Modelo de Gestão Hospitalar
A propósito do editorial da revista Gestão Hospitalar de Julho 2005, assinado pelo Presidente da APAH, Dr. Manuel Delgado, o Vivóporto desferiu os certeiros comentários que se seguem:
1. O sistema de gestão hospitalar actual pura e simplesmente devia ser mudado.
O actual modelo não é compatível com uma gestão séria da coisa pública, é propenso ao desenvolvimento de situações de oportunismos e de oportunistas, não tem critérios de seriedade e de transparência, é um arremedo de profissionalismo, coloca os AH em condições de subserviência e de mendicidade em relação ao poder, é caro e idiossincraticamente inadequado, por incompatível com o estado da nossa economia e com a mentalidade terceiro-mundista reinante.
2. A APAH parece ter-se rendido à miragem de neoliberalismo e ao ideal sacrossanto do mercado; desde 1988 que não tem feito outra coisa senão colar-se aos modelos que têm vindo a ser impostos pelo poder; nunca definiu um modelo pelo qual se batesse, tem andado sempre a reboque dos acontecimentos, contentando-se apenas em apanhar a onda, se possível;
3. A única ideia «original» parece ser esta agora da defesa de uma carreira «minimalista»; na prática não é carreira nenhuma.
Tal modelo apenas parece vir de encontro aos interesses do Estatuto actual da ENSP e dos que dela vivem (num sistema de carreira tradicional e de funcionalismo público): continuar a formar fornadas de gestores hospitalares a esmo, para continuar a assegurar a continuidade dos lugares de professores (já não só Administração Hospitalar, mas Pós-graduações para clínicos, administradores de saúde, Mestrados em Gestão em Saúde), todos com competências reconhecidas, nomeadamente para o exercício da Administração Hospitalar.
Não seria então de abrir a ENSP também ao mercado e à concorrência no âmbito da formação de gestores, mantendo, num outro modelo de gestão hospitalar que não o actual, uma carreira de AH (ajustada, mas não minimalista) à qual teriam acesso todos os habilitados com formação específica legalmente reconhecida neste domínio, ministrada ou não pela ENSP?
4. Em termos de sistema de gestão hospitalar em que é que o actual governo tem tido, nesta matéria, um registo mais «sensato e adequado» do que o anterior se até agora em nada alterou o modelo que vinha de trás apenas se limitando a mudar algumas figuras a nível dos lugares dirigentes? Mudaram algumas moscas mas o resto continua, no essencial, na mesma.
Esta asserção do Dr. Delgado apenas parece evidenciar a acomodação que muitos temiam em relação ao poder. Quem o ouviu e quem o ouve.
Esta asserção do Dr. Delgado apenas parece evidenciar a acomodação que muitos temiam em relação ao poder. Quem o ouviu e quem o ouve.
5. Pessoalmente, não acredito que haja muitos AH preocupados com os lugares deste ou daquele colega, acredito, pelo contrário, que são bem mais aqueles que estão preocupados com o estado de degradação das condições do seu exercício profissional, na maior parte dos casos apenas por serem profissionais incómodos que se encontravam em lugares incómodos, apesar de competentes (muito competentes, conheço eu alguns) e mais preocupados ainda com o estado de degradação geral do ambiente de trabalho nos serviços de saúde, que tem vindo a acentuar-se nos últimos dois anos.
Vivóporto
9 Comments:
Excelente análise.
Desde sempre sentimos esta forma de estar da ENSP.
Muitas das dificuldades actuais dos AH advêm do egoísmo dos dirigentes da ENSP.
A deterioração das condições do exercício da actividade dos AH vai continuar.
Tenho cerca de 20 anos de AH e desde de 1986 tem sido sempre a descer a nossa carreira, o nosso desempenho e o desempenho dos HH.
Com o 3/88 então entramos em processo de profissão de desgaste rápido.
E o que fez a APAH,menos que nada
Somos mais de 500 AH cujo peso e protagonismo de grupo profissonal vale pouco mais que zero.
Somos por isso cúmplices do estado de decadência que se vive no SNS
O protagonismo de alguns na procura de lugares comódos e com visibilidade ofoscou de forma irreparável os restantes
Só há uma saída : reiventar uma nova APAH renascida das cinzas ou criar um sindicato e uma ordem
Desafio o Xavier a lançar um inquérito no blog para colher opiniões sobre o caminho a seguir
Se assim não acontecer continuaremos ligados à maquina até que alguém a desligue ou que haja uma falha de energia
Já batemos no fundo
Aprendam a nadar companheiros que a maré se vai levantar
Não tenho dúvidas o SNS e os portugueses merecem e precisam do nosso protogonismo e pró- actividade e atitude profissional de excelência técnica e humana porque o Hospital não é uma repartição pública nem produz parafusos .
São as pessoas senhores a razão de ser dos hospitais e que por isso devem ser o critério , a medida e ponto de referência e em caso de dúvida devemos optar pela melhor solução para as Pessoas / Doentes, como aprendi com Pai dos AH portugueses o grande mestre Professor Coriolano Ferreira, em 1984
Excelente post. Do melhor que tem produzido aqui na SaudeSA.
Se fizerem um inquérito aos alunos saídos dos 35 cursos da ENSP a perguntar se concordam com esta análise, obterão 95% de respostas a concordar.
SaudeSA tem já dois heróis (permitam-me este adjectivo) o Xavier e o Vivóporto.
Uma dupla de respeito.
A equipa que há-de suceder à actual Direcção da APAH (quando esta terminar o seu mandato) está em germinação.
Eu diria: 99%
A história dos mabecos faz sentido em relação aos AH.
Uns poucos comem tudo e não deixam nada.
Montaram uma máquina feita à medida dos seus interesses e com mestria rentabilizá-la para proveito próprio.
O resto do maralhal existe em função de manter em funcionamento o sistema.
Os mabecos ostracisados também não souberam ou não puderam dar a volta ao texto.
A hora do juízo final chegou.
E, quem se vai lixar é o mexilhão.
Muito se fala da carreira de Administração hospitalar. Será que essa carreira, no contexto actual de evolução da Administração Pública e da gestão hospitalar continua a fazer sentido?
Vejam o que acontece por exemplo no sector privado. As carreiras são construídas individualmente, através de um esforço de valorização permanente. Será que faz sentido, no sector público, a existência de uma carreira de gestor hospitalar em que não há avaliações sérias do trabalho desenvolvido e os lugares são preenchidos de acordo com regras de defesa corporativista e político-partidária?
A mim parece-me que não. O modelo de carreira, tal como existe actualmente, está esgotado. Fez sentido numa determinada época histórica e num ambiente social e político que entretanto evoluiu e se modificou.No momento actual já não faz sentido um carreira assim. Aliás não existe em toda a Administração Pública uma carreira assim. Haja coragem para acabar com esta carreira. Isso não significa porém que se deva acabar com o curso de Administração Hospitalar. Mas esse curso deve servir enquanto especialização, e não enquanto requisito obrigatório de ingresso numa carreira, que neste momento se encontra tão desprestigiada.
A França que tem o melhor sistema de Saúde da UE está desactualizada?
Será que o seu modelo testado ao longo de vários anos com excelentes resultados, nada vale.
Será que o futuro dos Europeus está inexoravelmente hipotecado aos valores do liberalismo.
Quem lucea com esta abertura?
Evidentemente os oportunistas, os expeditos, a quem não foi pedido um esforço de investimento numa especialização e numa carreira.
Muito se fala da carreira de Administração hospitalar. Será que essa carreira, no contexto actual de evolução da Administração Pública e da gestão hospitalar continua a fazer sentido? 3 em cada 10 dos AH não tem aplidão para a Gestão. Sabem muito de tudo, menos porquê que os hospitais estão tão mal geridos
Quem é que tem gerido os hospitais do SNS até à data?
Vejam quantos Administradores Hospitalares têm integrado os Conselhos de Administração dos hospitais nos últimos dez anos.
Muito poucos.
A maioria dos elementos dos CA têm sido médicos, enfermeiros e elementos nomeados pela tutela pertencentes às hostes partidárias ou aos caciques da região.
Os AH têm sido sistemáticamente relegados para lugares de gestão intermédia, muitas vezes sem quaisquer condições de trabalho.
Esta é que é a realidade da gestão dos HH do SNS.
O poder político tem desperdiçado sistemáticamente o Know How de um corpo de técnicos altamente habilitados.
A responsabilidade da situação do SNS, como aliás de outros sectores de actividade, tem de ser assacada ao poder político, que nestes últimos anos de democracia (?) tem pilhado tudo o que lhe chega às mãos.
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