Vai à urgência?
Vão pedir-lhe que, para a próxima, vá ao centro de saúde.
Projecto-piloto arranca em vários centros de saúde e hospitais do Norte, onde a taxa de cobertura de médicos de família é de quase 100%.
Vários centros de saúde e dois hospitais do Norte do país vão avançar em Abril com um projecto-piloto para tentar evitar a procura desajustada dos serviços de urgência hospitalares que em Portugal parece ser um problema sem remédio. Em 2016, e ao contrário do que pretendia a tutela, a procura dos serviços de urgência cresceu 3%, totalizando 6,4 milhões de atendimentos.
A partir de Abril, os agrupamentos de centros de saúde (ACES) do Porto Ocidental, Matosinhos, Gondomar, Esposende e Barcelos, o Centro Hospitalar do Porto e o hospital de Barcelos integrarão este projecto-piloto, anunciou nesta sexta-feira à tarde, na Comissão Parlamentar de Saúde, o ministro Adalberto Campos Fernandes.
Como é que vai ser possível convencer os utentes a ir aos centros de saúde em vez de recorrerem às urgências? Os centros de saúde envolvidos vão ter imagiologia, análises clínicas, saúde oral e visual e psicologia, ou seja, terão “o nível máximo de resolutibilidade” para poder dar resposta a situações agudas, explicou o ministro. O que se irá fazer é, em traços gerais, aproveitar a oportunidade da presença dos utentes triados como não urgentes nos serviços hospitalares para lhes dizer: "Numa próxima oportunidade, não se esqueça de que tem o seu centro de saúde a funcionar das 8 da manhã às 8 da noite”, especificou o governante.
Os esclarecimentos foram feitos por Adalberto Campos Fernandes, durante uma audição no Parlamento a pedido do PSD, que quis que ele esclarecesse uma afirmação feita há semanas. link
Ao falar deste projecto-piloto, o governante terá dito que, “de segunda a sexta-feira, entre as 08h00 e as 20h00, os doentes não poderão ir à urgência a não ser através dos bombeiros, do INEM ou da Linha Saúde 24”.
“Não passa pela cabeça de ninguém que se vá impedir o acesso aos serviços de urgência. É fácil fazer demagogia e criar alarme social”, ripostou o ministro, notando que o que se pretende é fazer "pedagogia" e, “pouco a pouco, alterar o paradigma nacional” que nos deixa à cabeça da lista dos países da OCDE onde a procura dos serviços de urgência é mais elevada.
Como? “A ideia é investir na gestão dos percursos individuais de saúde. Significa criar condições, a prazo, para incentivar modelos de procura de cuidados diferentes, nunca restringindo nada a ninguém. Se [um utente] quiser entrar no estudo é sinalizado. É-lhe dito que passa a ter médico de família e outras respostas nos centros de saúde”, especificou aos jornalistas, no final da audição.
A escolha do Norte para arrancar com este tipo de projecto compreende-se. Os utentes da região Norte têm uma cobertura muito elevada, quase 100%, de médicos de família, acrescentou. Se este projecto – que está a ser ultimado pela Coordenação do Programa de Literacia e Autocuidados liderada por Constantino Sakellarides – funcionar, pode valer a pena alargar e experiência ao resto do país, admitiu ainda o ministro. A avaliação do projecto vai ser feita em Outubro, altura em que um eventual alargamento pode ser decidido.
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Jornal Publico, Alexandra Campos, 17.02.17 link
Finalmente alguém percebeu que os responsáveis pelas ditas falsas urgências hospitalares não são os doentes, mas o sistema. Com Centros de Saúde a funcionar das 8 às 8h e minimamente equipados para poder diagnosticar/tratar descompensações agudas de doenças crónicas, vai-se no bom caminho para resolver esta pecha do Serviço Nacional de Saúde.
Tavisto
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