domingo, fevereiro 21

Sobrinho Simões, coordenador do CNCAM

“Vamos curar os cancros com os nossos próprios sistemas” 
Eleito pelos seus pares, o patologista mais influente do mundo, Manuel Sobrinho Simões, presidente do Ipatimup – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, foi esta semana designado pelo ministro da Saúde coordenador da equipa do Conselho Nacional dos Centros Académicos de Medicina. link 
 Qual é o objetivo dos Centros Académicos? 
Juntar os hospitais universitários com as Faculdades de Medicina a que estão ligados. O movimento começou em Lisboa há uns anos, mas nunca teve orçamento. O que o novo ministro da Saúde me veio dizer agora foi que se associou ao Ministro da Ciência e Ensino Superior para darem substância ao projeto. 
Implica colaboração entre as diferentes instituições? 
 Sim. É dificílimo termos em Portugal bons exemplos de parcerias público-públicas. Os institutos de investigação são do Ministério da Ciência. As faculdades também, mas é extraordinariamente difícil fazer uma parceria entre os institutos e as faculdades. 
 Porquê? 
Não temos tradição de colaboração e associação. Somos minifundiários. Se um hospital público não consegue fazer o serviço todo, o gestor abre um concurso e contrata um privado ao preço mais barato. Num país civilizado, esse hospital público vai falar com outro hospital público excedentário nessas áreas e faz uma parceria. 
 Porque não acontece isso em Portugal? 
A tutela também não introduz na equação a qualidade de vida do doente e da análise. Introduz o preço. Os privados fazem preços imbatíveis. Só que não estão presentes no hospital, não ensinam alunos, não formam médicos e não têm o mesmo controlo de qualidade. 
 É urgente uma revolução de mentalidades? 
É isso. Se há área onde se pode poupar muito com atitudes destas, é na saúde. …………………………… 
Expresso 20/02/2016 
 Sobrinho Simões tem pela frente um trabalho hercúleo, encontrar o engenho e a arte de juntar os hospitais universitários com as Faculdades de Medicina a que estão ligados. A verdade é que, coabitando o mesmo espaço, comportam-se como famílias desavindas. Nas áreas clínicas, chega-se ao insólito de haver serviços de acção médica em que há dois directores: um para a área hospitalar outro para o ensino. Ou, não menos caricato, haver duas redes informáticas paralelas: uma delas exclusiva da faculdade, com acesso a informação científica diversa, só acessível aos seus membros. 
É tempo de introduzir uma nova cultura nos hospitais universitários, pondo fim à dicotomia actividade assistencial e de ensino/investigação. Estas funções devem ser inerentes a todos os profissionais que neles trabalha e a sua aceitação condição para que neles possam ingressar. 
 Tavisto

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