domingo, junho 28

Estamos com a Grécia

Grécia: conheça a comunidade clínica que respondeu ao colapso da saúde estatal 
No centro de Atenas, a comunidade policlínica e farmacológica já prestou nos últimos três anos assistência gratuita a mais de 7.000 pessoas que ficaram sem acesso aos cuidados de saúde, na sequência das políticas de austeridade. Constantine Kokossis, 65 anos, é um dos voluntários que trabalha desde o início nesta instituição, onde assegura o secretariado e assuntos administrativos. À entrada, três mulheres aguardam a vez para os dois dentistas de serviço. Nas paredes, cartazes de solidariedade em vários idiomas. O telefone toca incessantemente e Kokossis tentar solucionar diversos problemas burocráticos. "Esta comunidade policlínica integra um conjunto de médicos, dentistas, farmacêuticos e outros voluntários, todos sem qualquer remuneração. Não somos uma ONG nem garantimos apoios periódicos, quer do Estado quer de outras organizações internacionais", assinala. As doações provêm da Grécia, e do estrangeiro, através de pessoas ou instituições privadas. No total, 80 pessoas entre médicos, incluindo 30 dentistas, farmacêuticos e pessoal auxiliar garantem o funcionamento diário da policlínica, que disponibiliza várias especialidades médicas e estabelece alguns protocolos, em particular na área da oftalmologia, também para consultas gratuitas. "Recebemos pessoas de toda a Grécia e sem distinguir entre gregos ou imigrantes, mesmo que tenham sido detidos ou sejam indocumentados. Desde 2012 já assistimos 7.000 pessoas". A instituição funciona no terceiro andar de um prédio não longe da praça Omonia, conhecia pela sua concentração de imigrantes, que desde janeiro também passaram a ter acesso ao serviço nacional de saúde após decisão do Syriza, o partido da esquerda radical no poder. "Logo após o início do mandato do Governo em janeiro foi decidido que todas as pessoas devem ter acesso aos serviços de saúde, sem discriminação entre gregos e estrangeiros. Tentaram restabelecer o serviço mas por razões técnicas falta dinheiro, entre outros problemas. Há um atraso, e por isso é necessário manter em funcionamento estas unidades policlínicas dirigidas à comunidade". No entanto, o aumento exponencial da imigração em direção à Grécia desde o início de 2015 agravou o problema. "Verificou-se um forte aumento na busca de cuidados de saúde primários. E nós somos a primeira instância a que recorrem", revela. "No passado isso não acontecia, porque a assistência médica estatal estava assegurada, mas foi entretanto desmantelada". A Comunidade policlínica e farmacológica de Atenas está integrada numa rede mais ampla designada "Solidariedade para todos" (Solidarity4all), que no início forneceu as verbas necessárias para iniciar o projeto."Em 2012 foram os deputados do Syriza, então na oposição, que ofereceram parte do seu salário para ajudar neste esforço", indica Kokossis. A Policlínica garante ainda algum apoio monetário através de doadores particulares, decisivo após o colapso do Serviço nacional de saúde, "talvez a maior catástrofe em toda a história deste setor após serem aplicados cortes de 40%". O responsável da instituição calcula que 2,4 milhões de pessoas, entre desempregados e migrantes, dependem destas instituições para os cuidados de saúde primários. E a situação agravou-se após as pessoas com mais de três meses sem trabalho terem sido impedidas de acesso ao sistema de saúde estatal. À semelhança de muitos imigrantes (no total cerca de um milhão, 10 por cento da população do país), na maioria desempregados ou envolvidos na "economia paralela". A aquisição de medicamentos é outro problema central desta policlínica, mas que tem sido minimizado pela "solidariedade dos cidadãos", como refere. "Todas as manhãs vêm pessoas entregar-nos que os seus medicamentos por já não precisarem ou por terem alterado a prescrição. Cerca de 90% dos medicamentos são garantidos desta forma". No espaço alugado pela instituição, e para além da sala dos dentistas e da reservada aos medicamentos, funciona uma sala de ginecologia "com material vindo da Alemanha", uma sala para pequenas cirurgias e outra para apoio psicológico. "Há um grande número de pessoas que necessita de apoio psicológico. Somos um povo mediterrânico do ponto de vista sentimental e psicológico. Desde o início da crise é inacreditável o aumento no número de suicídios. Não havia números, antes eram muito reduzidos, agora são milhares de casos registados", assinala Constantine Kokossis. "As instituições psiquiátricas foram o primeiro setor afetado pelos cortes no orçamento para a saúde", acrescenta, ao justificar a atenção dedicada a esta especialidade clínica. E concluiu com uma certeza: "Perante a atual situação, esta policlínica vai continuar a funcionar num futuro previsível". 
Lusa 26 Jun, 2015.……………………………..
Face a este cenário, os parceiros europeus continuam a pressionar o governo Grego para que aceite e prossiga uma política de austeridade visando mais cortes em salários e pensões. Fez muito bem o governo de Tsipras em submeter a referendo um programa que, a ser aceite, só iria acrescentar miséria à miséria. Na história de todos os povos há momentos destes, tempos em que é preciso saber dizer: É melhor ser Rainha por um dia, do que duquesa toda a vida. 
Tavisto

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