Política hipócrita?
Ainda há algumas dezenas de médicos a trabalhar nos Cuidados
de Saúde Primários com a categoria de Clínico Geral, sem a especialidade de
Medicina Geral e Familiar (MGF). São
médicos que se encontram nesta situação há muitos anos, não tendo, por várias
razões, efetuado a formação em exercício aquando da criação da especialidade de
MGF, mas que têm uma vasta experiência como Médicos de Família.
Estes médicos, com contrato de trabalho em funções públicas,
são remunerados por uma tabela mais baixa que os especialistas em MGF. O escalão atual do vencimento destes colegas,
com horário de 35 horas/semana, é de 1467,72 euro ilíquidos. Retirados os
impostos auferem menos de 1000 euros/mês! Ou seja, trabalham por menos de seis
euros líquidos por hora, tendo uma lista pelo menos de 1500 utentes...
Agora, a ACSS quer equipará-los ilegalmente a meros técnicos
superiores e forçar o aumento do seu horário para 40h/semana e as respetivas
listas para 1900 utentes, sem qualquer acréscimo de vencimento! Passariam a
trabalhar por 5 euros/hora, valor líquido!
Com este microvencimento, os colegas preencheram o seu tempo
livre com atividades no setor privado, pelo que lhes é impossível passar
repentinamente de 35 para 40 horas/semana sem acréscimo de vencimento e sendo
prejudicados pela obrigatoriedade de abandonar atividades privadas que
desenvolvem há muitos anos.
É evidente que muitos destes médicos preferirão abandonar o
SNS assim que possível, deixando ainda mais doentes sem Médico de Família!
Depois não se admirem que os médicos estejam a emigrar!
Solicito ao Ministério da Saúde que respeite estes médicos e
não lhes aumente compulsivamente o horário, ou que, no mínimo, lhes dê a opção
entre a manutenção do horário atual ou aumento para as 40 horas com
correspondente aumento da lista de utentes e do vencimento. Caso contrário,
corre o risco de perder ainda mais médicos e de ficar com ainda mais cidadãos
sem Médico de Família.
Tenho esperança no bom senso do Ministério da Saúde (MS). Se
este apelo não for ouvido, então a afirmação do ministro da Saúde de que
contrata todos os médicos disponíveis e que façam falta ao SNS revelar-se-á
profundamente hipócrita.
Etiquetas: s.n.s
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