quarta-feira, julho 8

Jorge Simões vs Leal da Costa


É curioso verificar que nestas duas entrevistas link link  nenhum dos entrevistados levanta uma questão central para a sobrevivência do SNS e para o desenvolvimento de um sector privado autónomo e não parasitário, a necessidade de separar sectores. É notório que ambos evitam beliscar os interesses dos grupos económicos na Saúde, ignorando falar sobre o futuro das PPP (hoje, à excepção do grupo Mello, na mão de grupos económicos internacionais), ou da dificuldade em fixar médicos nas zonas periféricas pois permanecem nos grandes centros a trabalhar nos privados realizando trabalho temporário no SNS através de empresas de prestação de serviços.

Ambos ignoram a agressividade crescente do sector privado na Saúde recorrendo mesmo a métodos publicitários que infringem o Código Deontológico da Ordem dos Médicos que no seu artigo 11 estabelece: na divulgação da sua atividade o médico deve abster-se de propaganda e de autopromoção. É hoje corrente ver-se fotografias de médicos, muitos deles com funções de direcção no SNS, exibidas em cartazes na via pública ou em páginas de corpo inteiro em jornais, a propagandear este ou aquele hospital privado. E não só a Ordem dos Médicos faz vista grossa desta grosseira infracção do Código Deontológico, como o Ministério da Saúde evita fazer cumprir o legislado sobre incompatibilidades público/privado na actividade dos profissionais do SNS.
Afirmam que a componente pública do orçamento para a Saúde não pode aumentar, pelo que há que prosseguir na política do corte nas gorduras do SNS que, para ambos, ainda se acumula nos hospitais do SNS. Ignorando, por exemplo, que este sector tem como encargo adicional suportar as despesas com os doentes dos subsistemas públicos, frequentemente as situações mais graves que não encontram solução no privado, e não têm mecanismos legais nem capacidade financeira para contrariar a saída dos profissionais mais qualificados para o sector privado.
Se de Leal da Costa pouco havia a esperar, de Jorge Simões esperar-se-ia um pouco mais na abordagem dos problemas que o SNS hoje enfrenta. Se não na essência pelo menos na forma, não esquecendo António Arnault quando cita Albino Aroso e Correia de Campos como exemplos de estadistas políticos na área da Saúde. 
Tavisto

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