sábado, maio 30

Política hipócrita?

É assim que querem manter os médicos no SNS?
Ainda há algumas dezenas de médicos a trabalhar nos Cuidados de Saúde Primários com a categoria de Clínico Geral, sem a especialidade de Medicina Geral e Familiar (MGF).  São médicos que se encontram nesta situação há muitos anos, não tendo, por várias razões, efetuado a formação em exercício aquando da criação da especialidade de MGF, mas que têm uma vasta experiência como Médicos de Família.
Estes médicos, com contrato de trabalho em funções públicas, são remunerados por uma tabela mais baixa que os especialistas em MGF.  O escalão atual do vencimento destes colegas, com horário de 35 horas/semana, é de 1467,72 euro ilíquidos. Retirados os impostos auferem menos de 1000 euros/mês! Ou seja, trabalham por menos de seis euros líquidos por hora, tendo uma lista pelo menos de 1500 utentes...
Agora, a ACSS quer equipará-los ilegalmente a meros técnicos superiores e forçar o aumento do seu horário para 40h/semana e as respetivas listas para 1900 utentes, sem qualquer acréscimo de vencimento! Passariam a trabalhar por 5 euros/hora, valor líquido!
Com este microvencimento, os colegas preencheram o seu tempo livre com atividades no setor privado, pelo que lhes é impossível passar repentinamente de 35 para 40 horas/semana sem acréscimo de vencimento e sendo prejudicados pela obrigatoriedade de abandonar atividades privadas que desenvolvem há muitos anos.
É evidente que muitos destes médicos preferirão abandonar o SNS assim que possível, deixando ainda mais doentes sem Médico de Família! Depois não se admirem que os médicos estejam a emigrar!
Solicito ao Ministério da Saúde que respeite estes médicos e não lhes aumente compulsivamente o horário, ou que, no mínimo, lhes dê a opção entre a manutenção do horário atual ou aumento para as 40 horas com correspondente aumento da lista de utentes e do vencimento. Caso contrário, corre o risco de perder ainda mais médicos e de ficar com ainda mais cidadãos sem Médico de Família.
Tenho esperança no bom senso do Ministério da Saúde (MS). Se este apelo não for ouvido, então a afirmação do ministro da Saúde de que contrata todos os médicos disponíveis e que façam falta ao SNS revelar-se-á profundamente hipócrita.
JN, 29.05.2015, José Manuel Silva link

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