Estudo exemplar
Voltei a ler o estudo sobre a mortalidade do 1.º trimestre de 1852 do hospital de S. José, “Memória sobre as Principaes Causas da Mortalidade do Hospital de São José e Meios de as Attenuar”, realizado por António Maria Barbosa, Cirurgião Médico pela Escola Medico- Cirúrgica de Lisboa, Membro da Commissão Medica Consultiva do Hospital N. E R. de S. José, Cirurgião do mesmo hospital.
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Origem do estudo:
«A Estatística medica do hospital de S. José, respectiva ao 1.º trimestre de 1852, confeccionada por uma comissão de seis facultativos da Casa - Drs. José Pereira Mendes, F.M. Polido, J.J. Simas, P.F.C. Alvarenga; J. M. Alves Branco, e A. M. Barbosa - deu a mortalidade de 1:4,2 dos doentes entrados. Este excesso, na proporção dos doentes falecidos, foi devidamente considerado pelo ex.mo Enfermeiro-môr do hospital, que procurou, por conselho da mesma comissão, ser esclarecido pelos diversos facultativos, directores de enfermarias, sobre as causas d´essa enorme mortalidade e meios de as atenuar.»
Trabalhar os números:
« A mortalidade de 1:4,2, que se deu no 1.º trimestre de 1852 no hospital de S. José. É realmente excessiva, sobre tudo se a compararmos com a de outros hospitais da Europa, como, por exemplo, o Hotel-Dieu de Paris, que, apesar da sua posição péssima sobre as margens do Sena e em um bairro populoso da cidade, apresenta comtudo a mortalidade de 1:7, ou pouco mais; e assim mesmo é este um dos hospitais estrangeiros, em que a mortalidade é mais exagerada. É preciso comtudo dezermos, que a época, a que se refere aquella mortalidade do hospital de S. José, é de certo a mais mortífera do anno, e que o foi, não só dentro dos hospitais, mas também fóra na clinica civil, se bem que, como é claro, não em tão extraordinária proporção; e que, consequentemente, a menor mortalidade, que há sempre no 2.º e 3.º trimestre do anno, compensa um pouco a exageração apresentada no 1.º trimestre. Esta verdade não precisava demonstração; entretanto apontámos, como prova exuberante d´ella , a relação de 1:5,78, que teve lugar no 2.º trimestre, a de 1:7,39, que se deu no 3.º, e ade 1:5,72, que houve nos primeiros nove meses do anno, de Janeiro a Setembro, em que é incluído o 1.º trimestre mencionado.
A verdadeira mortalidade do hospital de S. José, que contámos em relação ao numero dos doentes entrados, não deve pois procurar-se em um trimestre de um anno, mas sim na média de certo numero de anos.
Procedendo por este modo, e tomando os resultados dos últimos 12 annos, de 1840 a 1851 inclusivamente, que extrahimos dos registos competentes da casa dos assentos do hospital de S. José, achámos, em 141,567 doentes entrados, e 22,288 mortos, a relação de 1:6,35, a qual, deve representar a mortalidade média do hospital de S. José e que é, pouco mais ou menos, a que se dava há 30 annos, ou pouco mais, no Hotel-Dieu de Paris.
Entretanto a cifra mencionada é de certo muito prejudicial à humanidade, e sobretudo desfavorável ao hospital, principalmente se a compararmos com a de certos hospitais estrangeiros, como, por exemplo, o de Vienna d´Austria, em que ella +e de 1:12,5, e o de S. Diniz, em França, em que é de 1:14,42.»
Com este tratamento estatístico conseguiu-se baixar a alarmante taxa de mortalidade de 1:4,2 (23,8%) para decentes 1:6,35 (15,75%).
Segue-se um levantamento rigoroso das condições de funcionamento desta unidade hospitalar e das medidas a implementar de combate aos principais problemas.
Um trabalho que todos os profissionais da Saúde devem conhecer, cuja leitura se recomenda.
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