segunda-feira, junho 8

nove, noves fora: nada

A carta de nove garantias da coligação link é um exercício de relações públicas, para colmatar um vazio. Três das garantias dependem de outros, que não do futuro governo, de resto condicionadas em dois casos; outras três garantias são tão estimáveis e sufragáveis que se pergunta, então por que não o fizeram em quatro anos de maioria; duas são redundantes com o que já existe e uma é igual ao que o PS propõe, com a diferença de que custa mais tempo.
Vejamos as garantias que dependem do contexto, no qual os redactores se abstêm de agir, como bons liberais: que Portugal não voltará a depender de intervenção externa e não terá défi ces excessivos. Pasma-se com o optimismo. A crise mundial, a recente e outras que possam ocorrer, estarão cobertas por novo escudo nuclear; aconteça o que acontecer, a nossa fé, tal como na batalha de Ourique, salvar-nos-á. Iremos crescer a 2%-3% nos próximos quatro anos, garantia condicionada e limitada “ao que de nós depender”. Reduziremos o desemprego para a média europeia, mas só “se tal estiver ao alcance do Governo”. Quanto a medidas concretas, mais do mesmo levará ao mesmo desemprego, desengano e emigração.
Vamos às garantias estimáveis que todos acolhemos: garantir um Estado social viável e com qualidade, dando como exemplo o SNS universal e geral e a pequena ousadia de médico de família a todos os Portugueses.
O SNS existe desde há mais de 40 anos e o que se fez nos últimos quatro foi sapar-lhe as bases: cortar financiamento, reduzir serviços, não substituir pessoal, paralisar reformas consensuais como a das unidades de saúde familiares (USF) e dos cuidados continuados. Se aquela garantia era a mesma de há quatro anos, por que não agiu o Governo a tempo de evitar a deterioração dos cuidados, as queixas dos cidadãos, o desgosto dos profissionais, o acréscimo de gasto para famílias e a redução do investimento público? Se dar médico de família agrada a todos os Portugueses, por que não agiu o Governo para manter ou atrair profissionais descontentes que se afastaram? Por que não criou novas USF, quando este ano apenas regista uma? Por que parou com a criação de unidades de cuidados continuados, empancando os hospitais com doentes que melhor naquelas seriam tratados? Mas nem tudo é errado: registemos que esta garantia corrige a irreflectida promessa de Passos Coelho, no fim do penúltimo debate quinzenal, de antecipar para o ano em curso a distribuição de médicos reformados pelos centros de saúde, para acabar com doentes sem médico. Ainda bem.   …
Correia de Campos, JP 08.06.15

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2 Comments:

Blogger Tavisto said...

“O SNS existe desde há mais de 40 anos e o que se fez nos últimos quatro foi sapar-lhe as bases”

Quatro anos é demasiado curto. Diria que o SNS foi particularmente sapado após Maria de Belém e, neste desvirtuamento, Correia de Campos tem particular responsabilidade, pelo menos no que ao sector hospitalar diz respeito. Senão vejamos:
Foi pela sua mão que as PPP na Saúde com gestão clínica privada foram paridas criando uma estrutura de missão “Parcerias.Saúde” liderada por Jorge Simões. Convém recordar que a poucos dias do final do seu mandato como Ministro da Saúde no governo de Guterres afirmava que a continuidade do modelo de PPP português estaria garantida, quer estivesse o PS ou o PSD no Governo, uma vez que ambos contemplavam esta forma de gestão no seu programa.
O senhor que se seguiu na pasta, Luis Filipe Pereira, agradeceu e aos cinco hospitais inicialmente previstos: Cascais, Loures, Braga, Sintra e Vila Franca de Xira, acrescentou mais cinco: Évora, Vila Nova de Gaia, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Algarve e Guarda. Num frenesim edificador de hospitais e de alienação do setor público, só travado pela crise financeira de 2008 e o subsequente endividamento da Nação por arrasto. Foram construídos quatro, Cascais, Loures, Braga e Vila Franca de Xira. Dois deles hoje nas geridos por grupos económicos internacionais.
Talvez por lhe pesar na consciência Correia de Campos omita a reforma hospitalar neste seu artigo de opinião. Ou, mais provável, porque em período eleitoral e tempo de vacas magras, há outras reformas consensualizadas que não é oportuno referir.

11:48 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

O Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social, dizem alguns, não terão "sustentabilidade". Brevemente, irão dizer-nos o mesmo acerca da escola pública.
Uma pergunta inocente:
São "insustentáveis", ou insustentável é o país em que a economia não cresce?
Sim, porque se a economia crescesse, o orçamento de Estado cresceria também, e o financiamento do Estado Social torná-lo-ia sustentável.
E, já agora, convirá não esquecer, o desemprego também diminuiria.
Conclusão: não é o Estado Social que é insustentável!
Insustentável é um país em que a Economia não "arranca"!
Estou certo, ou errado?
António Rodrigues in facebook

11:08 da manhã  

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