terça-feira, fevereiro 13

ADSE, futuro incerto

João Proença garante que ADSE está “sólida financeiramente”
João Proença explicou que a ADSE é "um sistema financiado a 100% pelos beneficiários para terem direito a proteção na saúde" e que, por isso, "existirá enquanto os beneficiários quiserem".
O presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, João Proença, garantiu este sábado que a instituição está “sólida financeiramente”, mas admitiu que a sua sustentabilidade nas próximas décadas exige “muito maior rigor” e uma “grande preocupação com os beneficiários”.
“A ADSE [serviço de assistência médica aos funcionários e reformados da função pública] é um sistema hoje financiado a 100% pelos beneficiários para terem direito a proteção na saúde e, portanto, existirá enquanto os beneficiários quiserem”, afirmou João Proença em declarações aos jornalistas à margem de uma conferência sobre “O Futuro da ADSE”, no Porto. Assegurando que “a ADSE está sólida financeiramente”, Proença salientou que precisa, contudo, “de estar sólida daqui a dez, 20 ou 30 anos, sem exigir um aumento das contribuições dos beneficiários”.
“E é isso que se está a tentar fazer: Criar uma ADSE nova, que passou de um financiamento 100% público a um financiamento 100% privado, [e que hoje] é uma instituição totalmente diferente da que era, [na qual] as pessoas poderão inscrever-se ou não, é facultativo, e do qual poderão retirar-se, o que não existia no passado”, sustentou. Segundo João Proença, que assumiu em outubro de 2017 a presidência do Conselho Geral e de Supervisão do instituto público, trata-se de “um sistema com regras diferentes, que exige muito maior rigor e uma grande preocupação com os beneficiários”, de forma a mantê-los “satisfeitos” e dentro do sistema.
“Não está em causa a sustentabilidade da ADSE no presente, há um fundo de sustentabilidade já de um valor muito apreciável que permite ter presentes quaisquer problemas pontuais que surjam. Agora se os beneficiários se forem embora, a ADSE deixa de ser sustentável, portanto há que mantê-los claramente satisfeitos com o sistema de proteção na saúde que têm e que é o maior sistema de proteção da saúde em Portugal em termos dos subsistemas públicos e privados”, representando hoje, “em termos de valores financeiros e de beneficiários, o mesmo que o conjunto de seguros de saúde existentes em Portugal”, disse.
De acordo com o ex-secretário-geral da UGT, nos últimos anos a ADSE tem registado sempre “saldos positivos, que vão diminuindo, mas são positivos, portanto poderá haver é a preocupação relativamente a daqui a muitos anos”, afirmou, acrescentando que “têm que ser tomadas medidas, tem que haver uma melhor gestão e todos os parceiros do sistema têm que estar mentalizados que, no interesse de todos, a começar nos beneficiários e a acabar nos prestadores de serviços de saúde, interessa garantir a sustentabilidade da ADSE”.
Relativamente à discussão em torno das novas tabelas de preços que a ADSE se propõe pagar aos prestadores com os quais tem convenção, e que merece a oposição dos privados, João Proença afirmou que “cada um defende os seus interesses”, mas foi dizendo que “a nova tabela foi fixada tendo por base aquilo que é a história e o saber acumulado da própria ADSE, que sabe qual é o custo médio de uma operação e tem milhares de casos relativamente ao mesmo tipo de operação”.
“Hoje relativamente às tabelas há um processo negocial entre o Conselho Diretivo [da ADSE] e os representantes dos hospitais, mas também [os representantes] das análises clínicas, dos transportes e de muitas outras instituições, como as misericórdias. Há diálogo, agora uma questão é certa: o diálogo vai conduzir a algum ajustamento das tabelas, não vai conduzir a alterações substanciais nas tabelas, portanto desenganem-se aqueles que achem que poderiam dilatar a aplicação das tabelas no tempo ou que poderiam agora impor alterações profundas, [porque] não vão impor isso”, garantiu Proença.
Também orador na conferência que esta manhã decorreu no Porto, o sucessor de João Proença na liderança da UGT, Carlos Silva, afirmou que a posição da central sindical é “garantir, por um lado, que não haja privatização, nem que seja parcial, da ADSE” e, por outro, em caso de alargamento dos beneficiários “a outros níveis ou escalões da sociedade, que o façam de uma forma paulatina, que não ponha em causa nem faça perigar o seu futuro”.
Outra das questões centrais para a UGT tem a ver com o valor dois atuais descontos feitos pelos beneficiários da ADSE: “Acho que devíamos atender às preocupações dos sindicatos, porque se efetivamente o valor da quota descontada por cada um dos beneficiários aumentou num período de crise, se está ultrapassado o momento mais grave da situação económica e financeira do país acho que devia haver um desagravamento”, sustentou.
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O presidente do Conselho Geral e de Supervisão diz com clareza o que a ADSE já não é: deixou de ser uma mútua da Função Pública (deixou de haver inscrição obrigatória), e deixou de ter financiamento público através do orçamento de estado. Portanto, o financiamento passou a depender exclusivamente dos descontos dos beneficiários que, embora funcionários públicos, descontam do seu próprio bolso (bem privado). 
Sendo hoje estas as características base do subsistema, acreditar que vai conseguir rivalizar com os seguros privados, mantendo-se como modelo de inscrição aberta, sem agravamento continuado dos descontos e redução de coberturas, é de um optimismo ilimitado. Nas actuais condições, alargar o subsistema a novos beneficiários mais não é que uma fuga para a frente num desastre anunciado. 
Tavisto

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2 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Beneficiários chumbam hospitais geridos pela ADSE”
O Conselho Geral de supervisão da ADSE chumbou a entrada daquele organismo na gestão de hospitais ou unidades de saúde próprias, prevista no plano estratégico 2018/2020 elaborado pelo Conselho Directivo.
Felizmente que os representantes dos beneficiários, dos sindicatos, dos aposentados e do próprio governo, impediram o que seria uma medida absolutamente errada. Os conselheiros defenderam que o subsistema deve orientar a sua actividade para a defesa dos interesses dos beneficiários e para a promoção da sustentabilidade do organismo.
A ADSE foca-se nos cuidados curativos, sem que ninguém seja responsável pela gestão da doença. A ausência de referência médica, combinada com a livre escolha e liberta do preço, induz consumismo, acréscimo de custos e riscos adicionais para o doente.
A criação dessa referência e um controlo efectivo parecem-me indispensáveis para a prossecução dos dois desígnios apontados.
A propósito de controlo, ocorre-me relatar uma experiência vivida durante a formação em Administração Hospitalar.
O Curso de Administração Hospitalar da École Nationale de Santé Publique incluía estágios em Hospitais. Num desses estágios, no Hospital de Eaubonne, a alguns quilómetros de Paris, pedi a um Director de Serviço para o acompanhar durante a visita Médica aos doentes internados. Aceitou de imediato, aquilo que era uma das recomendações da Escola, mandando-me vestir uma bata, para que os doentes não estranhassem a minha presença.
Durante a visita, disse-me que tinha aderido ao “temps plein”, (o que significava consagrar a totalidade do seu tempo ao hospital) e que estava muito satisfeito com essa decisão, porque a sua qualidade de vida tinha melhorado imenso e podia dedicar todo o tempo aos seus doentes, o que ficou bem patente durante o período em que o acompanhei.
No final convidou-me a assistir a uma reunião que ia ter com um seu colega, Inspector da Sécurité Sociale. O sistema de saúde francês é um sistema Bismarkiano, com separação entre o financiador e prestador. O financiador paga serviços que os hospitais prestam e naturalmente quer saber como o dinheiro é gasto. Por isso avalia os serviços prestados.
O Inspector da Segurança Social pediu um conjunto de processos e cada um deles foi objecto de explicação por parte do Médico Hospitalar. A reunião decorreu com toda a naturalidade. Os dois intervenientes compreendiam perfeitamente a necessidade de controlo e, por isso, a conversa foi extremamente cordial.
Isto passou-se há quase meio século. Será que Portugal ainda não está preparado para aceitar um controlo desta natureza?
meneses correia i facebook

11:45 da tarde  
Blogger Tavisto said...

A propósito do comentário do Dr. Meneses Correias, deixo duas pequenas notas:

1 – O trabalho médico em «temps plein” hospitalar faz todo o sentido sendo essa a tendência à medida que os serviços nacionais de saúde, de modelo tipo Bismark ou Beveridge, se desenvolvem e estruturam. O trabalho a tempo inteiro é um sinal de crescimento económico e desenvolvimento, o contrário sucede com o tempo parcial. No nosso País, com o fim do regime de dedicação exclusiva regrediu-se no que fora até então tendencial desde a criação do SNS.

2 – Relativamente à avaliação dos serviços, fundamental para se avaliarem práticas e distinguir o trigo do joio fazendo “benchemarking”, o que possa existir é fraco e inconsequente. De vez em quando aparecem uns relatórios do Tribunal de Contas que causam grande alarido, mas pouco ou nada fazem mudar no terreno. Meio século depois do que presenciou em França, pergunta: Será que Portugal ainda não está preparado para aceitar um controlo desta natureza? O País está, os interesses instalados é que precisam de ser afrontados.

9:01 da tarde  

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