem telefones. Com a
conivência de uma classe de “gestores” nomeados pelo governo, eis uma situação
que, do ponto de vista internacional, indicia abuso de poder sobre o indefeso
cidadão nacional que ainda acredita no SNS.
Também temos a polémica do “diploma da mordaça” que não
passou despercebido e mereceu a forte contestação dos defensores da Liberdade
sempre atentos a processos menores que minam processos maiores. Como pode um
governo Europeu propor a possibilidade de perseguir quem ouse denunciar, nos
serviços públicos, casos de incompetência, corrupção, fraude e impactos
negativos das medidas políticas nos cidadãos e nos profissionais? Esta situação
vem aliás, na sequência de uma outra em que a equipa ministerial exige que os
investigadores e universitários assinem um compromisso de “lealdade” para com o
governo para terem acesso aos dados de produção do SNS. As duas acções
confirmam a actual cultura centralista e opressiva de líderes nacionais que
actuam contra os interesses dos seus cidadãos quando motivados com promessas de
cargos internacionais a atribuir após o seu período de governação, como já
observamos em outras áreas.
O diploma que iniciava uma reforma hospitalar, não sendo
sequer assinado pelo próprio ministro, acabará por ser revogado após pressão
dos profissionais de saúde. O documento em si, o processo político e natureza
anedótica da alegada reforma hospitalar, como outros casos confirmam a falta de
competência de Paulo Macedo cuja imagem pessoal continua profundamente
mistificada.
Mantêm-se elevadas taxas de infecção nas unidades do SNS e
reinternamentos de idosos por falta de apoio na comunidade. Aumentam os casos
de doentes crónicos que desestabilizam por não conseguirem pagar os
medicamentos, gerando outros e mais elevados custos e sofrimento. O SNS
mantém-se em iminente bancarrota e por reformar.
O relógio, neste caso, está em contagem crescente. Portugal
já acumulou três anos de atraso na modernização do seu SNS.
Paulo
Moreira, Director do International Journal of Healthcare Management, Londres,
JP 16.06.14
Etiquetas: Paulo Macedo, s.n.s
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