sexta-feira, fevereiro 17

Privatização da Saúde








O ministro da Saúde, António Correia de Campos, parecia ultimamente interessado em assumir um discurso mais comedido, em refrear o ímpeto protagonista “out spoken”, muito apreciado pela classe dos jornalistas.
Puro engano.
Hoje, precisamente, na abertura do Seminário Nacional sobre Financiamento Hospitalar, promovido pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), perante uma plateia repleta de ex-alunos, CC quis surpreender toda a gente admitinto estar a estudar um novo modelo de financiamento para a Saúde, pago parcialmente pelo utente (finalmente CC deu a conhecer o famigerado plano B. Ou será que é o A ?)
E pormenorizou que não seria preciso mexer na constituição (avisadamente, já obteve o inevitável parecer jurídico favorável), prevendo o novo modelo de financiamento três níveis de encargos para os utentes do SNS: isenção, pagamento de 25% e 50%.
A pronta reacção de todos os sectores da sociedade confirmou que o ensaio de opinião pública, protagonizado por CC esta manhã, fora um êxito. Mas se de manhâ foi assim, à tarde já era assado, considerando o ministro que a grande visibilidade mediática das suas declarações se deveu ao facto de os noticiários "não terem mais factos e pegaram em declarações retiradas de um contexto".
Perante estas constantes variações de humor será de levar CC a sério ?
Certamente. Para a privatização da Saúde crescer rapidamente entre nós há que enxotar o maior número possível de utentes do SNS para a privada e, para tal, nada melhor do que fazê-los pagar os cuidados de saúde prestados pelos hospitais do Estado.

2 Comments:

Blogger tonitosa said...

É, no mínimo, surpreendente ler coisas destas. Porquê? É que me recordo imediatamente do alarido que se fez quando LFP admitiu a hipótese de taxas moderadoras diferenciadas. Os mesmos que hoje parece não se surpreenderem com estas "ameaças" de Correia de Campos foram os primeiros a "vociferar" contra LFP. Incluindo os que então estavam na Oposição ao Governo.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades!
Devo dizer que discordo em absoluto de medidas como a anunciada enquanto o Governo (qualquer governo) não me convencer da boa utlização (alternativa) dos meus (nossos) impostos.
Cada vez vamos pagando mais em portagens, em educação, em IVA, em IRS, em ISP, em todas as taxas, em impostos municipais, nos medicamentos e serviços de saúde, etc., etc.. O governo anuncia "milagres" na execução financveira do OE, e tudo somado não chega?
E não surpreende que assim seja!Milhões de euros são canalizados pasa subsidiar empresas com a promessa de criação de novos empregos. As campanhas eleitorais absorvem milhões de euros de subsídios do Estado. O número de deputados mantém-se intocável. Os gabinetes ministeriais estão a abarrotar de secretárias, assessores e adjuntos. Proliferam as Comissões e Grupos de Trabalho.
Encomendam-se estudos para concluir o que toda a gente já sabe. Fazem-se estudos sobre matérias já devidamente estudadas.
São alargados os órgaões de gestão de empresas públicas e, como noticiado, os gestores vêem os seus salários aumentar 30%.
Na saúde a grande fatia dos gastos corresponde a salários médicos (e de enfermeiros embora em menor grau) sem correspondência na produção. E nestes até agora CC não foi capaz de tocar. Porquê? Ele sabe que dificilmente resistirá a medidas que vão contra os interesses corporativos da(s) classe(s) e por isso foge do confronto com elas a sete pés. E no entanto esta é uma das grandes medidas a tomar para a contenção das despesas de saúde.
Há desperdícios e gastos desnecessários nos estabelecimentos de saúde. Os custos com meios complementares de diagnóstico realizados no exterior não param de crescer e são pedidos e executados muitas vezes por aqueles que deviam fazê-los nos HH e CS.
A cobrança de serviços hospitalares prestados aos subsistemas continua a ser ineficaz. Milhões de euros de taxas moderadoras continuam por cobrar. Os processos contenciosos de cobrança no âmbito dos seguros acabam na maioria das vezes em acordos amigáveis, quase sempre abaixo dos 50%.
Enfim, por estas e por outras não surpreende que CC possa ir pelo caminho mais fácil: fazer pagar aos utentes os serviços de saúde reduzindo a gratuitidade aos cuidados mínimos.
E não adianta vir dizer que não disse o que disse. Todos o ouvimos dizer o que disse e sabemos que ele disse o que diz que não disse. Porque é mesmo o que pensa.

5:29 da tarde  
Blogger ricardo said...

Estou de acordo com o que refere o lisboaearredores: não é pecado discutir as alternativas ao financiamento da Saúde.

As declarações de CC é que são lamentáveis.
Algum tempo depois de ter apresentado resultados positivos relativamente às contas da Saúde e declarar que confia no actual sistema, CC sai-se com uma destas, fazendo crer aos portugueses de boa fé, que nas nossas costas anda a congeminar um plano alternativo para o SNS.

CC neste ofício da coisa política trata tudo com os pés.

Moral de mais este triste episódio: Estragou o fim de semana a muita boa gente, foi primeira notícia de todos telejornais e fez vender muitos jornais (mais uma vez).

CC é presentemente uma personalidade indispensável ao Star System.

7:12 da tarde  

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