SNS: mudar de paradigma
SNS: mudar de paradigma (Parte I)
Por norma apenas passo os olhos, ao de leve, pelos artigos
de opinião de Marques Mendes na Visão. O artigo desta semana, porém,
interessou-me mais do que é habitual. Devo confessar que o li com atenção e que
o considero o melhor artigo de opinião ali publicado por Marques Mendes.
O artigo, pretendendo fazer teoria sobre a sustentabilidade
da Segurança Social acaba por fazer teoria geral útil para os demais setores do
Estado, nomeadamente para o Serviço Nacional de Saúde.
É um bom documento, que pode servir de orientação
estratégica, em especial para a oposição, particularmente para o Partido
Socialista.
Anda este Partido a discutir e aprovar «bagatelas» no âmbito
do seu projeto de programa eleitoral para remendar o SNS em vez de discutir
soluções políticas para o reformar. As soluções até agora conhecidas e
propostas no referido projeto «não representam qualquer mudança de modelo nem
alteram o paradigma existente»
Ora, desde a sua criação, o SNS desenvolveu-se/tem-se desenvolvido
em torno de dois paradigmas bem diferentes. O primeiro paradigma, que eu
chamaria de gestão pública tradicional, de matriz claramente keynesiana,
vigente de 1979 a 1990, e o segundo paradigma, iniciado com a Lei de Bases de
1990, que ainda perdura e não se sabe onde pode vir a parar (talvez na
destruição do SNS), de matriz claramente neoliberal, que eu chamaria de
paradigma da nova gestão pública (NGP).
A NGP (New Public Management) teve origem ideológica nos
anos 90, na chamada Nova Direita inglesa (New Right), uma ideologia, portanto,
reacionária (de reação contra o Estado Social, em primeiro lugar), com o
fundamento explícito de modernizar a gestão pública, mas com o objetivo
implícito («gato escondido com o rabo de fora») de destruir o Estado Social.
Alguns partidos (o Partido Trabalhista inglês de Tony Blair e PS português)
acreditaram no objetivo explícito e não viram claramente o objetivo implícito.
Continuam a não ver, pelos vistos.
Tem sido este objetivo implícito, porem, aquele que tem
orientado a governação da saúde nos últimos anos. Em particular a governação do
PSD (e da direita em geral), mas também a do PS, que tem caído no logro da
inevitabilidade, colaborando, compactuando com destruição do SNS. O PS tem-se
limitado a fazer filhos em mulher alheia (na Lei de Bases de Saúde, do PSD) e,
pelos vistos, não quer outra coisa, parecendo, embora, o contrário.
Parecendo ter-se dado conta do logro, o PS mais não faz, mas
não pretende fazer do que remendos no SNS.
Impõe-se uma rutura, se é a rutura que dizem que querem, uma
mudança de paradigma, se querem salvar o SNS. Mudar de paradigma é começar por
discutir a atual Lei de Bases da Saúde e propor ao eleitorado, claramente, uma
nova Lei de Bases que defina claramente qual é o paradigma de SNS que pretendem
para o país.
«O caminho só pode ser o de mudar de modelo». Defendo que
não deve ser nem o da gestão pública tradicional, nem o da nova gestão pública
entendida como «fuga para o direito privado», «gestão empresarial privada»,
«privatização», «mercado, mercado, mercado». Um modelo intermédio entre a
salvaguarda dos valores e princípios da gestão pública tradicional e os métodos
e técnicas de gestão empresarial. Gestão empresarial não é sinónimo de gestão
privada, nem de empresarialização.
Gregorio Nazianzo
Etiquetas: s.n.s
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