Assim vai o SNS
Mais uma médica de família a emigrar
Em setembro de 2014, a Ordem dos Médicos recebeu um grito de
alerta de uma colega especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF), colocada
num ACES da Zona Norte da ARS-LVT. Era a única médica para cerca de 5000
utentes, dos quais 2000 faziam parte da sua lista. A situação era agravada pela
incompreensão e até agressividade de alguns utentes, que não queriam perceber
que é impossível uma única médica de família (MF) responder às necessidades de
5000 pessoas-
A seu pedido, a médica foi recebida pela diretora-executiva do
ACES. Expôs a sua situação e o seu estado de esgotamento e pediu alguma
flexibilização do seu horário (não uma redução), devido ao facto de viver a 30
km e ter dois filhos pequenos. Explicou ainda que a escala de Atendimento
Complementar noutro Centro de Saúde, para a qual era compulsivamente escalada
ao fim de semana, colidia com o facto de estar sozinha com os filhos e não ter
onde os deixar, pelo que colocava a possibilidade de se ver obrigada a sair do
SNS. Em resposta a esta justa pretensão, a diretora--executiva informou-a
secamente que nada iria mudar.
Perante tamanha insensatez, com um baixo salário e sentindo--se
maltratada, a MF procurou emprego na Europa e já tem contrato para emigrar para
a Suécia, depois de ser submetida e aprovada em várias provas de seleção,
estando atualmente a aprender a língua sueca num curso intensivo.
Só depois de apresentar a carta de exoneração a estultíssima
gestão do ACES propôs alguma flexibilidade. Tarde de mais.
Dizem os livros básicos de gestão que os recursos humanos,
particularmente os mais diferenciados (mas todos, obviamente), devem ser
tratados com um mínimo de dignidade e respeito. Todavia, parece que no
Ministério da Saúde (MS) ninguém percebe nada de gestão de recursos humanos.
Não há quem lhes ensine? Eu poderia fazê-lo!
Espanta-me que o MS continue a nomear alguns desqualificados
militantes partidários para presidentes de ACES e que continue a ignorar e nada
faça para evitar as causas da emigração de tantas centenas de médicos, que
muita falta fazem aos doentes portugueses.
Estando Portugal a formar médicos acima das necessidades, é por
todas estas razões e por culpas próprias que, infelizmente, o MS não cumprirá a
promessa de dar um MF a todos os portugueses até ao fim da atual legislatura.
José Manuel Silva, JN 26.06.15
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