domingo, novembro 29

SNS, recursos humanos, área chave

... Mas muita gente saiu do SNS… 
A máquina pública não funciona sem pessoas. E o ministério que mais reduziu foi o Ministério da Saúde, que foi muito para além das exigências da troika, que impôs que Portugal reduzisse, em 3 anos, cerca de 550 milhões de euros. O ministro Paulo Macedo resolveu reduzir 1.500 milhões de euros, o que é muito dinheiro. Não é possível manter os serviços de saúde com a qualidade que existia dantes com uma redução tão drástica. Isto teve reflexos não só nas remunerações como também no número de pessoas no SNS, teve reflexos no acesso a terapêuticas, nos equipamentos… No conjunto, Portugal acabou por manter um número elevado de médicos. Aliás, se olharmos para os números da OCDE, e este é um dado importante que ainda pouca gente realçou, Portugal tem 4,3 médicos por mil habitantes. Somos o quarto país da OCDE com mais médicos por mil habitantes. Temos excesso de médicos para a população que temos. A média dos países da OCDE é 3,3 médicos por habitante. E funcionam bem, têm médicos suficientes. O problema é que no SNS não temos 4,3 médicos por mil habitantes. 
Quantos médicos temos no SNS? 
Neste momento, trabalham no SNS cerca de 26 mil médicos, o que se traduz num valor entre 2,5 e 2,6 médicos por mil habitantes, o que é inferior à média da OCDE. Se este fosse o nosso número real, estaríamos na cauda dos países europeus. Quando se fala de deficiências a nível do serviço de saúde e da falta de médicos, fala-se sempre do SNS, nunca em nenhum momento foi referido o setor privado ou social. No SNS, temos falta de pessoas. (2. Data refer to all doctors licensed to practice (resulting in a large over-estimation of the number of practising doctors in Portugal, of around 30%). 
O próximo Governo tem de ter ação para reverter esta tendência negativa? 
Tem de ter. Eu percebo que tenha havido contenção orçamental, e que exista um memorando que Portugal tenha de fazer alguns ajustamentos. Acho que toda a gente percebe. O Governo de Passos Coelho foi muito para além disso. Só na saúde, foi além quase mais de mil milhões de euros. O que Portugal precisa, na minha opinião, e o que acho que António Costa está a defender, é pagar a dívida, e ter alguma contenção, mas não tanta, e pagar mais devagar. Tem de haver algumas regras no que diz respeito aos sistemas bancários. A banca é a responsável por todo este problema. As pessoas viviam acima das suas possibilidades porque a banca e os sucessivos executivos promoveram o endividamento. A banca emprestava dinheiro para tudo e as pessoas tinham acesso fácil ao dinheiro. As dívidas foram acumulando e chegou a um ponto em que os portugueses devem milhares de milhões de euros à banca. Isto começou quando as pessoas deixaram de ter dinhieiro para pagar e a banca começou a ficar com as casas, os terrenos, os carros…o sistema entrou em crise. Tem de haver maior investimento nas pessoas. Uma das sugestões que temos deixado é que a percentagem do PIB que é gasto na saúde passe dos 5,9% para 6,5%, que é a média da OCDE. Significaria aumentar mais 750 milhões de euros. É evidente que quando votamos num partido político, devíamos perceber não as medidas, que são muito vagas, mas sim o que é o dinheiro disponível, que é mais ou menos constante, e saber exatamente o que é que os candidatos pretendem fazer em relação a cada setor e quanto do PIB é que vão lá gastar. Tem de haver um equilíbrio, nem tudo pode ser muito bom. O novo Governo vai ter de investir mais nas áreas essenciais, até porque só investindo nas pessoas é que o país sai da crise em que se encontra. 
Porto 24, entrevista Miguel Guimarães, Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos link 
Tem razão MG sobre os dados de informação da OCDE: 2. Data refer to all doctors licensed to practice (resulting in a large over-estimation of the number of practising doctors in Portugal, of around 30%).link 
O bastonário da OM defende a redução «gradual» para 1200 a 1300 novos médicos por ano: «Estamos a formar médicos para o desemprego e emigração e o excesso de médicos mercantiliza a saúde». 
ACF, considera imperativo estratégico tornar o SNS competitivo e padrão, capaz de reter médicos e enfermeiros de qualidade (ACF, na recente tese de doutouramento prefere a relação de cooperação publico/privado).
O Programa do novo Governo promete mais meios humanos para o SNS e a garantia de médico de família a todos os portugueses.
Tarefa ciclóptica atendendo às necessidades de reposição dos níveis salariais e descongelamento de carreiras.
“É uma equipa de luxo”. Elogio do bastonário da Ordem dos Médicos à nova equipa da Saúde.
Veremos, dentro em breve, como vão os elogios.

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