SNS: mudar de paradigma (Parte II)
A aprovação da Lei de Bases da Saúde foi
justificada com as alterações económicas que começaram a caraterizar o
capitalismo a partir dos dois choques petrolíferos, em 1973, com a consequente
recessão, e em 1979, com a consequente depressão, bem como com as diversas
alterações sociodemográficas, em particular com o envelhecimento demográfico.
Uma nova
Lei de Bases deve começar, pois, por:
1.º
Caraterizar o quadro económico-financeiro e sociodemográfico português atual:
crise económica e financeira, pobreza, envelhecimento demográfico, baixíssima
taxa de natalidade, um povo doente (física e mentalmente, sobretudo
mentalmente), baixa literacia, um capitalismo parasitário, «chulo» e
intrinsecamente vigarista, um povo «dócil» e «manso» com a desonestidade e com
a corrupção, etc. etc.
2.º
Definir o tipo de sociedade que se pretende construir. Nas últimas décadas, com
o chavão pós-modernista de que «acabaram as metarrativas», os partidos deixaram
de discutir e de propor modelos. Todos convergem para «o pensamento único». É
preciso acabar com esta forma de pensar. Continua a ter cabimento discutir que
tipo de sociedade queremos construir: marxista, neomarxista, neokeynesiana,
neo-democrata cristão, neo-social democrata, neoliberal?. Com uma certeza, seja
qual for o tipo de sociedade, o Estado terá sempre uma palavra importante a
dizer. Sem o Estado nada se fará. Nunca o Estado foi tão interventivo como
agora em tempos de quase absoluto neoliberalismo. Já assim foi com Reagan, já
assim foi com Thatcher. Nunca o Estado poderá deixar de ser interventivo, cada
vez mais interventivo. Resta saber se até ao nível do aniquilamento de toda a
privacidade. Afinal quem está a construir o Big Brohter não são os comunistas,
são os outros. Atenção, porém, o Estado nunca é neutro, nunca será neutro.
Todos o sabem, todos o sentem, diariamente, no bolso, mas poucos o vêm (e aqui
está a máxima habilidade do capitalismo atual), na escravidão simbólica a que
cada um está sujeito, convencido que é um ser livre. É de perguntar: são hoje
os indivíduos ainda seres reflexivos ou não passam já de meros escravos
simbólicos? Tão simbólicos que até se julgam livres.
3.º
Nestes termos, é preciso definir que modelo de Estado queremos, que tipo de
intervencionismo estamos dispostos a aceitar, que dimensão, que tipo de
intromissões na vida privada, que formas são toleráveis, etc, etc;
4.º Só
depois de definido o tipo de Estado que queremos é que tem sentido falar do
modelo de sistema de saúde, donc, de Serviço Nacional de Saúde (SNS), devemos
defender;
5.º
Coerente com o modelo de SNS, que modelo de governação deverá ser implementado
nas instituições e serviços do SNS?;
6.º Em
articulação com o tipo de governação, há que definir porque quem e de que modo
deve ser nomeada a gestão: por profissionais especializados ou por políticos,
com base em carreiras ou não, deve haver uma carreira de administração
hospitalar, que tipo de carreira, etc.
7.º Por
fim, consentâneo com o tipo de governação, que ferramentas (métodos e técnicas)
são as mais compatíveis com os modelos de gestão que vierem a ser adotados: de
gestão pública, modelos mistos, etc.
Enfim,
isto é fazer, é discutir, política, é propor um projeto político alternativo ao
projeto atual que tem vindo a ser-nos imposto desde 1990.
É tempo
de refletir e propor um projeto alternativo.
Que não
conduza ao fim inevitável do SNS, que será o que irá acontecer a manter-se o
paradigma atual, mas que o refunde.
Por uma
nova Lei de Bases da Saúde!
Gregorio
Nazianzo
Etiquetas: Crise e politica de saúde
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