sábado, dezembro 23

Neutralidade na Saúde

Só ao fim de quatro dias é que os vizinhos do bairro do Outeiro, no Porto, estranharam a luz e a televisão sempre ligadas, a roupa por apanhar no estendal e a ausência da mulher. Ana morreu no hospital um dia depois de ter sido encontrada. O filho ainda está internado. Tinha, repito, 85 anos, vivia com o filho deficiente profundo de 57, e, pelos vistos, não era seguida, vigiada ou apoiada por qualquer instituição do Estado ou similar que, por exemplo, telefonasse lá para casa para saber se estava tudo bem. Não estava. E uma morte podia ter sido evitada. Bastava que alguém se preocupasse ou que tivesse essa obrigação. Há programas e campanhas para tratar e seguir os idosos a partir de casa com a ajuda da internet que, ao contrário do que se possa pensar, não é barata nem sequer chega a todos. A neutralidade na Saúde é de facto um mito. A qualidade de um país vê-se na forma como trata os mais velhos e a nossa está à vista.
Rui Gustavo – Expresso curto 19/12/2017
A neutralidade na Saúde é mesmo um mito, um mito que nos tentam impingir embrulhado no celofane do pacto para a Saúde.
Tavisto

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