terça-feira, junho 17

Tratamento da hepatite C com fármacos inovadores


Bastonário da O.M. apela à humanidade e sensibilidade do ministro da Saúde
«Neste momento, há doentes que estão no limite e que precisam de ser tratados no imediato. É preciso que os hospitais libertem os pedidos de autorização excepcional e que todos os médicos façam justificadamente estes pedidos», disse José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos (O.M.), numa conferência de Imprensa promovida na sede desta instituição pela SOS-Hepatites, cuja presidente, Emília Rodrigues, adiantou ter conhecimento de que, em Março havia 85 pedidos de AE para o tratamento da hepatite C com sofosbuvir. Vários doentes relataram os seus casos dramáticos.
«A Ordem dos Médicos (O.M.) disponibilizou-se para estar ao lado do ministro da Saúde na negociação do melhor preço possível para o SNS da nova terapêutica para a hepatite C, mas o ministro prescindiu do apoio dos médicos e dos doentes; por isso, cabe-nos estar aqui a exigir que os doentes mais emergentes tenham acesso a uma terapêutica que é curativa», disse José Manuel Silva, apelando «à humanidade e sensibilidade do sr. ministro da Saúde, porque há doentes que têm pouco tempo e que precisam dessa terapêutica». Segundo o bastonário da O.M., «a dimensão da despesa que isso poderia representar é muito inferior à que foi referida». E explicou: «A Inglaterra, mesmo antes da avaliação do NICE, tratou 500 doentes. Com a dimensão da nossa população, deveríamos estar a tratar de forma imediata cerca de 100, os mais graves, aqueles para quem cada dia conta. Estamos a falar de cerca de 5 milhões de euros». Entretanto, aparecerão novos medicamentos e será mais fácil conseguir melhores preços para o SNS, prevê o bastonário, que salientou o facto de o medicamento que está em causa ter sido submetido a estudos de fármaco-economia e de a sua relação custo-efectividade não estar em causa. «Neste momento, há doentes que estão no limite e que precisam de ser tratados no imediato. É preciso que os hospitais libertem os pedidos de autorização excepcional e que todos os médicos façam justificadamente estes pedidos».
«Os doentes não podem esperar mais»
«Os doentes não podem esperar mais –- disse Emília Rodrigues. --- Estão completamente desesperados, porque estão a necessitar com urgência das terapêuticas e vão acabar por morrer sem elas. Sabem que podem salvar-se e que nada está a ser feito para que sejam curados. O Ministério da Saúde continua a dizer que não vai haver dinheiro, nos tempos mais próximos, para disponibilizar os novos medicamentos. Ao mesmo tempo tenta criar a "lei da rolha" para que os clínicos sejam impedidos de contar para o exterior a realidade do que se passa nos hospitais. Mas os doentes contam». E foi por decisão deles e da direcção da SOS-Hepatites que a realidade em que vivem foi publicamente transmitida.
A realidade dos doentes, como ficou patente, «tem um traço comum: o medo. Medo da morte, medo que a aprovação do medicamento não chegue no tempo devido, medo de não verem os filhos crescer. Segundo informação do Infarmed, o prazo pode ser prorrogado de cada vez que há um pedido adicional de medicamento. Sendo assim, quanto tempo vamos esperar pelo tratamento?», perguntou Emília Rodrigues.
A SOS-Hepatites sabe que nem todos os 150 mil portugueses que se calcula tenham hepatite C necessitam de tomar os novos medicamentos, «mas negar a doentes com fígado cirrótico a medicação que os pode curar e, ao mesmo tempo, impedir a evolução para cancro e transplante é uma atitude que envergonha Portugal, os médicos e os doentes portugueses», afirmou a dirigente da organização, que acrescentou: «Sabemos que há negociações a decorrer entre o Infarmed, os clínicos e a Indústria Farmacêutica, não é a primeira vez que estas negociações acontecem. Da última vez, entre as negociações e a aprovação do medicamento decorreram 27 meses. Não queremos que, desta vez, os doentes fiquem de novo à espera pelo mesmo período».
Reacção do Infarmed
Entretanto e «relativamente às dúvidas suscitadas na Comunicação Social», o Infarmed emitiu um comunicado em que «assegura não haver falta de tratamento para a hepatite C em Portugal», pois «em todas as situações em que o doente corra risco de vida, e enquanto se aguarda decisão final sobre os pedidos de comparticipação, está assegurado aos doentes o acesso aos medicamentos pelos hospitais do SNS, através de autorizações excepcionais».
Mais adianta (detalhes em www.infarmed.pt) que «o processo de comparticipação do medicamento para o tratamento da Hepatite C, contendo a substância ativa sofosbuvir, link encontra-se tecnicamente concluído na análise relativa ao valor terapêutico acrescentado e quanto ao custo-efectividade, faltando apenas para a sua aprovação final que a empresa detentora da Autorização de Introdução no Mercado proponha um preço adequado que não ponha em risco a sustentabilidade do SNS (…) O Infarmed tem em curso um processo negocial, aguardando, neste momento, proposta de um preço adequado e comportável, por parte da Indústria Farmacêutica». link link
Tempo Medicina

Etiquetas: