sábado, julho 30

Estradas

Já estranhos rumores de folhas
entre as esteveiras andavam,
quando, saindo um atalho,
veio à estrada um vulto esguio.
Tremeram os seios de Nena
sob o corpete justinho.
E uma oliveira amarela
debruçou-se da encosta
com os cabelos caídos!
Não era ladrão de estradas,
Nem caminheiro pedinte,
nem nenhum maltês errante.
Era António Valmorim
que estava na sua frente.

- Ó Nena de Montes Velhos,
se te quisessem matar
quem te havera de acudir?

Sob o corpete justinho
uniram-se os seios de Nena.

- Vai-te António Valmorim.
Não tenho medo da morte,
só tenho medo de ti.

Mas já a noite fechava
a saída dos caminhos.
Já do corpete bordado
os seios de Nena saíam
- como duas flores abertas
por escuras mãos amparadas!...
Aí que perfume se eleva
do campo de rosmaninho!
Ai como a boca de Nena
se entreabre fria, fria!
Caiu-lhe da mão o saco
junto ao atalho das silvas
e sobre a sua cabeça
o céu de estrelas se abriu...
Ao longe subiu a lua
como um sol inda menino
passeando na charneca...
Caminhos iluminados
eram fios correndo cerros.
Era um grito agudo e alto
que uma estrela cintilou.
Eram cabeços redondos
de estevas surpreendidas.
Eram campos, campos, campos
abertos de espanto e sonho ...
Manuel da Fonseca - Estradas , "Os poemas da minha vida" MB, Edição JPúblico.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O Xavier vai para o Alentejo vestir a pele do António Valmorim.

12:14 da manhã  

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