sexta-feira, junho 2

Central de Negociação e SUCH

Parabéns ao Xavier pelo excelente comentário e por ter trazido este assunto à discussão, dada a importância inquestionável que reveste. Li as notícias em causa :
  • SUCH prepara gestão dos serviços partilhados dos hospitais
    e concluí que:
    a) Na preparação da central de negociação se misturam artigos com importância muito díspar;
    b) Que o SUCH pretende receber “delegação” (?) das “áreas não clínicas” dos hospitais: “… criação de condições para que os hospitais delegassem nesta entidade a responsabilidade de gerir os serviços fora da área clínica que pudessem ser partilhados com outros hospitais”.

    Comentarei apenas o primeiro ponto (definir prioridades e focalizar a Central de Negociação). Uma Central de Negociação é uma boa ideia e trará benefícios assinaláveis aos hospitais e ao SNS se simultaneamente:
    i. Fizer diferença através de ganhos de preço substanciais obtidos por funcionamento especializado e apurado em moldes de gestão, não meramente administrativo;
    ii. Souber priorizar a sua actividade no importante (PF, MCC, equipamentos; focalizando na classe A) e se souber congregar, por escolha livre dos interessados, a maioria das instituições de saúde (em valor de aquisições), pois é sabido que será do poder negocial resultante da dimensão que o resultado referido em “i” poderá surgir;
    iii. Acrescentar valor para as entidades envolvidas – por exemplo, no caso dos hospitais pela disponibilização adicional de informação e SI, pelo apoio e formação de quadros.

    A dispersão referida nada de bom augura mas mais preocupante seria se a Central se dedicasse, e passo a citar, “… para além dos medicamentos…, o catering, a segurança, a lavandaria, a manutenção dos edifícios e a gestão das frotas de automóveis … “ ou, noutra versão, “a frota automóvel e o transporte de doentes, a hotelaria alimentar, a segurança, a manutenção de jardins”. E porquê? Pela confusão de papéis e pelas consequências para a concorrência.

    Porque as actividades não clínicas citadas são áreas actuais do SUCH ou não o sendo constituirão, porventura, áreas para sua expansão futura. Assim o SUCH constituir-se-ia numa entidade dupla:
    Como na rábula seria “Maria Patroa” contrataria e escolheria os concorrentes aos procedimentos que lançasse (acede a informação privilegiada, escolhe e actua como cliente dos fornecedores existentes no mercado);
    Concorreria simultaneamente aos concursos que lançou como “Maria Empregada”, como fornecedor e nas áreas que lhe interessassem (lavandaria, resíduos, manutenção, etc.).
    (esta confusão de papeis na mesma entidade com conflito de interesses é impossível num país da EU, penso eu).
    A concorrência é boa para as empresas, para a população e para competitividade do País, pelo que só podemos fazer a sua defesa, não a sua limitação ou oclusão. Gera benefícios em eficiência, em qualidade e responsividade que são repartidas por todos: própria empresa que inovou; seus clientes e consumidores; seus concorrentes – não tardam a adoptar/adaptar as inovações e responder com outras melhorias; o Estado e outros interessados pelos ganhos gerais (produtividade e menor desperdício de recursos, sustentabilidade e competitividade,…).
    Ora o SUCH não pode evoluir para entidade isolada da concorrência porque esse isolamento condenar-nos-ia a perdermos aqueles benefícios e provocaria consequências nefastas para a própria entidade e para o mercado. Penso que terá havido algum equívoco ou problema de comunicação na referida notícia.
    Semmisericordia
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    9 Comments:

    Blogger tonitosa said...

    Esta matéria surge já com sabor a comida requentada. Na verdade já ha muito se sabe que o SUCH sempre pretendeu ter um tratamento preferencial nas relações "comerciais" com os Hospitais. E começou a perder terreno, por falta de competitividade, com a instituição dos HH SA's, de que um número significativo, em processos de consulta, concluiu não ser o SUCH a melhor opção.
    Mas tudo leva a crer que o SUCH está a caminho de novo fôlego, actuando com uma verdadeira "Unidade de Missão" e sendo "incumbido" de realizar tarefas que deveriam ser executadas pelos HH.
    Mas aceitemos que no SUCH há boas e más experiências. Devemos então aproveitar as boas e aprender com as más para não repetirmos os erros do passado.
    O próprio SUCH, para prestar um bom serviço, teria que se modernizar e ganhar competitividade. Os seus clientes não se podem conter nos HH públicos (empresarializados ou não)devendo procurar clientes na esfera dos privados.
    O que me parece menos correcto é que os HH não integrem a plataforma de compras (qualquer que seja a sua orgânica)delegando em outros uma importante àrea geradora de custos.
    Ora, da entrevista de ACF não se tira a ilação de que seja uma entidade diversa e autónoma a realizar as compars partilhadas.
    Por isso teremos que aguardar novas "notícias" sobre a matéria.

    1:10 da manhã  
    Blogger Farmaceutico de Oficina said...

    Uma boa politica de compras só se faz com boa informação estatistica... quantidades exactras consumidas, preços de aquisicão, produtos perdidos por ultrapassarem o prazo de validade etc... etc..DISSEMINAÇão dessa informação por toda as administrações de todos os hospitais...

    Os senhores AH já possuem essa infomação??? em tempo real e actualizada???

    Sim!!! então pode-se avançar e poupar muito dinheiro...

    Não??? Então é continuar a mandar mais dinheiro dos nossos impostos para a Fogueira do MOnstro!!!

    1:44 da manhã  
    Blogger ricardo said...

    No site dos HH EPE apenas estão disponíveis os relatórios dos seguintes hospitais:
    Hospital Santa Maria Maior,
    Centro Hospitalar do Alto Minho, e Hospital Padre Américo Vale do Sousa.

    O que se passa com a informação dos HH EPE ?
    Será que voltámos outra vez ao tempo de produzir informação para o histórico ?

    Foi bom ter arranjado uma saída airosa para o conflito das farmácias para ver se CC readquire um novo fôlego para tratar da gestão dos hospitais.

    11:02 da manhã  
    Blogger ricardo said...

    Pouco tempo depois de tomar posse o secretário de estado anunciou a intenção de o MS criar uma Central de Compras responsável pela aquisição e distribuição de produtos hospitalares. Na altura referiu uma Central à semelhança da ANF.

    Pelos vistos até agora já se progrediu abandonando a ideia de criar uma rede de distribuição nacional.
    Portanto o que se prewtenderá será a criação de uma Central de Negociação.
    Concordo com o Semmisericórdia: está Central deverá ter escala para poder ter capacidade de negociação.
    Obter bons preços através de processos de negociação com os fornecedores bem conduzidos deverá ser este o único objectivo desta central de negociação.
    Concordo também que as compras a atacar deverão ser as que tem maior peso nas despesas: Medicamentos e Consumo Clínico.

    O Such monopolista das prestações não clínicas dos hospitais é um disparate condenado ao fracasso.
    Não há coragem para reestruturar o Such e então inventa-se como diz o Xavier.

    11:13 da manhã  
    Blogger ricardo said...

    Queria agradecer ao Semmisericórdia
    a grande qualidade das intervenções que tem feito aqui na SaudeSA, prestigiando os economistas da Saúde e os Administradores Hospitalares em particular.
    Deus lhe dê saúde e muitos bons anos porque como o Semmisericórdia há muitos poucos em Portugal.
    Está seguramente entre as maiores cinco estrelas que referiu.

    11:41 da manhã  
    Blogger Xico do Canto said...

    Não sei se a ideia de CC, sobre compras partilhadas, é a que imana das declarações do putativo super gestor do HSM ou da presidente do CA do SUCH. As suas declarações parecem apontar mais para uma plataforma informática capaz de suportar algo do tipo e-procurement. Se assim for poderá ser gerida pelo SUCH. Pessoalmente não apostaria naquela entidade enquanto a sua gestão for entregue a agentes comprometidos com o poder político e não, como deveria ser, com os próprios associados, os HH.

    Imagine-se a administração da ANF entregue a gestores dependentes e nomeados ao sabor dos poderes políticos. Haveria de ser lindo. É que, para além das capacidades dos líderes da ANF, estes são eleitos e nomeados pelos seus associados. Se não demonstrassem capacidade de gestão e defesa dos interesses dos sócios já teriam sido corridos, sem dó nem piedade.

    A falta desta desta lógica de funcionamento é a grande fraqueza do SUCH. Os seus gestores têm as costas protegidas pelo poder político, flutuando ao sabor dos ciclos políticos, fazendo, sempre que necessário, de correia de transmissão dos seus verdadeiros patrões, criando instabilidade, insegurança e falta de rumo estratégico. O mercado far-lhe-á, mais tarde ou mais cedo, o funeral – que já começou.

    E, como muito bem diz o SemMisericórdia, o SUCH não pode ser “Maria patroa e Maria empregada” a seu bel prazer. Que diria AdC?

    Finalmente informo o EDUARDO FAUSTINO que a informação a que se refere ainda não tem, salvo raras excepções, o tratamento que se impõe, tal como ele usufrui nas farmácias de oficina fruto das boas apostas informáticas da ANF.

    11:46 da manhã  
    Blogger tonitosa said...

    Quando os HH SA's iniciaram a sua actividade, estavam já em curso os processos de consulta/concurso (pseudo) para aquisição da generalidades das matérias-primas e bens de consumo para o exercício de 2003. Nada, ou quase nada por isso havia a fazer.
    Para o ano seguinte (2004) ou no fim de contratos de prestação de serviços ao longo de 2003, de acordo com as informações dos diversos CA, foi possível melhorar os custos com reduções que chegaram a ser de mais de 30%.
    Foi também notícia o caso de um Hospital que, no final do contrato de concessão da exploração do refeitório/restaurante fez nova adjudicação por um valor mais do que duplo do anterior.
    Ou seja, há elevado potencial de realização de economias através da redução dos preços de aquisição (e recorde-se que o contrato com o IGIF era restritivo das negociações hospital a hospital) mas também através da racionalização de consumos e controlo dos "desperdícios" (ex. simples: utilização de luvas para fazer balões para entreter as crianças ou utilização de fita adesiva para "remendar" vasos e afixar informação). as eonomias podem ainda ser obtidas pela adequada programação das compras e reposição de stocks.
    Quanto à Central de Compras pode haver interesses na Centralização estranhos aos próprios HH e que convém acautelar. Os "grandes negócios" são sempre muito apetecíveis e acabam, frequantemente, por (dis)simular a concorrência.

    PS.: quem ficou na prateleira com a admissão da directora vinda da Servibanc no HSM? Agora essas "substituições" já não são criticáveis?
    Por mim, estou à-vontade pois sempre achei que a "mobilidade" pode e deve ter lugar!

    1:05 da tarde  
    Blogger saudepe said...

    Mais uma excelente análise do Semmisericórdia.

    Criação de um Serviço de Logistica, um "pipeline Logístico" à semelhança da ANF, como chegou a ser anunciado pelo CC : Não.

    Uma Central de Negociação com escala Nacional para obtenção dos melhores preços para os medicamentos e consumo clínico : Sim .

    O Such é de qualquer forma uma má escolha.
    Todos sabemos que o Such trabalha mal e caro.

    Se a notícia do DE é correcta estamos perante mais uma trapalhada permitida por CC.

    O sector privado tem larga experiência neste campo.
    Que diabo quando se trata de prestação de cuidados não pestanejamos em concessioná-los aos privados com escassa ou nenhuma experiência. Nesta área em que são verdadeiros peritos andamos para aqui a encanar a perna à rã.

    10:48 da tarde  
    Blogger tonitosa said...

    Caro CamusNortada,
    Eu ja expressei, tal como outros, opinião sobre a matéria.
    É defacto o momento de nos dizer qual é a sua opinião, dado que acha um erro a criação de uma Central Única.
    Não guarde para mais tarde...a explicação que tem para nos dar.

    5:51 da tarde  

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