quarta-feira, julho 15

Super bactérias mais resistentes



O corte nas comparticipações e os doentes que deixam de conseguir pagar medicamentos, receitados e comparticipados pelos Estados, estão a contribuir para o aumento de ‘superbugs’, bactérias ultrarresistentes que sobrevivem cada vez mais a antibióticos. A relação é indirecta, mas foi concluída por um estudo publicado na semana passada pelo Lancet Infectious Diseases journal.(1)

O estudo, citado pela agência Bloomberg, explica que há uma tendência crescente para comprar medicamentos em locais alternativos – em resultado dos cortes nos gastos públicos. E neste tipo de locais é provável que os medicamentos tenham menor qualidade ou que as dosagens sejam as incorrectas.
Todos estes factores estão a contribuir para a propagação de agentes patogénicos resistentes inclusive a medicamentos. O estudo adianta, por outro lado, que os gastos extra - nomeadamente em privados - em saúde de cada país e o seu incremento podem ajudar a prever onde terão início estas resistências melhor do que factores como a pobreza ou o grau de saneamento básico. O estudo analisou os dados publicados pela Organização Mundial de Saúde sobre 47 países (23 em África, oito nas Américas do Norte e do Sul), três na Europa, oito no Médio Oriente e cinco na Ásia). E associa o aumento de dez pontos percentuais (p.p) dos gastos extra em saúde à maior resistência aos medicamentos (mais 3,2 p.p.). Portugal não está entre os países analisados. 
Diário Económico 15/07/2015

Neste mesmo jornal podemos ler uma outra notícia dando conta que Portugal aumentou despesas privadas de saúde: OCDE indica que cresceram 4% entre 2009 e 2013 (2) link. 
Cruzando informação, não será surpresa se o futuro nos vier mostrar que não só não conseguimos reduzir a vexatória taxa de infecção hospitalar actual, o dobro da media Europeia (3), como revelar uma maior mortalidade pela dominância de bactérias multirresistentes. 

(2) The share of out-of-pocket spending has increased in Portugal by around 5 percentage points in the last decade, reaching 28% in 2013. This is well above the average across OECD countries (19%) and also higher than in a number of other southern European countries such as Spain and Italy (both at 22%) but below the level of Greece (31%). It remains relatively high compared to other European countries such as France (7%) or the United Kingdom (10%).
(3) Em Portugal um em cada dez doentes contraiem uma infecção nas unidades de saúde, taxa de prevalência de 10,6%, quando a taxa global de prevalência de infecções hospitalares na União Europeia (UE) é de 5,7%.
(1) Findings Our sample included 47 countries (23 in Africa, eight in the Americas, three in Europe, eight in the Middle East, three in southeast Asia, and two in the western Pacifi c). Out-of-pocket health expenditures were the only factor signifi cantly associated with antimicrobial resistance. A ten point increase in the percentage of health expenditures that were out-of-pocket was associated with a 3·2 percentage point increase in resistant isolates (95% CI 1·17–5·15; p=0·002). This association was driven by countries requiring copayments for drugs in the public health sector. Of these countries, moving from the 20th to 80th percentile of out-of-pocket health expenditures was associated with an increase in resistant bacterial isolates from 17·76% (95% CI 12·54–22·97) to 36·27% (31·16–41·38).
Interpretation Out-of-pocket health expenditures were strongly correlated with antimicrobial resistance in low-income and middle-income countries. This relation was driven by countries that require copayments on drugs in the public sector. Our data suggest cost-sharing of antimicrobials in the public sector might drive demand to the private sector in which supply-side incentives to overprescribe are probably heightened and quality assurance less standardised.
Out-of-pocket health expenditures and antimicrobial resistance in low-income and middle-income countries: an economic analysis thelancet, July 9, 2015
Tavisto

Etiquetas: