domingo, maio 13

Ghost authors


O E-pá já vai no medicamento. Grande velocidade mas cuidado com as curvas.

Só para acepipe:

1. O país já conheceu listas de espera terapêuticas - vulgo, já que gosta de utilizar as palavras correctas - racionamento, nomeadamente para os agentes biológicos no tratamento dos diversos reumatismos.

2. Fique a saber que as Associações de Doentes são habitualmente financiadas pela Indústria Farmacêutica e que alguns países com consciência disso estão disponíveis para as financiar.

3. A maioria dos indivíduos com saberes suficientes para "guideliners" estão envolvidos com a Indústria Farmacêutica.

4. A pergunta interest-based ou evidence-based é uma questão em cima da mesa de todos os especialistas do medicamento.

5. Sabe o que são ghost authors ?
Abraço.

Cavalinho da Chuva

2 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro "cavalinho da chuva":

Mal andaríamos - e pior estaríam os doentes - se, os médicos, não se mantivessem atentos ao medicamento..., melhor, à política do medicamento.
Os meus cuidados (...com as curvas) - nomeadamente à volta das "evidence policies" e dos impostos "guideliners" (muitas vezes sem "honoris causa") - são muito lineares e directos:
"não confiar os pintos à guarda da raposa..."

Finalmente, para continuarmos a degustar acepipes:
- será fácil, nos dias que correm, distinguir os "ghost authors" dos "guest authors"?

Um abraço.

12:05 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Adenda

Um dos paradigmáticos exemplos de como se pode maltratar a evidência científica foi o comportamento do MS e da AR (as “culpas” são mútuas…) no caso português da vacina contra o HPV.
No debate parlamentar promovido pelo Partido Ecologista “Os Verdes”, em 18.04.2207, o Governo nem se dignou fazer representar.
O que estava em causa era julgar da oportunidade de incluir, ou não, a nova vacina no PNV. Exactamente uma situação onde a evidência científica era determinante para a decisão política.
Porque, a evidência científica vive da discussão, da confrontação e dos desejados consensos.
E, a evidência científica afoga-se nas ausências e dilui-se no alheamento.

Mas haveria outras razões para o MS estar representado. O cancro do colo do útero – imputado a infecções pelo HPV – é a 2ª. causa de morte a nível mundial.
Em Portugal, a situação é concordante com estes dados. Segundo os dados referenciados haverá, no nosso País, 300 casos mortais/ano.
E nos rankings europeus, colocamo-nos à cabeça, com a mais elevada taxa de incidência.
Trata-se, portanto, de um importante problema de SAÚDE PÚBLICA onde existe uma óbvia necessidade de intervenção.
Por quem?
- Pelo MS que estava ausente, provavelmente, a dissecar custos/benefícios/efectividade. Trata-se, nem mais nem menos, do seguinte “grupo-alvo”: a população escolar feminina do ensino secundário e superior. Esta análise absolutamente necessária para a planificação e definição das políticas de saúde (não é preciso repetir que os recursos são finitos…), não dispensa a discussão científica e estratégica.

Há ainda um factor de ordem social do qual o MS não se pode alhear. Para esta vacina foi emitida uma AIM pelo INFARMED (em 20 de Setembro de 2006, a Comissão Europeia concedeu à Sanofi Pasteur MSD SNC uma Autorização de Introdução no Mercado, válida para toda a União Europeia)e a mesma passou a ser vendida, a quem tenha disponível para gastar (ou investir) 481,35 euros (1), nas farmácias portuguesas.
O Estado não pode assumir, no campo social, atitudes hipócritas. Como seja: dar-se por satisfeito com a evidência no sentido de autorizar a sua introdução no mercado e quando confrontado com um passo em frente, isto é, a sua inclusão no PNV, visando manter a níveis de equidade na sua acessibilidade, essa mesma evidência é, no Parlamento, pelo partido que suporta o Governo, colocada em causa. Os portugueses não compreendem esta dualidade. Pelo menos a sua comparticipação deveria ter sido desbloqueada.

Até aqui tratamos de comportamentos de fuga e de deambulações… sobre evidências.

É também evidente que os benefícios esperados da vacina contra o HPV apresentam, ainda, algumas lacunas por esclarecer. E, mais, salvaguardada a atitude socialmente discriminatória que impende sobre a venda, sem comparticipação, nas farmácias de uma vacina que custa mais 78 euros do que o ordenado mínimo nacional (403 €), resta reconhecer que as dúvidas levantadas pelo grupo parlamentar do PS são legítimas, do ponto de vista da evidência científica. Isto é, a evidência “disponível” não é, no momento, totalmente “confiável”.
Portanto, o pedido de inclusão da vacina no PNV, feita pelos “Verdes” foi, em termos de evidência científica, prematuro. Nunca poderia ser feita antes do conhecimento e análise dos resultados do ensaio clínico na fase III.

Hoje, já existem mais dados disponíveis dos que estavam acessíveis em Abril. Estou a referir-me aos resultados do estudo na Fase III publicados, no início deste mês, pelo New England Journal of Medicine. Hoje, há mais evidência científica “disponível”.

Falta pegar nessa “carga de evidências” e, com metodologia correcta (grupo de trabalho interdisciplinar), trabalhá-la.

Permaneciam, na altura, em aberto muitas questões, a saber:

- vacina contra os HPV’s para 4 tipos 16, 18, 6 e 11 (Gardasil®) ou vacina mais restrita (com menor custo?) para 2 tipos 16 e 18 (Cervarix ®) ?
- a fraca capacidade oncogénica do HPV (tipos 6 e 11), justificam a sua inclusão na vacina quadrivalente, actualmente disponível?
- a vacinação bivalente tem uma “protecção cruzada” para diferentes tipos de HPV o que lhe poderá conferir maior eficácia ?
- esse “alargamento do espectro”, aparentemente desnecessário, afecta o preço final?
- a vacina é eficaz no homem?
- a vacina protege durante quanto tempo? (4 anos?, mais?)
- são necessários “rappels”?
- o alvo de promoção pretende atingir exclusivamente as adolescentes em período de pré-infecção pelo HPV?
- a vacina tem capacidade para modificar a história natural de uma infecção HPV pré-existente? (é uma vacina exclusivamente profilática ou, também, terapêutica?)
- e mais haveria…

Do que consegui aperceber-me, nem todas estas questões foram cabalmente esclarecidas ou estão resolvidas pelos estudos prospectivos da Fase III (FUTURE I & FUTURE II) trazidos a público recentemente. O recuo, por exemplo, não excede os 3 anos.

Todavia a mensagem que passou para o exterior, após a discussão na AR, foi de que este assunto morreu aí.
Nada será mais pernicioso para um problema de saúde pública - não a vacina mas a incidência e a taxa de mortalidade por cancro do colo do útero - do que a displicência dos decisores.
Penso que a DGS deveria após a decisão comunitária em Set 2006 (muito antes do alerta do partido “Os Verdes” que mereceu o apoio de toda a oposição parlamentar) ter criado e mantido activo um grupo de estudo para exactamente tratar das questões de “evidência científica” sobre as duas novas vacinas. Um grupo alargado capaz de abranger estruturas do MS e a comunidade científica especializada e/ou interessada nesta matéria.
O MS não pode ser um mero expectante do previsível confronto entre a Merck/Sanofi Pasteur e a Glaxo que, para além das questões científicas ligadas à investigação e da orientação e condução dos ensaios clínicos em curso, envolvem poderosos interesses financeiros, da comercialização e da inerente luta por quotas de mercado.
O MS tem de passar a imagem de que está atento e, no dia a dia, trabalha sobre às inovações terapêuticas, porque estas, podem trazer benefícios aos doentes.
Em resumo, preparar as decisões políticas que, com os dados recentes, se revelam próximas. A meteórica velocidade que se verifica no trânsito de informações, entre Portugal e os restantes países europeus, não dá grandes margens para “compassos de espera”.
Em minha opinião, independentemente da decisão poítico-económica, a campanha de informação, já deveria estar desenhada ou, pelo menos, esboçada.

A persistência da não-comparticipação da vacina e a ausência de um programa informativo e educativo para a população sobre este assunto, acabará por deitar por terra toda a ideia de prevenção do cancro. E quando desacreditamos a prevenção ferimos de morte qualquer estratégia futura (e com futuro) para a Saúde.

Não basta teorizar sobre a influência da “evidence-aware policy” nos centros de decisão.
Isso pode ficar para PKM discorrer no DE.

Ao falarmos em evidência científica não podemos, na praxis, submetê-la a “tratos de polé”.



(1) – Um exemplo de economia de escala (só possível de negociar por organizações/entidades públicas): O programa federal Vaccines for Children / CDC – USA, negociou um preço de 288 dólares pelas três séries da vacina Gardasil. Isto é, à volta de 213 euros. Uma virtual “comparticipação” superior a 50% do PVP em Portugal!

10:03 da tarde  

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