segunda-feira, abril 9

Arranjo de Negócios

A capitulação do XVII Governo Constitucional ao Patriarca das Farmácias
João Cordeiro (JC) conseguiu fazer passar a mensagem de que a "liberalização" da propriedade das farmácias era uma "monstruosidade". Essa mensagem não foi construída só para os farmacêuticos ou para um público mais ou menos seleccionado.
Ela chegou também ao poder.
Daí que o "compromisso com a Saúde" esteja pejado de "medidas potencialmente compensadoras para o sector". Algumas delas aparecem sob um abrangente - e ao que me parece inesgotável - quadro de "serviços farmacêuticos". Nomeadamente o estatuído no artº. 13.º, do referido acordo:
- serviços farmacêuticos, designadamente domiciliários, em especial para apoio à terceira idade;
- produtos naturais;
- produtos veterinários;
- produtos de saúde e conforto;
- vacinas não incluídas no Plano Nacional de Vacinação da Direcção-Geral de Saúde, administração de medicamentos e primeiros socorros;
- meios auxiliares de diagnóstico e terapêutica;
- campanhas de informação e programas de cuidados farmacêuticos."

Assim, não é transparente, no que diz respeito aos serviços farmacêuticos domiciliários, a especificação do apoio à 3ª idade. Tratar-se-à da abertura de uma nova frente (para a ANF - não para as farmácias) na sensível área dos cuidados continuados?
Mais, no referido compromisso, deixa-se a porta aberta para outros "espaços" como por exemplo:
- os produtos veterinários (medicamentos veterinários já eram aí vendidos - produtos é um âmbito mais alargado);
- os produtos naturais (em franca concorrência com herbanários, naturopatas, etc.);
- os produtos de saude e conforto (ao arrepio das lojas de cosméticos, dos institutos de Beleza, etc.)
Na realidade um substancial e real alargamento de mercado à custa de uma eventual penalização do sector, dependente da "liberalização". Isto é, um excelente negócio - o "compromisso" de compensar eventuais perdas com reais lucros.
Isto não é um "compromisso com a saúde" é um arranjo de negócios.

Finalmente, a saúde propriamente dita.

a) as vacinas - grande parte destas são administradas sob a forma injectável (entra-se aqui no domínio do sector de enfermagem, desprezando as frequentes sensibilizações, p. exº., ao thimerosal...)
b) a administração de medicamentos - um problema identico às vacinas, desconhecendo, p.exº., se neste capítulo estão incluidos os injectáveis IM e IV e se as farmácias têm meios técnicos e humanos (para além de instalações que protejam a qualidade dos serviços a prestar e privacidade do doente) para enfrentar, p. exº., reacções do tipo anafilático...
c) finalmente, a administração de primeiros socorros - ninguém conhece o âmbito deste item. De qualquer modo entra-se aqui, claramente, na área médica, no âmbito da enfermagem e dos socorristas (bombeiros, p. exº.)
Os primeiros socorros são muito exigentes e requerem treino sustentado.
Em primeiro lugar, implicam, p. exº., o reconhecimento dos diferentes tipos de acidentes: queimaduras,hemorragias ,traumatismos, feridas e fracturas ;
Mais, capacidade em iníciar, de imediato, a prestação dos primeiros cuidados, de acordo as normas protocoladas;
Finalmenmte, o "compromisso" intromete-se na área médica, como p. exº., a identificação de situações de paragem cardio-respiratória e a capacidade técnica para de imediato inciciar medidas de suporte básico de vida;

Este "Compromisso pela Saúde" é, antes de tudo, um vasta deambulação pelo mercado da sáude à procura de novas oportunidades de negócio.
E as farmácias ciosas do seu actual desempenho com qualidade (que é real) estão a carregar areia demais para a sua camioneta... Os resultados estarão para vir!

As "compensações" são excessivas, invasivas de outros sectores da saúde e transcendem o equipamento, as instalações das farmácias. Finalmente, os conhecimentos dos farmacêuticos e dos ajudantes de farmácia estão aquém das exigências implicitas no articulado no "compromisso".

Bem pode, JC, falar em "sacrifícios" e lamentar-se publicamente porque o que, na realidade, lhe foi prometido, foram infindáveis e injustificadas benesses.

É-Pá

4 Comments:

Blogger Clara said...

O compromisso com a Saúde, pelos visto um acordo negociado pelo nosso engenheiro, configura um arranjinho para a ANF se lançar em novos negócios da Saúde (já tem poucos!).
Acontece que esta mão beijada de benesses à ANF, é dada, por este Governo, com o sacrifício e o lançar da confusão noutras áreas onde actuam profissionais de outras especialidades (socorristas, enfermeiros e médicos).
É a chamada política de tudo ao molho e fé em Deus.

12:09 da manhã  
Blogger ricardo said...

Lembram-se do acordo estabelecido entre o secretário de estado da ministra Leonor Beleza, de seu nome Costa Freire, e a ANF, que permitiu a criação do fundo financeiro de adiantameto às farmácias do valor dos créditos sobre o Estado, em troca do desconto de 1,5% do valor da facturação das farmácias associadas e que fez com que a ANF se enchesse de dinheiro?

Pois bem, foi sempre assim que a ANF construiu o seu desmesurado poder.

O XVII Governo não foge à regra e aí está ele a dar mais um novo impulso.

Venha a Liberalização a ver se isto se reequilibra um pouco.

12:24 da manhã  
Blogger helena said...

Excelente post. Certeiro. Parabéns ao É-Pá.

2:23 da manhã  
Blogger Peliteiro said...

Concordamos então todos que JC deu quinze a zero a CC?

11:17 da tarde  

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