PPP da Saúde
Parcerias
público-privadas em Saúde. Avivemos a memória.
A constituição de parcerias público-privadas
insere-se na filosofia político-económica designada por “New Public
Management”. Tendo como axioma o dogma de que o Privado faz sempre melhor que o
Público, preconiza a privatização gradual das funções sociais do Estado
(Educação, Saúde e Segurança Social) confinando este ao seu último reduto:
assegurar as funções de Soberania, Justiça e Segurança da Ordem Pública.
De cariz neoliberal, com origem na Nova Direita
Inglesa dos anos 90, este pensamento impregnou a Social-democracia Europeia
através das correntes de pensamento blairistas (Tony Blair). Na área da Saúde
teve especiais implicações no Reino Unido onde 101 dos 135 novos hospitais
consignados entre 1997 e 2009 foram construídos sob a forma de parceria público-privada. Sobre esta experiencia Allyson Pollock, Professora e Investigadora em
Saúde Pública na Universidade Queen Mary em Londres, na sessão comemorativa dos
25 anos da Associação Portuguesa de Economia da Saúde, referiu: os bancos estão
a equilibrar as suas contas com o NHS devido aos grandes dividendos, até os
conservadores consideraram as PFI uma inaceitável face do capitalismo.
Mais papistas que o Papa, no nosso País o modelo
PPP na Saúde prevê não só a conceção, construção, financiamento e conservação
do edifício (contrato a 30 anos), mas também a prestação de cuidados de saúde
pela entidade privada (contrato a 10 anos). É sabido que o rigoroso cumprimento
dos contratos, particularmente a área clínica, exige do supervisor público
preparação específica e redobrada atenção, tendo em conta a difícil
compatibilização do valor Saúde e a perspetiva de maximização do lucro inerente
à atividade dos grupos económicos privados. A este propósito lembra-se a saga
do hospital Amadora Sintra e as peripécias protagonizadas pela entidade gestora
e os responsáveis políticos de então, num complexo e arrastado conflito
jurídico, altamente lesivo para o Estado, em resultado da entrega do hospital à
gestão privada do Grupo Mello.
Porém, esta dolorosa e dispendiosa experiência
de gestão da coisa pública por privados, não demoveu Correia de Campos a
arrancar em 2001 com o processo PPP. Para o efeito foi criada uma estrutura de
missão “Parcerias.Saúde” que, liderada por Jorge Simões, teve a tarefa de
conceber o modelo de parceria a ser aplicado a cinco hospitais: Cascais,
Loures, Braga, Sintra e Vila Franca de Xira. Apresentado a poucos dias das
eleições legislativas, que levariam Durão Barroso a render António Guterres à
frente de um novo governo, Correia de Campos afirmou então que a continuidade
do modelo de PPP português estaria garantida quer estivesse o PS ou o PSD no
Governo uma vez que ambos contemplavam esta forma de gestão no seu programa.
A profecia mostrou-se certa pois não só foram
garantidas as parecerias em curso, como Luís Filipe Pereira anunciou uma nova
vaga de hospitais a lançar segundo o novo modelo: Évora, Vila Nova de Gaia,
Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Algarve e Guarda, ignorando, entre outros
pareceres, a Auditoria do Tribunal de Contas. Extremamente crítico, o
documento sublinhava o facto de o Estado ter optado por um modelo de parceria
complexo e sem paralelo a nível internacional e por, apesar de não ter
experiência nesta matéria, não ter avançado primeiro com um projecto-piloto.
Este frenesim edificador de hospitais PPP e de alienação do setor público, só
foi travado pela crise financeira de 2008 e o subsequente endividamento da
Nação por arrasto.
A decisão política de avançar com o projeto PPP
em Saúde não resultou pois das dificuldades das finanças públicas uma vez que
antecedeu em largos anos a mais recente crise financeira. Foi sim uma opção
ideológica, de cariz neoliberal, inspirada na corrente de pensamento blairista,
com consequências nefastas para o interesse público, situação bem analisada por
Tony Judt (historiador e pensador social-democrata, recentemente falecido) no
seu livro “Ill Fares The Land”.
Tavisto
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