segunda-feira, outubro 17

Aprovisionamento Hospitalar

Tendo experiência na área de Aprovisionamento Hospitalar, considero existir por parte dos hospitais públicos, com algumas excepções, falta de estratégia e de capacidade técnica na política de aquisições, fruto também da instabilidade das administrações. Na gestão do aprovisionamento hospitalar, estão muitas vezes profissionais sem habilitações ou sem formação adequada, que permita a utilização das ferramentas legais e de gestão. Por outro lado, a gestão das aquisições é, em muitas situações, gerida na prática por quem consome, e quem consome tem necessidades muitas vezes induzidas pela Indústria. A culpa não é desta, mas de quem não tem coragem para introduzir mecanismos de controlo nos hospitais, nomeadamente a definição de critérios objectivos de avaliação de propostas, a nomeação e responsabilização de comissões de escolha e de normalização de produtos de consumo e, acima de tudo, de controlo na introdução de novos produtos no consumo corrente.
É fácil acusar a Indústria, mas na verdade esta utiliza e explora as nossas fraquezas e ineficiências. Quantos produtos são introduzidos no consumo corrente hospitalar, sem avaliação ecnómica e técnica adequada? Será a culpa do markting agressivo da Indústria, ou dos CA hospitalares, que não impõem regras internas?
Como administrador hospitalar, realizei inúmeros procedimentos de compra, verificando que uma actuação proactiva do Aprovisionamento, com a definição e imposição de regras bem explícitas para avaliação de propostas, elaboração correcta de cadernos de encargos e avaliação constante de consumos e produção associada, conseguem obter excelentes resultados. Haja coragem para isso, porque implica entrar em conflito com muitos interesses instalados dentro dos hospitais.
Por outro lado, a actuação do IGIF, nomeadamente no que respeita aos medicamentos, é, no mínimo, incompetente, quase criminosa do ponto de vista económico, ao possibilitar a concertação de preços e impõr aos hospitais um preço comum, impedindo a negociação. Um hospital que tenha capacidade negocial, pagando atempadamente, vê-se perante preços impostos via IGIF, inflacionados devido aos hospitals que pagam a 300 ou mais dias e à concertação de mercado.
Xico

6 Comments:

Blogger xavier said...

Agradecemos ao colega AH o excelente texto sobre as ineficiências do Aprovisionamento Hospitalar.
Queríamos pôr-lhe a seguinte questão.
Ficámos com a ideia que defende a aquisição directa dos HH através de negociação.
Não acha que as aquisições centralizadas permitem a obtenção melhores resultados (devidamente organizadas, bem entendido).

2:45 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Estou completamente de acordo com o texto do Xico. De resto, sem qualquer presunção, acho que o mesmo vem de encontro a pelo menos um dos meus últimos comentários neste blogg (ver Cambalachos). Na verdade tenho a certeza (vivida no hospital) de que é possível obter preços mais favoráveis em negociação directa e fora dos concursos do IGIF. Admito que os concursos do IGIF padeçam dos males referidos pelo Xico e que nem sequer são de estranhar. Não há muitos anos, enquanto responsável a nível de um CA pela área de aquisições, por diversas vezes verifiquei que era possível fazer aquisições de equipamento informático a preços mais baixos que os da famosa Central de Compras do Estado (outro buraco da Adm. Pública!), negociando directamente (e o mérito não era meu...mas dos serviços) com os mesmos fornecedores. Mas isso dá trabalho ... e convenhamos, lamentavelmente, é muitas vezes olhado com desconfiança por aqueles que "são sempre os mais honestos do mundo"(?), causando incómodos. Mas o concurso global (centralizado) não é necessariamente o que conduz a maior economia. Os fornecedores sabem que nem todos os compradores "são bons pagadores" e nas suas propostas não deixam de ter isso em conta. Por outro lado esbate-se a relação directa entre o fornecedor e o comprador/pagador o que não permite uma verdadeira discussão de preços e condições de fornecimento.
Eu tenho mesmo dúvidas se esta coisa das "centrais de compras" não serve mais interesses particulares do que interesses dos hospitais. Os grandes negócios são sempre aqueles onde existem "margens para tudo"!. E meus amigos, nestas coisas, como em tudo na vida, os se é honesto ou não se é honesto!...
Mas em matéria de compras (e excluindo medicamentos) existe ainda um outro problema que é o de controlo da qualidade dos produtos adjudicados e dos efectivamente fornecidos. E também aqui tenho histórias para contar!
Qualquer que seja o modelo nunca estará isento de "comportamentos" menos correctos. Há (ou houve) grande hospital da ARSLVT onde o Presidente do CA era o "negociador" exclusivo com fornecedores. Certamente porque não confiava em ninguém!...

4:48 da tarde  
Blogger xavier said...

Caro Colega, Xico:
Coloquei os textos sobre Aprovisionamento Hospitalar na coluna da direita.
Se houver alguma correcção a fazer, diga.
um abraço

11:08 da tarde  
Blogger Peliteiro said...

Como Administrador Hospitalar, defensor da capacidade técnica na política de aquisições:
No seu Hospital há uma boa equipa de Farmacêuticos? Participam eles, de forma marcada, na decisão de compra de produtos farmacêuticos?

12:18 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Xico
Concordo mais uma vez com a sua análise. Defacto a lei actual, bem mais flexível que o célebre 211/79 (creio não estar errado) permite uma actuação mais eficaz se formos capazes de "esgotar" as oportunidades (sem por em causa a legalidade e a transparência). Muitas vezes o argumento para a falta de capacidade de trabalho é o de que a lei não permite...
Já quanto à honestidade a mesma terá pouco a ver com preparação técnica. Tem muito a ver, isso sim, com controlo (mas sobretudo prevenção). Os serviços não devem ficar sujeitos a intervenções inspectivas que muitas vezes não passam de caça às bruxas! Há que fazer Auditorias que tenham sobretudo como objectivo verificar e detectar desvios (muitas vezes involuntários) e introduzir mudanças correctivas. Estas auditorias serão sobretudo educativas e informativas.
Obviamnete que num universo complexo como o dos "consumos hospitalares" os técnicos (utilizadores) não devem deixar de ser solicitados a colaborar nos processos de escolha. Uma gestão "ATENTA" não precisa de ocupar todo o seu tempo a analisar os processos de aquisição. Liberdade com responsabilidade tem dado geralmente bons resultados.
É fundamental que toda a estrutura envolvida saiba e perceba que há mecanismos de "avaliação" (prefiro ao termo controlo) dos resultados obtidos.

12:50 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Bom se existe algum SA onde ao fornecedor basta falar com o CA (?) estamos conversados!... O CA, em meu entender, não tem que se envolver directamente no processo de aquisições. Não é o seu papel já que ele CA é o decisor final (para aquisições de maior monta) e deve fazê-lo confiando nos responsáveis por si nomeados.
O defeito das negociatas quanto a mim não está na aplicação ou mão do DL 197/99 ou na negociação directa ou não. O problema está nas "pessoas" e nos seus princípios...sem esquecermos que, como diz o ditado, "a ocasião faz o ladrão". Daí que mais vale prevenir que remediar.
Mas não deixa de ser um facto que o DL 197/99 obriga a alguns procedimentos (que não passam de burocracia) que podem tornam o processo de decisão mais longo.
Concordo com a necessidade de se definir um conjundo de regras que devem em todo o caso ser observadas e que me parece poderem ser aproveitadas do próprio DL 197/99. Mas há hospitais onde os processo de aquisição (com ou sem regras do DL 197/99) são sobretudo um processo desorganizado. No mesmo processo misturam-se bens que nada têm a ver uns com os outros; fazem-se consultas quando se sabe que o fornecedor é único; incluem-se nos concursos ou consultas quantidades irrisórias e de montantes reduzidíssimos; fazem-se depender de decisão do CA aquisições de reduzido valor; etc.. Enfim não foi fácil alterar a rotina e muito há ainda a fazer!

10:42 da manhã  

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