Mistificação liberal pacotilha
O sector da saúde deve crescer apostando em nichos de excelência, diz o
Fórum para a Competitividade.
A saúde é um dos sectores que contribuem para dinamizar o crescimento
económico, reconhece o Fórum para a Competitividade. Um dos catalisadores desse
crescimento é o interesse pelo desenvolvimento que a área da oncologia tem tido
em Portugal — a valência hospitalar e científica onde o nível de excelência da
medicina nacional é mais notório. Por isso, os especialistas do sector da saúde
admitem que seria desejável que Portugal conseguisse captar mais investimento
para o desenvolvimento científico na área da oncologia, porque isso
contribuiria para acelerar o crescimento económico português. Eis a avaliação
sumária feita pelo grupo de trabalho da Saúde, do Fórum para a Competitividade,
coordenado por Nuno Sousa Pereira, diretor do Centro de Economia e Finanças da
Universidade do Porto.
Sousa Pereira defende que o investimento na saúde em Portugal deve de ser
canalizado para nichos e valências da medicina em que o país é reconhecidamente
bom a nível internacional, porque isso dará um contributo significativo ao
crescimento da atividade económica. Guilherme Magalhães, administrador da José
de Mello Saúde refere, a propósito, que a medicina oncológica portuguesa
atingiu um patamar de excelência reconhecido a nível internacional.
Segundo o coordenador do grupo de
trabalho da Saúde do Fórum para a Competitividade, um exemplo unânime no sector
da oncologia, “é a qualidade reconhecida ao Instituto de Investigação e Inovação em Saúde,
mas também ao Hospital de São João, no Porto”. “Como os recursos são escassos e
o país tem uma dimensão reduzida, é preciso concentrar todos os meios
disponíveis nas áreas da medicina mais desenvolvidas e que têm maior
reconhecimento internacional”, refere Sousa Pereira, defendendo que “podemos
atrair investimento para a oncologia, porque essa é uma das valências
hospitalares em que a medicina portuguesa registou maiores avanços”.
A aposta em nichos de excelência terá a
dupla vantagem de alertar para oportunidades de investimento em Portugal — o
que é útil para vários potenciais interessados, desde farmacêuticas, às
empresas que produzem tecnologia específica, como laboratórios, equipamentos
técnicos e infraestruturas específicas (iluminação, ar condicionado, blocos
operatórios, etc.) — e de permitir a triagem de eventuais financiadores. As
empresas da área da saúde representam um Valor Acrescentado Bruto de €8 mil
milhões
O relatório sectorial do grupo de
trabalho da Saúde do Fórum para a Competitividade refere que este “é um dos
sectores onde haverá maior margem para obter ganhos de eficiência que permitam
libertar recursos públicos e privados para outras necessidades”. Guilherme
Magalhães recorda que nos orçamentos as verbas sobre a saúde são inscritas como
despesas, o que torna qualquer melhoria de eficiência operacional muito
relevante porque tende a reduzir custos.
Apesar da dimensão reduzida da economia
portuguesa, “as empresas da área da saúde representam um Valor Acrescentado
Bruto de €8 mil milhões”, evidenciando um “crescimento sustentado da capacidade
exportadora”, refere o relatório.
Entre as medidas propostas pelo grupo de
trabalho da Saúde do Fórum para a Competitividade está “a necessidade de se
efetuar uma avaliação económica de todas as tecnologias inovadoras no domínio
da saúde”.
Considera igualmente que é preciso
“identificar as melhores práticas clínicas e fomentar a sua difusão no Serviço
Nacional de Saúde (SNS), além de tornar o SNS “um laboratório vivo de
experimentação, onde investigadores e empresas possam colaborar no
desenvolvimento de novas tecnologias e testar a sua implementação”.
Para apoiar a internacionalização das
empresas do sector da saúda é sugerida a “criação de equipas especializadas no
interior da AICEP, em colaboração com associações empresariais”. Outra medida
proposta — que terá relevância imediata —, é “garantir pagamentos atempados às
empresas que fornecem bens e serviços, permitindo às empresas credoras abaterem
dívidas às suas obrigações fiscais e contributivas”.
Importante para este sector é “apoiar as
iniciativas públicas e privadas que facilitem a apresentação de uma oferta
portuguesa de turismo de saúde”, embora Sousa Pereira reconheça que a
percentagem dos potenciais utentes de turismo de saúde será sempre diminuta ou
residual. Mesmo com o aumento do turismo sénior, e com o crescimento do número
de estrangeiros que compram casa em Portugal, “o turismo de saúde não
conseguirá ter uma expressão significativa”, sendo sensível a alterações conjunturais
em determinadas economias africanas, como a de Angola, em que a queda das
receitas do petróleo “teve consequências imediatas na redução do número de
angolanos que se deslocaram a Portugal para realizarem atos médicos e
hospitalares”, refere Sousa Pereira. João Palma-Ferreira.
Como aumentar a eficiência
• Separar funções de financiamento,
regulação
e prestação de
cuidados no sector público, assegurando que o Sistema Nacional de Saúde garante
que nenhum cidadão é impedido de aceder a cuidados de saúde por questões
financeiras
• Definir orçamentos plurianuais que
facilitam
a tomada de decisões
estratégicas consentâneas com as prioridades globais do sistema
• Reforçar papel da rede de cuidados
primários e alterar
a estrutura de
incentivos, nomeadamente na remuneração dos cuidados primários, penalizando
utentes pela utilização indevida de cuidados e introduzir taxas diferenciadas
pelos serviços prestadores
de cuidados primários
• Considerar as despesas
com seguros de saúde privados como
dedução
à matéria coletável,
tal
como acontece com as
contribuições para a ADSE.
expresso 27.05.17
É comovedor ver a preocupação da nação liberal com a competitividade do sector da saúde (público e privado). A persistente defesa da redução do Estado às funções de financiador do sistema. Certamente em suporte dos negócios privados. E, já agora, porque não, a despesa com a aquisição de seguros dedutível à matéria colectável.
A competitividade do sector da saúde atingirá o estado de perfeição com a criação de um arquipélago de nichos de excelência para os utentes que puderem pagar (acesso golden). Restando aos demais o acesso às unidades públicas degradadas, à mingua do financiamento público. Assim o sistema acabado, resta-me a curiosidade em saber para que servirá então a tão apregoada livre escolha dos utentes.
Drfeelgood
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