quinta-feira, dezembro 14

Reduções arbitrárias



Reduzir arbitrariamente o preço dos medicamentos em 6% é fácil e poupa inclusive o trabalho intelectual de procurar um valor racional e cientificamente fundamentado.
No entanto, como
MPA muito bem refere e eu próprio já o escrevi em diversas ocasiões, é uma medida que não pode ser repetida indefinidamente, pois é susceptível de originar perversões (no comportamento da IF) bastante mais custosas do que o problema que inicialmente se pretendia resolver.
Além disso, não ataca a verdadeira questão, o que o
Xavier aliás explica muito bem no seu texto.
Esta medida serve apenas para criar uma bolsa de ar que permita a CC sobreviver ao próximo défice. No entanto, não tenho a certeza que o consiga, pois a questão dos 6% não é a mais importante neste caso (recordemo-nos que anteriormente embora CC também tenha reduzido os preços em 6%, para além de ter descomparticipado ou reduzido comparticipações de centenas de medicamentos, as poupanças para o SNS foram inferiores a 3%...).
Se verificarmos as alterações introduzidas à forma como se calculam as margens de lucro, observa-se que a redução para a IF foi muito inferior a 6% (embora só a IF saiba quanto, pois a sua margem de lucro em cada produto é desconhecida). No entanto, a IF surge publicamente como credora e como sector atacado por CC. Nesse sentido, sentir-se-á com legitimidade politica para exercer as habituais manobras criativas que permitam repor o lucro supostamente (à luz da opinião pública...) perdido.
Por exemplo, se nem todos os produtos proporcionam a mesma margem de lucro, é possível direccionar as acções de promoção de vendas para os mais interessantes sob esta perspectiva. Do mesmo modo, é também possível promover a prescrição de embalagens de maiores dimensões e manter esgotadas ou com stocks muito reduzidos as de menor dimensão...
Sejamos claros: sem uma intervenção sobre a prescrição (nos moldes referidos pelo Xavier e por MPA) CC não tem qualquer hipótese de enfrentar a IF.
E na ânsia de irritar a ANF (o que aliás conseguiu) CC introduziu discretamente uma alteração na forma de calcular as margens de lucro que favorece ainda mais a IF.
Ou seja, CC apostou mais uma vez no cavalo errado: atacou quem actualmente tem pouca capacidade de interferência nos gastos com medicamentos e poupou ou favoreceu ainda mais os responsáveis pelo actual estado de coisas.
O estranho de tudo isto é que o país aplaude e reage como se o Ministro estivesse de facto a fazer alguma coisa de significativo...
vladimiro Jorge Silva
Nota: Agradecia, caso estejam de acordo, que os Blogs da Frente afixassem este post.

5 Comments:

Blogger NM said...

NEM MAIS......

Os meus aplausos para este post do Vladimiro.

Parabéns

5:56 da tarde  
Blogger Peliteiro said...

Vladimiro, após férias, ainda em melhor forma.

7:50 da tarde  
Blogger helena said...

Um excelente post.

Realmente na Política do Medicamento CC vai fazendo o que pode.

Entretanto há alguns hospitais dispondo de um nível de informação razoável que lhes permite fazer alguma gestão da prescrição.

10:12 da tarde  
Blogger xavier said...

A realidade que existe acerca de todo o tipo de medidas que são feitas de forma cega e global é sempre a história de apertar um balão cheio de ar. Apertamos e o balão fica mais pequeno mas, depois, o ar vai para outro lado.
Tipicamente o que acontece quando temos medidas destas, globais, é que a indústria, que tem muita criatividade, acaba sempre por encontrar outros lugares onde fazer crescer a despesa. São medidas que têm sempre impacto a curto prazo, mas a longo prazo há sempre uma compensação e, no final, a medida acaba por sempre muito menos eficaz.
Miguel Gouveia

1:20 da manhã  
Blogger ricardo said...

O próprio CC reconhece que as medidas administrativas apresentam resultados que deixam muito a desejar.

A Indústria consegue sempre, de uma maneira ou doutra, manter as elevadas margens de lucro.

10:22 da manhã  

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