domingo, janeiro 21

ADSE, perverso e injusto

Depois de, em 2014, o sistema ter alcançado um saldo inédito de 200 milhões de euros (resultado do aumento dos descontos dos trabalhadores e aposentados, que passou de 2,5% para 3,5%), de ano para ano a almofada tem vindo a encolher. Os dados solicitados pelo Público à ADSE mostram que, em 2016, o saldo de tesouraria era de 120 milhões de euros; no ano passado, terá ficado em menos de metade (58,5 milhões de euros) e, em 2018, entrará em terreno negativo, com a despesa a superar a receita em 12,3 milhões de euros. 
Em 2017, a despesa com cuidados de saúde ascendeu a 551,2 milhões de euros. À volta de 70% deste valor, um pouco mais de 394 milhões de euros, destinou-se aos hospitais, clínicas e laboratórios que têm convenção com a ADSE. Os restantes 149,6 milhões dizem respeito aos médicos fora da rede e 7,4 milhões serviram para pagar medicamentos. Este perfil de despesa, associado ao modelo de financiamento que assenta quase em exclusivo no desconto de 3,5% sobre o salário ou a pensão do beneficiário titular, levou a ADSE a apresentar aos privados uma nova tabela de preços que permitirá uma poupança de 42,4 milhões de euros ao sistema e aos próprios beneficiários com consultas, análises, exames, cirurgias e transporte não urgente de doentes. 
O reverso da medalha é que as unidades de saúde privadas que agora fazem parte da rede da ADSE verão a sua facturação reduzir-se em cerca de 30 milhões de euros. 
O rombo é relativamente maior nos hospitais dos grandes grupos privados associados da APHP, que no ano passado apresentaram uma factura de 292,5 milhões de euros (quase 64% do total) à ADSE pelos cuidados prestados aos beneficiários. 
São estas perdas que têm levado a APHP a insurgir-se contra a proposta apresentada pelo conselho directivo da ADSE e a ameaçar deixar de fazer parte da rede. Porém, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, já veio pôr água na fervura lembrando que ainda há tempo para se conseguir um bom acordo - o prazo dado é o final desta semana. “Nem os privados vão deixar de prestar cuidados aos cidadãos, nem a ADSE vai ser tão rígida para não ser capaz de estabelecer uma posição equilibrada", afirmou na sexta-feira. 
JP 21.01.18 link 
 Nada que não tenha sido previsto no SaudeSA. 
Aí temos os últimos desenvolvimentos de um sistema perverso e injusto: Hiperconsumo de cuidados para alguns, oneroso para os funcionários públicos (que não passam a vida nos médicos), financiador (vaca leiteira) dos grandes grupos privados em prejuízo do SNS, insustentabilidade e ameaça de falência com a redução progressiva de subscritores activos (a maioria tem mais de 50 anos). 
A abertura do sistema a novos beneficiários apenas contribuirá para o adiamento do desfecho final: Reconhecimento da falência do modelo de exploração da ADSE.