sábado, março 24

Monopólio


A CONSISTE, link empresa de tecnologias de informação do universo empresarial da Associação Nacional das Farmácias (ANF), dirigida pelo engenheiro Costa Freire, adquiriu recentemente a CPCHS – Companhia Portuguesa de Computadores, Healthcare Solutions, S.A., link empresa responsável pela gestão do SGICMSistema de gestão Integrada do Circuito do Medicamento (gestão dos Serviços de Aprovisionamento e Farmácia dos Hospitais, integrada com a Prescrição Médica Hospitalar), na maioria dos hospitais do SNS.
Esta solução da CPCHS foi desenvolvida com a colaboração dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).

A exploração do SGICM pela CONSISTE levanta um conjunto de problemas que importa, a breve trecho, analisar. Limitar-me-ei, nesta post, a enunciar alguns dos pontos mais importantes:

a)- A ANF através da CONSISTE passou a ter acesso ao conteúdo da Base de Dados (BD) sobre o consumo e prescrição de medicamentos hospitalares;

b)- A ANF organizou e explora a única BD fiável sobre os medicamentos dispensados pelas farmácias comunitárias, prescritos pelos médicos do SNS;

c)- Que consequências podemos prever da concentração destas bases de dados (prescrição e dispensa de medicamentos do SNS) na CONSISTE?

d)- A CPCHS mantinha com o HUC um acordo especial, relativamente à exploração do SGICM, uma vez que esta solução foi desenvolvida, ao longo de vários anos, com a colaboração dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Será que este acordo vai ser mantido?

e)- A ANF, além do comércio retalhista, detém parte importante do sector armazenista e de distribuição de medicamentos. Dentro em breve passará a ser responsável pela exploração das farmácias hospitalares em processo de concessão. A ANF com a compra da CPCHS passou a dominar também um importante sector dos sistemas de informação da Saúde. Esta concentração crescente de poderes na ANF, traduzir-se-á certamente em dificuldades crescentes na gestão do SNS.

f)- Há indícios que a nova empresa, responsável pelo SGICM, se prepara para rever em alta os encargos dos contratos de assistência técnica e de prestação de serviços, a suportar pelos HHs do SNS, relativos à exploração desta aplicação informática;

g) - Atendendo às circunstâncias especiais atrás referidas, a aquisição da CPCHS pela CONSISTE não devia ser objecto de apreciação por parte da AdC?

15 Comments:

Blogger Peliteiro said...

Desculpema a ligeireza mas dado o adiantado da hora, não li o texto todo, passei os olhos e detive-me na última frase:
« aquisição da CPCHS pela CONSISTE não devia ser objecto de apreciação por parte da AdC?»

Disseram AdC? Aahahahahahahaha

2:15 da manhã  
Blogger El Unclo said...

Já tinha abordado esta questão com alguns colegas...
A questão é que a AdC analisa em termos de concentração e não de integração vertical. Ou seja, por exemplo: se a BP ou a Esso decidir comprar a Ford, nada a opor. Agora se a BP decidir comprar a Esso, então há problemas...

Em termos práticos, já existem outras soluções informáticas e assim que o produto SGICM deixar de ser apetecível, outras empresas avançarão com produtos próprios (o que actualmente não fazem porque o SGICM domina o mercado).
Já em termos éticos... é de começar a falar com os responsáveis informáticos sobre qual a vulnerabilidade dos dados. E com os serviços jurídicos sobre como nos podemos proteger...
Acho que ainda não é por aí que o gato vai às filhozes, mas temos de nos manter atentos ao desenvolvimento desta situação.

2:32 da tarde  
Blogger madCientist said...

Em tempo de crise há-que saber aproveitar as oportunidades. O Dr. Cordeiro soube muito bem aproveitar essas oportunidades, não me admira nada que qualquer dia o CC ainda saia a pedido do JC!

Eu apoio a ANF!

5:53 da tarde  
Blogger ricardo said...

Tudo que tem sido feito para combater o poder da ANF tem sido para inglês ver.

Afinal "o monstro" tem crescido como nunca nos últimos anos.
Aliás recentemente apadrinhado pelo primeiro ministro na inauguração do LEM.

6:36 da tarde  
Blogger Vida Nova said...

Excelente post do Xavier, oportuno, sintético e na mouche.

Esta aquisição coloca 2 problemas: concentração/poder de monopólio e domínio de informação privilegiada sobre medicamentos.

É grave que uma firma obtenha o monopólio ou quase e depois o use para espremer os clientes, parece que os preços já começaram a subir. Motivo para a AdConcorrência actuar e atender a que ANF já domina as farmácias-oficina e a distribuição de medicamentos, situação que acresce e agrava, agora, com a dupla invasão dos hospitais pela concessão de unidades e a detenção software .

É grave porque passará a poder aceder a TODA a informação sobre cada prescritor (perfil do médico no hospital e na actividade privada), sobre preços e consumos de produtos farmacêuticos.
Interessa ao MS, à OM e à Apifarma - também à ADC pelo poder que acrescenta à situação actual que é já excessiva.

Penso que estamos perante um reflexo de dois problemas:
Falta de mercado concorrencial em informática (mais empresas, com solidez e dimensão);
Ausência de um grande comprador do MS, seja uma verdadeira central de compras como foi referido aqui há tempos.
As decisões têm custos mas as omissões também. Esperamos que ainda não seja tarde.

8:09 da tarde  
Blogger Farmaceutico de Oficina said...

Caros colegas,

A eficiencia tem destas coisas... pode ser que agora os farmaceuticos possam dar uma mãozinha, aos sistemas de informação do medicamento hospitalar para que os nossos ilustres colegas AH possam tomar decisões baseados em dados fia'veis... ainda ha pouco tempo se queixavam que os SI estavam num caos...
Um abraco
eduardo

10:54 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Penso que se está a confundir concorrência com acesso à informação.
Na verdade, qualquer que seja a empresa, ela terá sempre acesso à informação. Outra coisa é o uso dessa informação.A CPCHS foi adquirida pela CONSISTE que ao que se sabe, sendo ums empresa da área das tecnologias da informação, não fica com domínio do sector das tecnologias da informação. Logo a AdC não tem que ser para aqui chamada. Monopólio? Porquê?
Então que dizem, caros colegas, da empresa contratada para informatização das Urgências dos HH (todos os do SNS) com o famoso sistema ALERT e com perpectivas do seu alargamento a outras áreas dos HH do SNS?
Não vi que isso tenha sido objecto de comentários e preocupações neste nosso blog, quando abordei a forma como foi adjudicada essa solução.
Será que é afinal o papão chamado ANF que assusta? Porquê tanta perseguição à ANF e a JC?
Ou serão requícios de uma passagem de Costa Freire pela Saúde que não deixou "boas recordações"?
Num país onde tanto se fala em INFORMAÇÃO não devem os dados sobre prescrição e consumo de medicamentos ser tornados públicos pelo próprio MS? E não deve o MS actuar por essa via se o "poder" da ANF, também nesta matéria, estiver nas suas preocupações?

12:04 da manhã  
Blogger coscuvilheiro said...

Esta aquisição é mais uma provocação ao Ministro da Saúde e uma afronta aos profissionais do SNS.

As relações CC e JC, fazem-me lembrar as provocações do Pinto da Costa (agora muito calado com o apito dourado) ao Benfica.
O maior gozo de PC foi sempre comprar os jogadores dissidentes do Benfica.

Só que a compra da CPCHS pela CONSISTE não é a brincar. Enquadra-se no projecto de domínio do negócio da Saúde pela ANF.

2:04 da manhã  
Blogger NM said...

Folgo por vêr que o joaopedro mudou de discurso. Deixou de insultar os farmaceuticos e passou a chamá-los de "gente competente e trabalhadora".

AdC a intervir neste caso? É para rir!!!

11:00 da manhã  
Blogger saudepe said...

Portugal é um país terceiro mundista onde uma Associação corporativa de farmacêuticos governa a Saúde.

A ANF tem demonstrado sempre ter mais poder que o próprio Estado.

José Sócrates também já compreendeu isso. E foi vê-lo prazenteiro na inauguração do LEM.

Somos um país de Chicos Espertos e Cobardolas.

5:07 da tarde  
Blogger Clara said...

Esta compra da CONSISTE foi a gota d´água.

O Estado tem de parar o poder da ANA. A qualquer preço.

Já vimos até onde o primeiro ministro é capaz de ir.

Há que descobrir um novo apito dourado Que os há.

Há que desenvolver um esforço para esclarecer os profissionais farmacêuticos sobre a viagem perigosa em que embarcaram.

5:17 da tarde  
Blogger martinho said...

Clara, a sua sugestão é que é tipica de um país terceiro mundista. Inventar um apito dourado na saúde? até nem era dificil mas talvez a surpreenda que a ANF até nem é a mais séria candidata: Convencionados, Sigic, Amadora/Sintra, Misercórdias, pense lá em mais...

5:49 da tarde  
Blogger Clara said...

Olhe que não é preciso inventar.

A SaudeSA serviu durante demasiado tempo de veículo de intervenção de vários elementos defensores da ANF.
Várias vezes alertei para o facto.
Mais vale tarde do que nunca. Chegou a altura de mudar.
Á compra da CPCHS foi a gota dágua, repito.
Estão a fazer pouco de nós.
É necessário combater o monstro.

9:12 da tarde  
Blogger NM said...

Clara,

Parece que é crime defender os interesses dos proprietários de Farmácia. Garanto-lhe que a ANF tem e sempre teve a "folha limpa" (lembre-se que quando a ANF comprou a Alliance Unichem a PJ esteve nas suas instalações uma série de dias a vasculhar tudo), portanto apitos dourados na saúde só se fôr com outros intervenientes.

Não percebo qual o problema de defender a ANF, desde que se faça com educação e debate de ideias. Parece que querem tornar este blog num blog que fala a uma só voz, num "Yes man".

Uma das coisas que me levou a consultar diariamente este blog, foi o grande debate de ideias (bem coordenado, pelo outrora isento, Xavier) que sempre houve, com respeito e elevação.

Neste momento parece que se pretende banir quem não concorda com algumas opiniões.

Para mim, o Saudesa, já está mais pobre. Tenho constatado que o guidobaldo, o JFP e o Vladimiro não têm comentado os posts do Xavier. Se é isto que pretendem, só me resta dar-vos os parabéns porque parece que estão a conseguir.

Peço desculpa pela correção saudepe, mas é LEF (Laboratório de Estudos Farmacêuticos) e não LEM.

9:54 da tarde  
Blogger Clara said...

A bem da transparência.

Cada um deve fazer uma reflexão sobre o lugar a que pertence e evitar a produção de ruído nos locais onde se pretende, efectivamente, discutir os problemas da saúde e não defender os interesses de classe.

11:08 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home