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As Listas de Utentes dos Médicos de Família e o despudor
eleitoralista do Ministério da Saúde
A persistência de largos milhares de cidadãos sem médico de
família, sempre foi e continua a ser uma situação em relação à qual a FNAM
manifesta clara preocupação, pela inaceitável limitação de acesso aos cuidados
de saúde essenciais e de primeira linha.
Três factores são facilmente identificados como responsáveis
pela persistência deste problema que já podia estar em fase avançada de
resolução, caso existisse, da parte do ministério, vontade e visão:
1 - Os últimos anos foram férteis em sucessivas e lesivas
alterações ao sistema de reformas estimulando a antecipação das mesmas por
parte de médicos na plenitude das suas competências.
2 - O regresso, através das actuais administrações nomeadas
pelo governo, a modelos centralistas e autoritários de comando-controle ao
invés de estimularem a prática da negociação participativa e inclusiva exigida
pela complexidade crescente da gestão em saúde, fez com que o aumento de cargas
de trabalho para valores manifestamente excessivos, acentuassem o desânimo e
saturação junto dos médicos com mais tempo de serviço. Assim se estimulou a
opção para que um número muito significativo de médicos de família tenha desencadeado
os respectivos processos de reforma antecipados. indo geralmente engrossar o
sector privado e social, abandonado desta forma os centros de saúde públicos
onde eram e continuam a ser necessários.
3 - Por outro lado os mais jovens, ao invés de serem
encarados como o mais importante investimento estratégico para o sector,
desiludidos pela forma como vêm sendo tratados, utilizados como se de mão de obra
barata, vendo sucessivamente adiados os concursos que lhes possibilitem a
integração na carreira médica e lhes proporcionem condições atractivas por via
da colocação em USF já existentes ou a serem criadas, optaram por emigrar em
busca de melhores condições de trabalho e remunerações.
Este ministério da saúde optou empenhadamente por
desenvolver uma acção dissimulada de boicote à Reforma dos Cuidados de Saúde
Primários, impedindo a criação de mais USF (Unidades de Saúde Familiar) e a
prossecução de um caminho alicerçado na qualidade dos cuidados e na satisfação
dos seus utentes e profissionais.
A experiência internacional ao longo dos anos tem
demonstrado de forma amplamente documentada que a dimensão das listas de
utentes que permita uma efectiva gestão clínica e que assegure uma boa
acessibilidade dos cidadãos aos seus médicos de família deve rondar
sensivelmente os 1.500 cidadãos inscritos.
Ao apresentar a intenção de aumentar as listas de utentes
para 2.500 utilizadores, o ministério da saúde vem a público fazer mera
propaganda política, eleitoralista e demagógica.
Como temos afirmado, este ministério, ao invés de estar
preocupado em dar efectivamente um médico de família a cada português, pretende
apenas mascarar esse desígnio atribuindo, de facto, mais portugueses a cada
médico de família. As consequências dessa simples inscrição burocrática e
básica mistificação aritmética resultarão inevitavelmente na diminuição do
tempo disponível para cada consulta, no aumento dos tempos de espera e na
indução de maior risco de burnout dos médicos de família, situação já hoje identificada
como um dos maiores riscos da profissão.
Os médicos de família, formados numa cultura de qualidade
crescente, nunca poderão aceitar tais condições para a sua prática.
São assim cada vez mais nítidos os verdadeiros propósitos
ministeriais - uma alavanca para o seu objectivo primeiro - externalizar para
as Misericórdias os serviços duma suposta medicina familiar, à custa do aumento
numérico das listas de utentes, não voltou a efectuar qualquer reunião sobre esta
matéria, limitandose a fazer profusas declarações públicas.
Resumindo, o ministério que promoveu e continua a promover a
delapidação de recursos médicos especializados na área da saúde familiar e a
minar a coesão do SNS é o mesmo que vem agora "chorar lágrimas de
crocodilo" e propor medidas absolutamente desajustadas e terceiro-mundistas
supostamente destinadas a suprir carências pelas quais é o principal
responsável.
A FNAM reafirma que a solução passa, nomeadamente, por:
1 - Retomar com urgência a Reforma dos Cuidados de Saúde
Primários nas suas múltiplas dimensões, nomeadamente através da implementação
do Modelo B para todas as USF.
2 - Nomear para as direcções das ARS e dos agrupamentos de centros
de saúde (ACeS), quadros devidamente habilitados e não meros clientes dos
aparelhos partidários. Ao contrário dos sucessivos escândalos a que temos vindo
a assistir nas diferentes áreas da administração pública estas nomeações deverão
ser sustentadas através de processos de selecção verdadeiramente isentos,
transparentes, orientados para as competências e auditáveis pelos cidadãos.
3 - Dar cumprimento à colocação célere dos jovens
especialistas em medicina geral e familiar e apoiandoos decididamente na
construção e desenvolvimento de novas USF.
4 - À medida que a colocação dos jovens médicos possibilite
mais e melhor cobertura assistencial, as listas de utentes por médico de
família deverão ser ajustadas retomando uma dimensão sensivelmente idêntica à
que se encontrava legislada, ponderados factores que permitam conjugar Acesso
com Qualidade.
Continuaremos a desenvolver todos os nossos esforços para
impedir a actual acção governamental de destruição do SNS e das suas carreiras
profissionais, não pactuando com quaisquer medidas de puro ilusionismo político
e eleitoralista.
Comissão Executiva da FNAM link
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