Política ziguezague
Ministério desce preço pago a tarefeiros mas mantém excepções
Nos primeiros três meses do ano o SNS gastou
26,5 milhões de euros com prestações de serviços, mais 3,1 milhões que no
período homólogo. Há duas semanas governo impôs a redução trimestral de 35%
neste tipo de despesa.
A despesa com as prestações de serviços continua
a subir. Nos primeiros três meses do ano os custos estavam em 26,5 milhões de
euros, mais 3,1 milhões que no período homólogo. Uma tendência que vai no
sentido contrário da intenção do governo que impôs uma redução trimestral de
35% na despesa com as prestações de serviços médicos e que pretende compensar o
aumento do valor pago pelas horas extraordinárias. Entra hoje em vigor um
despacho do Ministério da Saúde que determina a redução do preço/hora a pagar
aos médicos tarefeiros, mas com algumas excepções.
De acordo
com os dados no site da Administração Central do Sistema de Saúde, foi março
que registou a despesa mais elevada: 10 milhões de euros. Os custos do primeiro
trimestre representam 3,68% do total das despesas com pessoal, um aumento de 0.3
pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2016, ano em que as
prestações de serviço custaram perto de 100 milhões de euros ao SNS, o valor
mais alto dos últimos quatro anos.
A
intenção do governo será inverter a tendência e ao mesmo tempo reafectar o
dinheiro para o aumento do valor das horas extraordinárias. O que levou a que
há duas semanas tivesse imposto uma redução trimestral de 35% na despesa com as
prestações de serviço médicas.
Alexandre
Loureço, presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, afirma que
a falta de autonomia dos hospitais acaba por levar a um comportamento inverso.
"Na última semana foram autorizadas mais de 500 contratações de
substituição de profissionais que não estavam a ser autorizadas pelas finanças.
Havia atrasos de meses e a solução foi usar as prestações de serviço. É preciso
que as finanças percebam que a falta de autonomia tem consequências. Há vontade
de reduzir as prestações, mas esta limitação leva ao comportamento
inverso", diz, voltando a defender a criação de equipas fixas nas
urgências e mais contratações para os quadros dos hospitais. A partir de hoje os valores máximos a pagar por
hora aos médicos tarefeiros baixa, tendo como referência "o valor hora
mais elevado previsto na tabela remuneratória aplicável aos trabalhadores
integrados na carreira médica". Passam a ser 22 euros/hora para médicos
não especialistas - antes eram 25 euros - e 26 euros/hora para especialistas,
que até agora podiam receber 30 euros. Mas é nas excepções que a diferença de valores é mais notória em relação à anterior lei,
que permitia que os valores por hora pudessem duplicar até aos 50 e 60 euros em
situações em que o funcionamento dos serviços estivesse em risco. A ressalva
mantém-se, mas o aumento não poderá ir além dos 50%. Ou seja, um médico não
especialistas poderá receber até 33 euros/hora e um especialista 39. A nova
legislação introduz uma outra excepção, esta para as zonas carenciadas e apenas
para médicos especialistas. Nestes casos, o valor a pagar por hora pode ser de
29.21 euros e pode aumentar até um máximo de 43,81 euros.
O
despacho refere ainda que os médicos prestadores que trabalhem no SNS têm de
declarar que não estão dispensados do trabalho nocturno e das urgências. No caso
dos contratos com as empresas, estes têm de ter cláusulas que definam
indemnizações a pagar no caso de não cumprirem o número de médicos que
prometeram. "O ministério ainda não percebeu que sem condições de trabalho
aceitáveis, as pessoas preferem trabalhar noutros sítios. Os números emigração
e saída para os privados são preocupantes", começa por dizer o bastonário
dos médicos, Miguel
Guimarães. Sobre a redução do preço hora, "o hospital de Vila Real tem uma
deficiência muito grande de anestesistas. Tem de contratar mais de dez e muitos
são de fora. Têm de ver se os valores compensam. Em locais como este o problema
pode agravar-se de forma aguda. Vamos ver o que vai acontecer".
Alexandre
Valentim Lourenço, presidente da secção sul da Ordem dos Médicos, diz que há o
risco dos hospitais perderem os melhores médicos que conseguem contratar
através de prestações de serviço. E diz que falta uma segunda medida a
acompanhar esta: "Nos serviços carenciados devia haver uma exceção para
que os médicos pudessem ter remunerações semelhantes aos contratados externos.
Haveria menos contratações e os médicos da casa estariam mais satisfeitos".
Já Jorge
Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos, teme que "os
hospitais periféricos possam vir a sofrer ainda mais" com falta de
médicos. "Não queremos que paguem menos aos prestadores, queremos que
paguem mais aos médicos do quadro", diz. Mário Jorge Neves, da Federação
Nacional dos Médicos, afirma que "a medida é curta e não resolve outra que
é determinante: a valorização e rentabilização dos que estão nos serviços. Têm
de abrir concursos para suprir as lacunas graves nos hospitais".
DN 20/06/2017
Numa política de ziguezague face aos mais
diversos interesses, o ministro da Saúde, sem chama, vai procurando equilibrar
o barco. Enquanto isso, o Serviço Nacional de Saúde continua a definhar. A
permanecermos assim, chegará o dia em que “trovoadas secas” e “árvores cindidas
por raios” servirão de bode expiatório para justificar o caos.
Tavisto
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