Mercado do Medicamento
Em grande transformação.
O "problema" das farmácias ainda mal começou. O Governo fez, logo de início, uma abordagem desastrada: impor o que entendeu como um castigo. Mais desastrada do que liberalizar a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, foi a formatação jurídica e funcional que produziu.
Portugal tem 10.000 farmacêuticos, 8 Faculdades de Farmácia e produz cerca de 1000 novos farmacêutcios/ano. Uma percentagem assinalável de farmacêuticos são-no devido à impossibilidade de irem para medicina. A liberalização da propriedade e da instalação das farmácias conduzirá à integração horizontal e vertical do sector da distribuição de medicamentos, por muito que Abel Mateus se "esgadanhe".
O padrão de prescrição e de utilização de medicamentos no ambulatório, de acordo com a informação disponível, compagina desvios assinaláveis face a países comparadores. Estes desvios têm expressão financeira, mas fundamentalmente terapêutica.
Há escassez de médicos de família.
A indústria farmacêutica não encontra, em Portugal, filtros regulamentares musculados nem barreiras de avaliação técnico-científica robustas. Impõe e modula a terapêutica quer no hospital, quer no ambulatório.
A inversão da pirâmide populacional, as novas moléculas para novas áreas de patologia (tragam ou não ganhos, são sempre muito mais caras que as opções disponíveis), a ausência de sistemas de informação robustos com produção de informação de retorno (ao prescritor e ao pagador), a "medicalização" de sub-grupos populacionais (o que há 5 anos era normotensão arterial é hoje pré-hipertensão; o "target" a atingir dos valores de colesterol baixa após a publicação de cada novo ensaio clínico)não sustentam a possibilidade de controlar a taxa de crescimento do encargo com medicamentos.
A grande massa de farmacêuticos está disponível para reivindicar pagamentos por "acto", e entende que as competências técnicas que possui não são traduzidas em "poderes para o exercício". Querem ter também poder de decisão e olham para a autorização da poder de prescrição (limitada a lista, é certo) dada pelo SNS britânico aos farmacêuticos (que verifiquem e cumpram um conjunto de condições, é também certo) como uma meta estratégica a perseguir. Perante este conjunto de pressupostos, a prazo curto serão os próprios farmacêuticos que tenderão a afastar-se da distribuição.
Os agentes de mercado vocacionados para o "retalho" tomarão conta do comércio dos medicamentos. A indústria farmacêutica passará a ir a essa luta através do "direct ordering"´já que há uma margem que, face aos constrangimentos de "pipeline" de novas moléculas e à incapacidade de o estado em acompanhar a despesa, não pode perder.
A guerra será então entre outros agentes - gigantes - e o "direct to consumer advertising, DTCA" de medicamentos sujeitos a receita médica um vector determinante de mercado.
O Governo passa a não ter espaço negocial nem margem política para manobra.
As grandes superfícies, face à concorrência directa da indústria farmacêutica, abrem "miniclínicas" ao lado dos balcões de venda de medicamentos sujeitos a receita. Uma enfermeira em permanência (vacina, dá injeccções e faz um conjunto de diagnósticos pré estabelecidos) e um médico "on call".
Tudo isto se está a passar nos EUA.
Para tudo isto a indústria farmacêutica tem vindo a trabalhar de há anos a esta parte.
De tudo isto o governo só vê ANF.
Valha-nos alguém !
Portugal tem 10.000 farmacêuticos, 8 Faculdades de Farmácia e produz cerca de 1000 novos farmacêutcios/ano. Uma percentagem assinalável de farmacêuticos são-no devido à impossibilidade de irem para medicina. A liberalização da propriedade e da instalação das farmácias conduzirá à integração horizontal e vertical do sector da distribuição de medicamentos, por muito que Abel Mateus se "esgadanhe".
O padrão de prescrição e de utilização de medicamentos no ambulatório, de acordo com a informação disponível, compagina desvios assinaláveis face a países comparadores. Estes desvios têm expressão financeira, mas fundamentalmente terapêutica.
Há escassez de médicos de família.
A indústria farmacêutica não encontra, em Portugal, filtros regulamentares musculados nem barreiras de avaliação técnico-científica robustas. Impõe e modula a terapêutica quer no hospital, quer no ambulatório.
A inversão da pirâmide populacional, as novas moléculas para novas áreas de patologia (tragam ou não ganhos, são sempre muito mais caras que as opções disponíveis), a ausência de sistemas de informação robustos com produção de informação de retorno (ao prescritor e ao pagador), a "medicalização" de sub-grupos populacionais (o que há 5 anos era normotensão arterial é hoje pré-hipertensão; o "target" a atingir dos valores de colesterol baixa após a publicação de cada novo ensaio clínico)não sustentam a possibilidade de controlar a taxa de crescimento do encargo com medicamentos.
A grande massa de farmacêuticos está disponível para reivindicar pagamentos por "acto", e entende que as competências técnicas que possui não são traduzidas em "poderes para o exercício". Querem ter também poder de decisão e olham para a autorização da poder de prescrição (limitada a lista, é certo) dada pelo SNS britânico aos farmacêuticos (que verifiquem e cumpram um conjunto de condições, é também certo) como uma meta estratégica a perseguir. Perante este conjunto de pressupostos, a prazo curto serão os próprios farmacêuticos que tenderão a afastar-se da distribuição.
Os agentes de mercado vocacionados para o "retalho" tomarão conta do comércio dos medicamentos. A indústria farmacêutica passará a ir a essa luta através do "direct ordering"´já que há uma margem que, face aos constrangimentos de "pipeline" de novas moléculas e à incapacidade de o estado em acompanhar a despesa, não pode perder.
A guerra será então entre outros agentes - gigantes - e o "direct to consumer advertising, DTCA" de medicamentos sujeitos a receita médica um vector determinante de mercado.
O Governo passa a não ter espaço negocial nem margem política para manobra.
As grandes superfícies, face à concorrência directa da indústria farmacêutica, abrem "miniclínicas" ao lado dos balcões de venda de medicamentos sujeitos a receita. Uma enfermeira em permanência (vacina, dá injeccções e faz um conjunto de diagnósticos pré estabelecidos) e um médico "on call".
Tudo isto se está a passar nos EUA.
Para tudo isto a indústria farmacêutica tem vindo a trabalhar de há anos a esta parte.
De tudo isto o governo só vê ANF.
Valha-nos alguém !
guidobaldo
8 Comments:
Não é matéria onde possa ou deva, por manifesta falta de conhecimentos, ter opinião avalizada. Como utente/cliente há algo que me surpreende no estudo da AdC. A hipótese ali contemplada de entrega de medicamentos no domicílio.
Com sabemos, no nosso actual sistema, o cliente nem sempre procura a farmácia que lhe está mais próxima e também não vejo como o cliente conseguirá "traduzir" os "hieroglifos" (inscritos) da receita médica para poder fazer a encomenda pelo telefone.
Depois a entrega ao domicílio (que fez história nos tenmpos dos marçanos - aprendizes - do nosso comércio hoje dito tradicional (pequeno comércio) não pode hoje contar com esse tipo de mão-de-obra (barata) de outros tempos. Passará o doente a pagar os custos da deslocação?
Não creio pois que essa sugestão tenha aplicação prática.
Vejo também como pouco provável a prática de descontos associada à liberalização da propriedade das farmácias e da abertura de farmácias. Quem beneficiaria, desses descontos? O utente sobre o valor a seu cargo? O Estado? Ambos?
E irão as farmácias surgir como se fossem cafés, mercearias e restaurantes sabendo-se da obrigatoriedade de terem pessoal especializado, além de um Director Técnico licenciado em Farmácia (e bem). Ou passaremos a ter X farmácias para um mesmo director técnico? Quantas? E a garantia de qualidade/segurança?
E não teremos a formação de grandes empresas a dominar o negócio, porventura associadas a distribuidores?
Não quero com isto dizer que sou contra as medidas que tendam a acabar com a situação única de só os "Farmacêuticos" poderem ser donos de farmácias. Antes pelo contrário.
Mas a matéria é complexa e pode passar por outras medidas como sendo, por exemplo, a receita electrónica a exemplo do que se passa nos EUA (e eventualmente noutros países) e que permitiria certamente, só por si, um maior e mais útil controlo dos custos com medicamentos.
Não quero deixar de referir o interesse que o texto do Guidobaldo me mereceu. Certamente elaborado por que sabe.
Obrigado.
Como tenho vindo a dizer é muito complexo, muito complexo.
CC será um fala-barato, mau-génio e vingativo, mas não é parvo. A direcção dos estilhaços pode ser imprevisível. As medidas no sector serão mínimas (desce a capitação mas mantém-se os concursos o que vem dar a nada) não por inércia ou força do lobby mas, só, por cautela.
Ontem esqueci-me de dizer o essencial (acontece aos melhores): No essencial concordo com o conteúdo do excelente texto do Guidobaldo.
perdoem-me a redundância do essencial
Excelente texto do Guidobaldo!
É uma perspectiva muito interessante e que tem estado muito arredada das discussões que tem havido sobre o tema.
De facto, CC parece ter como objectivo único a destruição do poder da ANF, independentemente das consequências. É legítimo que o queira fazer e, é possível que o consiga. Mas o mercado não gravita à volta de CC e, portanto, vai arranjar formas de tornear as dificuldades que vão aparecer. Não haja qualquer dúvida de que não serão os micro-empresários a lucrar com esta ideias de CC, AdC e Cª. Serão sobretudo as grandes cadeias europeias que tudo têm feito, sobretudo a nível da Comissão Europeia, para acabar com as restrições regulamentares na área farmacêutica.
Do ponto de vista do utente/cliente, as ideias que têm sido aventadas são muito populares. No entanto, não demorará muito para que os cidadãos verifiquem que a baixa de preços e a maior acessibilidade anunciadas não são mais do que fantasias lançadas para o ar para justificar as decisões de CC.
De qualquer modo, neste momento, parece que já não há grandes duvidas acerca da liberalização do mercado farmacêutico. Portanto, resta-nos esperar para ver o de que tipo será
Ora até que enfim encontro comentários sobre as farmácias e farmacêuticos, com uma análise objectiva das questões...
Muito do que tenho visto publicado revela muitas vezes incompreensão e por outro aquela invejazinha lusitana pequenina que acha que a galinha do vizinho é sempre melhor...
Ora a farmácia média portuguesa atende uma média de 150 a 200 clientes dia por dia, existem 2600 farmácias por dia entram entre 300 000 a 500 000 portugueses nas Farmácias.
De acordo com os dados publicados atender um cliente custa entre 3 a 4 €, e gera um lucro de 18 a 20 centimos.
Com um volume de negócios idêntico aos Grupos Jerónimo Martins e Modelo Continente, a margem bruta das farmácias era em 2003 24,5% o MC 25,5% e a JM 25%;
As farmácias pagaram no seu conjunto 108 Milhões de € em IRS-IRC, (só a TMN pagou mais imposto em Portugal do conjunto das grandes empresas portuguesas) empregavam 17 500 trabalhadores, com um custo anual médio por trabalhador de 25 000€ ; 1/3 dos trabalhadores é licenciado, A JM e MC tem um custo médio por trabalhador de 9500€.
Se reduzirmos a dimensão média da farmácia para 1/3 (cenário de liberalização total) aumento do nº de farmácias das actuais 2600 para 8000 a 9000; A atender 50 clientes por dia a dimensão média passa para 2 a 3 trabalhadores; Estás-se mesmo a ver que não se consegue assegurar direitos dos trabalhadores, (40 h semana) formação, férias e assegurar serviços de 24h a não ser mas grandes cidades...
Então o pessoal que achou que a Farmácia era o negócio da china... começa a vender... ou a ceder aos distribuidores porque afinal não tem cash flow suficiente para pagar as contas... Alguns dos actuais proprietários desatarão a abrir mais farmácias porque conhecem bem os meandros do negócio... Depois aceitam também as propostas irrecusáveis das grandes cadeias, ANF ; Alliance-Boots; Celésio; talvez Sonae... estes players se encarregarão de fechar as posições menos rentáveis...
Enfim as farmácias e os farmacêuticos vão ter que se adaptar às novas realidades do mercado. Para começar os cursos de formação a implementar vão deixar de focar os aspectos profissionais e virar-se mais para a técnica de Vendas e merchandising. Os custo dos colaboradores deverão evoluir para valores mais próximos da grande distribuição. Trocar seringas a "drogados" o dispensar metadona de forma gratuita na farmácia, "que horror"....! estraga a imagem do estabelecimento aos olhos da maioria dos utentes...É p´ra acabar. Protocolo de diabetes em que as Farmácias distribuem as tiras, as lancetas, e outros dispositivos de forma gratuita é p´ra acabar só da prejuízo! Cuidados farmacêuticos e acompanhamento e doentes, só para os da Classe A, mediante o pagamento de uma fee, como nos States, promoção de genéricos- Pra quê ??? só p´ra aqueles laboratórios que untarem o binómio prescrição dispensa com garantia de rotação de stocks e apoio a uns congressos de formação profissional em destinos exóticos... Porreiro viva o mercado... a malta tem é cortar nos custos e aumentar a cota de mercado...P´ra quem não se conseguir aguentar só tem é que vender ou à ANF à Alliance -Boots, Celesio, Sonae ou algum fundo investimentos que por aí apareça.
Haja Saúde!!!
Os farmacêuticos têm mantido uma discussão de grande qualidade e esclarecedora, procurando afastar-se da trica ANF/CC.
Conheço de perto a grande qualidade deste grupo profissional. Do melhor que o nosso país tem.
Os bloggers da SaudeSA agradecem a elevada colaboração dos farmacêuticos.
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