domingo, março 11

Ainda as Urgências (2)


Cara Clara:
Cumprimento-a, bem como a todos de quem recebi comentários, por mostrar que vem ao Saudesa mesmo nos fins-de-semana, diferentemente dos que aparecem apenas nos dias úteis.
Não estou a criticá-los porque há várias razões, aceitáveis, para que assim seja.

Cumprimento-a também pela explicitação que faz das conclusões que podem ser inferidas do meu posicionamento perante o projecto de classificação das Urgências e sobre o debate que nele incidiu.

Ficará certo tudo quanto diz, com uma pequena, mas importante, correcção e com dois pequenos aditamentos.

1. - A correcção: “este projecto deve basear-se, em grande parte, na reafectação dos recursos humanos disponíveis”. Desculpe, se a minha posição não ficou tão óbvia como pretendi. O que penso é que não deve ir-se por aí:

i) porque isso significaria desviar recursos da actividade programada e da área dos cuidados de proximidade (CS/USF), onde eles devem ser acrescentados e não diminuídos, se o que se pretende é oferecer aos utentes uma alternativa ao recurso às urgências (combater as “falsas urgências”). É a primeira das razões pelas quais duvido que tenha sido acertada a decisão de prever o nível SUB na RRU.

ii) - Outra razão está no pouco que este nível SUB poderá acrescentar, em termos de intervenção, ao socorro pré-hospitalar, impondo-se aqui uma análise de custos/benefícios que, nos custos, não poderá ignorar o alongamento do tempo até à chegada do doente a um ponto de SU com a capacidade de intervenção necessária (SUMC ou SUP), com consequências que podem ser fatais para o doente.

iii) - A última razão é de ordem conceptual: o SU deve visar situações de emergência ou de urgência; para o seu atendimento requer-se muito mais do que 2 médicos e 2 enfermeiros (B.O, Análises, RX, etc., em permanência). Garantir esses recursos nos 27 SUMC já não será coisa pouca. Pretender que existam também nos 42 SUB não seria muito ambicioso, mas sim um equívoco ou hipocrisia pura. Isto é, as SUB não são carta deste baralho.

2. – Primeiro aditamento: “Prognósticos só no fim do jogo, como respondeu o “grande artista” (JVP). O debate, o que fez foi antecipar previsões, com maior ou menor dose de razoabilidade, mas necessariamente subjectivas. Avaliar é outra coisa, só possível depois de decorrido tempo sobre a implementação, conhecidos que sejam dados objectivos que atestem os resultados num ou noutro sentido, e – para ser global – tanto sobre o socorro de urgência como sobre as suas implicações nas restantes áreas do SNS. A procissão ainda não saiu do adro. Se, a seu tempo, a avaliação for positiva, os políticos não perderão tempo e virão reivindicar os louros, apesar do preço que tiveram de pagar nesta fase.

3. – Segundo aditamento: Por isso são muito importantes os trabalhos que ficam agora em agenda. O primeiro Relatório da CTAPRU localizou os pontos de SU e enunciou os critérios para tanto adoptados. Mas foi parco em definições. Concretamente não refere qual a intervenção que se espera das SUB, nem mesmo das SUMC. Então, se o que me move é o desejo de contribuir para que o SNS seja melhor, e não se degrade, ainda é tempo para referir aspectos que parecem negativos e podem ser corrigidos ou minorados.
AIDENÓS

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3 Comments:

Blogger Vladimiro Jorge Silva said...

A frase dos prognósticos não é de JVP, mas sim do outro João Pinto, o do FCP! O seu a seu dono!

10:27 da manhã  
Blogger ricardo said...

A confusão parece ser grande.

À primeira vista, de acordo com a informação disponível, os SUB parecem ser vocacionados para o atendimento das situações agudas e não dos casos urgentes. Mais próximos da configuração dos actuais SAPs parecem mais vocacionados para integrarem a rede de cuidados primários do que a rede nacional de urgências.

1:54 da tarde  
Blogger Coleguinha said...

Aidenós, a estranheza da criação do nível SUB é generalizada. Lembro-me de ler aqui um extracto de um artigo do Prof. Paulo Moreira (publicado em Novembro de 2006?) a denunciar precisamente a fraqueza científica da justificação dos 3 níveis para a nova confirguração dos SU. É isso que quer dizer?
Nessa altura o texto estava em disucssão pública. Agora, já não sei se está.
Também em lembro de ler no mesmo artigo do Prof. PM que o 'estudo' realizado não se debruçou sobre a questão dos impactos nos recursos humanos e, mais grave ainda, PM alertava para a ausência de discussão sobre as competências existentes versus as necessárias na perspectiva de emergência multidisciplinar (com uma alusão a um processo semelhante de reforma ocorrido em Inglaterra). Afinal, o que andam aqui a discutir? sempre as mesmas coisas?

Quem decidiu os 3 níveis de SU não foi o próprio ministro antes da comissão terminar o trabalho? !!!!

Aliás isso já é um hábito em CC pois fez o mesmo na comissão para a sustentabilidade quando tomou decisões que estavam a ser estudadas antes do 'estudo' estar terminado (exº: a introdução de taxas moderadoras, mais tarde chamadas de taxas de 'punição' e que deverão ser abolidas em 2009 depois do Povo correr com esta cambada de pseudo-socialistas).

CC é uma anedota mais triste a cada dia que passa. E Sócrates parece um dos irmãos Max (Adivinhem qual...).

5:19 da tarde  

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