Vacina contra o HPV
Um dos paradigmáticos exemplos de como se pode maltratar a evidência científica foi o comportamento do MS e da AR (as “culpas” são mútuas…) no caso português da vacina contra o HPV.
No debate parlamentar promovido pelo Partido Ecologista “Os Verdes”, em 18.04.07, o Governo nem se dignou fazer representar.
O que estava em causa era julgar da oportunidade de incluir, ou não, a nova vacina no PNV. Exactamente uma situação onde a evidência científica era determinante para a decisão política.
Porque, a evidência científica vive da discussão, da confrontação e dos desejados consensos.
E, a evidência científica afoga-se nas ausências e dilui-se no alheamento.
Mas haveria outras razões para o MS estar representado. O cancro do colo do útero – imputado a infecções pelo HPV – é a 2ª. causa de morte a nível mundial.
Em Portugal, a situação é concordante com estes dados. Segundo os dados referenciados haverá, no nosso País, 300 casos mortais/ano.
E nos rankings europeus, colocamo-nos à cabeça, com a mais elevada taxa de incidência.
Trata-se, portanto, de um importante problema de SAÚDE PÚBLICA onde existe uma óbvia necessidade de intervenção.
Por quem?
- Pelo MS que estava ausente, provavelmente, a dissecar custos/benefícios/efectividade. Trata-se, nem mais nem menos, do seguinte “grupo-alvo”: a população escolar feminina do ensino secundário e superior. Esta análise absolutamente necessária para a planificação e definição das políticas de saúde (não é preciso repetir que os recursos são finitos…), não dispensa a discussão científica e estratégica.
Há ainda um factor de ordem social do qual o MS não se pode alhear. Para esta vacina foi emitida uma AIM pelo INFARMED (em 20 de Setembro de 2006, a Comissão Europeia concedeu à Sanofi Pasteur MSD SNC uma Autorização de Introdução no Mercado, válida para toda a União Europeia)e a mesma passou a ser vendida, a quem tenha disponível para gastar (ou investir) 481,35 euros (1), nas farmácias portuguesas.
O Estado não pode assumir, no campo social, atitudes hipócritas. Como seja: dar-se por satisfeito com a evidência no sentido de autorizar a sua introdução no mercado e quando confrontado com um passo em frente, isto é, a sua inclusão no PNV, visando manter a níveis de equidade na sua acessibilidade, essa mesma evidência é, no Parlamento, pelo partido que suporta o Governo, colocada em causa. Os portugueses não compreendem esta dualidade. Pelo menos a sua comparticipação deveria ter sido desbloqueada.
Até aqui tratamos de comportamentos de fuga e de deambulações… sobre evidências.
É também evidente que os benefícios esperados da vacina contra o HPV apresentam, ainda, algumas lacunas por esclarecer. E, mais, salvaguardada a atitude socialmente discriminatória que impende sobre a venda, sem comparticipação, nas farmácias de uma vacina que custa mais 78 euros do que o ordenado mínimo nacional (403 €), resta reconhecer que as dúvidas levantadas pelo grupo parlamentar do PS são legítimas, do ponto de vista da evidência científica. Isto é, a evidência “disponível” não é, no momento, totalmente “confiável”.
Portanto, o pedido de inclusão da vacina no PNV, feita pelos “Verdes” foi, em termos de evidência científica, prematuro. Nunca poderia ser feita antes do conhecimento e análise dos resultados do ensaio clínico na fase III.
Hoje, já existem mais dados disponíveis dos que estavam acessíveis em Abril. Estou a referir-me aos resultados do estudo na Fase III publicados, no início deste mês, pelo New England Journal of Medicine. Hoje, há mais evidência científica “disponível”.
Falta pegar nessa “carga de evidências” e, com metodologia correcta (grupo de trabalho interdisciplinar), trabalhá-la.
Permaneciam, na altura, em aberto muitas questões, a saber:
- vacina contra os HPV’s para 4 tipos 16, 18, 6 e 11 (Gardasil®) ou vacina mais restrita (com menor custo?) para 2 tipos 16 e 18 (Cervarix ®) ?
- a fraca capacidade oncogénica do HPV (tipos 6 e 11), justificam a sua inclusão na vacina quadrivalente, actualmente disponível?
- a vacinação bivalente tem uma “protecção cruzada” para diferentes tipos de HPV o que lhe poderá conferir maior eficácia ?
- esse “alargamento do espectro”, aparentemente desnecessário, afecta o preço final?
- a vacina é eficaz no homem?
- a vacina protege durante quanto tempo? (4 anos?, mais?)
- são necessários “rappels”?
- o alvo de promoção pretende atingir exclusivamente as adolescentes em período de pré-infecção pelo HPV?
- a vacina tem capacidade para modificar a história natural de uma infecção HPV pré-existente? (é uma vacina exclusivamente profilática ou, também, terapêutica?)
- e mais haveria…
Do que consegui aperceber-me, nem todas estas questões foram cabalmente esclarecidas ou estão resolvidas pelos estudos prospectivos da Fase III (FUTURE I & FUTURE II) trazidos a público recentemente. O recuo, por exemplo, não excede os 3 anos.
Todavia a mensagem que passou para o exterior, após a discussão na AR, foi de que este assunto morreu aí.
Nada será mais pernicioso para um problema de saúde pública - não a vacina mas a incidência e a taxa de mortalidade por cancro do colo do útero - do que a displicência dos decisores.
Penso que a DGS deveria após a decisão comunitária em Set 2006 (muito antes do alerta do partido “Os Verdes” que mereceu o apoio de toda a oposição parlamentar) ter criado e mantido activo um grupo de estudo para exactamente tratar das questões de “evidência científica” sobre as duas novas vacinas. Um grupo alargado capaz de abranger estruturas do MS e a comunidade científica especializada e/ou interessada nesta matéria.
O MS não pode ser um mero expectante do previsível confronto entre a Merck/Sanofi Pasteur e a Glaxo que, para além das questões científicas ligadas à investigação e da orientação e condução dos ensaios clínicos em curso, envolvem poderosos interesses financeiros, da comercialização e da inerente luta por quotas de mercado.
O MS tem de passar a imagem de que está atento e, no dia a dia, trabalha sobre às inovações terapêuticas, porque estas, podem trazer benefícios aos doentes.
Em resumo, preparar as decisões políticas que, com os dados recentes, se revelam próximas. A meteórica velocidade que se verifica no trânsito de informações, entre Portugal e os restantes países europeus, não dá grandes margens para “compassos de espera”.
Em minha opinião, independentemente da decisão poítico-económica, a campanha de informação, já deveria estar desenhada ou, pelo menos, esboçada.
A persistência da não-comparticipação da vacina e a ausência de um programa informativo e educativo para a população sobre este assunto, acabará por deitar por terra toda a ideia de prevenção do cancro. E quando desacreditamos a prevenção ferimos de morte qualquer estratégia futura (e com futuro) para a Saúde.
Não basta teorizar sobre a influência da “evidence-aware policy” nos centros de decisão. Isso pode ficar para PKM discorrer no DE.
Ao falarmos em evidência científica não podemos, na praxis, submetê-la a “tratos de polé”.
(1) – Um exemplo de economia de escala (só possível de negociar por organizações/entidades públicas): O programa federal Vaccines for Children / CDC – USA, negociou um preço de 288 dólares pelas três séries da vacina Gardasil. Isto é, à volta de 213 euros. Uma virtual “comparticipação” superior a 50% do PVP em Portugal!
No debate parlamentar promovido pelo Partido Ecologista “Os Verdes”, em 18.04.07, o Governo nem se dignou fazer representar.
O que estava em causa era julgar da oportunidade de incluir, ou não, a nova vacina no PNV. Exactamente uma situação onde a evidência científica era determinante para a decisão política.
Porque, a evidência científica vive da discussão, da confrontação e dos desejados consensos.
E, a evidência científica afoga-se nas ausências e dilui-se no alheamento.
Mas haveria outras razões para o MS estar representado. O cancro do colo do útero – imputado a infecções pelo HPV – é a 2ª. causa de morte a nível mundial.
Em Portugal, a situação é concordante com estes dados. Segundo os dados referenciados haverá, no nosso País, 300 casos mortais/ano.
E nos rankings europeus, colocamo-nos à cabeça, com a mais elevada taxa de incidência.
Trata-se, portanto, de um importante problema de SAÚDE PÚBLICA onde existe uma óbvia necessidade de intervenção.
Por quem?
- Pelo MS que estava ausente, provavelmente, a dissecar custos/benefícios/efectividade. Trata-se, nem mais nem menos, do seguinte “grupo-alvo”: a população escolar feminina do ensino secundário e superior. Esta análise absolutamente necessária para a planificação e definição das políticas de saúde (não é preciso repetir que os recursos são finitos…), não dispensa a discussão científica e estratégica.
Há ainda um factor de ordem social do qual o MS não se pode alhear. Para esta vacina foi emitida uma AIM pelo INFARMED (em 20 de Setembro de 2006, a Comissão Europeia concedeu à Sanofi Pasteur MSD SNC uma Autorização de Introdução no Mercado, válida para toda a União Europeia)e a mesma passou a ser vendida, a quem tenha disponível para gastar (ou investir) 481,35 euros (1), nas farmácias portuguesas.
O Estado não pode assumir, no campo social, atitudes hipócritas. Como seja: dar-se por satisfeito com a evidência no sentido de autorizar a sua introdução no mercado e quando confrontado com um passo em frente, isto é, a sua inclusão no PNV, visando manter a níveis de equidade na sua acessibilidade, essa mesma evidência é, no Parlamento, pelo partido que suporta o Governo, colocada em causa. Os portugueses não compreendem esta dualidade. Pelo menos a sua comparticipação deveria ter sido desbloqueada.
Até aqui tratamos de comportamentos de fuga e de deambulações… sobre evidências.
É também evidente que os benefícios esperados da vacina contra o HPV apresentam, ainda, algumas lacunas por esclarecer. E, mais, salvaguardada a atitude socialmente discriminatória que impende sobre a venda, sem comparticipação, nas farmácias de uma vacina que custa mais 78 euros do que o ordenado mínimo nacional (403 €), resta reconhecer que as dúvidas levantadas pelo grupo parlamentar do PS são legítimas, do ponto de vista da evidência científica. Isto é, a evidência “disponível” não é, no momento, totalmente “confiável”.
Portanto, o pedido de inclusão da vacina no PNV, feita pelos “Verdes” foi, em termos de evidência científica, prematuro. Nunca poderia ser feita antes do conhecimento e análise dos resultados do ensaio clínico na fase III.
Hoje, já existem mais dados disponíveis dos que estavam acessíveis em Abril. Estou a referir-me aos resultados do estudo na Fase III publicados, no início deste mês, pelo New England Journal of Medicine. Hoje, há mais evidência científica “disponível”.
Falta pegar nessa “carga de evidências” e, com metodologia correcta (grupo de trabalho interdisciplinar), trabalhá-la.
Permaneciam, na altura, em aberto muitas questões, a saber:
- vacina contra os HPV’s para 4 tipos 16, 18, 6 e 11 (Gardasil®) ou vacina mais restrita (com menor custo?) para 2 tipos 16 e 18 (Cervarix ®) ?
- a fraca capacidade oncogénica do HPV (tipos 6 e 11), justificam a sua inclusão na vacina quadrivalente, actualmente disponível?
- a vacinação bivalente tem uma “protecção cruzada” para diferentes tipos de HPV o que lhe poderá conferir maior eficácia ?
- esse “alargamento do espectro”, aparentemente desnecessário, afecta o preço final?
- a vacina é eficaz no homem?
- a vacina protege durante quanto tempo? (4 anos?, mais?)
- são necessários “rappels”?
- o alvo de promoção pretende atingir exclusivamente as adolescentes em período de pré-infecção pelo HPV?
- a vacina tem capacidade para modificar a história natural de uma infecção HPV pré-existente? (é uma vacina exclusivamente profilática ou, também, terapêutica?)
- e mais haveria…
Do que consegui aperceber-me, nem todas estas questões foram cabalmente esclarecidas ou estão resolvidas pelos estudos prospectivos da Fase III (FUTURE I & FUTURE II) trazidos a público recentemente. O recuo, por exemplo, não excede os 3 anos.
Todavia a mensagem que passou para o exterior, após a discussão na AR, foi de que este assunto morreu aí.
Nada será mais pernicioso para um problema de saúde pública - não a vacina mas a incidência e a taxa de mortalidade por cancro do colo do útero - do que a displicência dos decisores.
Penso que a DGS deveria após a decisão comunitária em Set 2006 (muito antes do alerta do partido “Os Verdes” que mereceu o apoio de toda a oposição parlamentar) ter criado e mantido activo um grupo de estudo para exactamente tratar das questões de “evidência científica” sobre as duas novas vacinas. Um grupo alargado capaz de abranger estruturas do MS e a comunidade científica especializada e/ou interessada nesta matéria.
O MS não pode ser um mero expectante do previsível confronto entre a Merck/Sanofi Pasteur e a Glaxo que, para além das questões científicas ligadas à investigação e da orientação e condução dos ensaios clínicos em curso, envolvem poderosos interesses financeiros, da comercialização e da inerente luta por quotas de mercado.
O MS tem de passar a imagem de que está atento e, no dia a dia, trabalha sobre às inovações terapêuticas, porque estas, podem trazer benefícios aos doentes.
Em resumo, preparar as decisões políticas que, com os dados recentes, se revelam próximas. A meteórica velocidade que se verifica no trânsito de informações, entre Portugal e os restantes países europeus, não dá grandes margens para “compassos de espera”.
Em minha opinião, independentemente da decisão poítico-económica, a campanha de informação, já deveria estar desenhada ou, pelo menos, esboçada.
A persistência da não-comparticipação da vacina e a ausência de um programa informativo e educativo para a população sobre este assunto, acabará por deitar por terra toda a ideia de prevenção do cancro. E quando desacreditamos a prevenção ferimos de morte qualquer estratégia futura (e com futuro) para a Saúde.
Não basta teorizar sobre a influência da “evidence-aware policy” nos centros de decisão. Isso pode ficar para PKM discorrer no DE.
Ao falarmos em evidência científica não podemos, na praxis, submetê-la a “tratos de polé”.
(1) – Um exemplo de economia de escala (só possível de negociar por organizações/entidades públicas): O programa federal Vaccines for Children / CDC – USA, negociou um preço de 288 dólares pelas três séries da vacina Gardasil. Isto é, à volta de 213 euros. Uma virtual “comparticipação” superior a 50% do PVP em Portugal!
É-Pá
5 Comments:
1.ª Pergunta
Será lícito ou pelo menos questionável, que um grupo político ou grupos políticos partidarizem ou metam na "luta política " uma decisão sobre a inclusão de uma vacina contra o HPV, sem esperar que existam mais conhecimentos (evidência científica, estudos de custo-efectividade, recomendações aceites sem pressões das multinacionais) sobre ela.
2.º O que sabemos até agora é que a vacina foi aprovada em 57 países, que a Alemanha,a Aústria, a Itália recomendam a vacina mas não a incluiram no PNV, a França publicou reomendações mas não aprovou qualquer comparticipação. só na Aústria e na Alemanha é que alguns seguros segurança social comparticipam a vacina.
3.º A Direcção Geral de Saúde tomou a seguinte posição pública em 24 de Abril de 2007. " Relativamente à vacina contra o vírus do papiloma humano a Direcção-Geral da
Saúde informa:
1. O Vírus do papiloma humano, VPH, é um vírus com, pelo menos, setenta tipos associados a manifestações clínicas específicas, dos quais mais de vinte podem infectar o aparelho genital. Podem ser de alto ou baixo risco, de acordo com o seu potencial oncogénico. 2. A infecção que se transmite, em regra, por via sexual, é frequentemente assintomática e pode desaparecer de forma espontânea. Ao longo da vida, 60
a 80% dos homens e das mulheres sexualmente activos têm, alguma vez, aquela infecção. 3. A lesão benigna mais frequente é o condiloma acuminado ou verruga genital, provocada pelos tipos de VPH de baixo risco oncogénico, nomeadamente os tipos 6 e 11 que são responsáveis por cerca de 90% destas lesões. 4. Estima-se que mais de 99% de todos os casos de cancro do colo do útero
estejam associados à infecção por VPH de alto risco oncogénico que causa lesões pré-malignas dando origem a cancro. Os tipos 16 e 18 são responsáveis por cerca de 75% destes casos. 5. A primeira vacina destinada a prevenir a infecção por vírus do papiloma humano (VPH), que está na génese da maioria dos cancros do colo do útero, foi recentemente licenciada a um laboratório farmacêutico, em vários países, incluindo Portugal, estando disponível para venda nas farmácias, mediante prescrição médica. Trata-se de uma vacina tetravalente contra os tipos 6, 11,
16 e 18 do VPH. Na União Europeia a vacina só não está à venda em
Espanha. 6. A vacina tetravalente provoca seroconversão (isto é, a formação de anticorpos protectores) para aqueles tipos em, aproximadamente, 99% das pessoas vacinadas em todos os grupos etários testados. O efeito a longo prazo será alvo de estudos futuros. 7. A curto prazo (ainda durante 2007), espera-se que venha a estar licenciada uma outra vacina, bivalente, contra os tipos 16 e 18, produzida por outro
laboratório farmacêutico. 8. Com base em informação das firmas produtoras, as duas vacinas parecem
conferir alta protecção contra o desenvolvimento de lesões pré-malignas causadas pelos tipos 16 e 18 de VPH em mulheres entre os 16 e os 25 anos. A vacina tetravalente demonstrou, ainda, uma protecção da ordem dos 95 a 99%
contra as verrugas genitais causadas pelos tipos 6 e 11 de VPH.
9. Todavia, a vacina não protege contra a infecção por todos os tipos de VPH, não prevenindo a totalidade dos casos de cancro do colo do útero, de cancros
anogenitais nem de verrugas genitais. 10. A vacina é exclusivamente preventiva e deve ser, de preferência, administrada
antes do início da vida sexual activa. 11. Dados de 2002, na Europa (Globocan), referem a existência de 59929 mulheres com diagnóstico de cancro invasivo do colo do útero e 29814 mortes
anuais. Em Portugal, apesar das recomendações existentes para o rastreio do cancro do colo do útero, estima-se uma incidência da ordem dos 1000 novos casos por ano. Nos anos de 2002, 2003 e 2004 foram registados, respectivamente, 220, 220 e 207 óbitos por neoplasia maligna do colo do útero.
Estes números podem estar subavaliados, uma vez que também ocorreram, nos mesmos anos, 232, 218 e 228 mortes por “neoplasia maligna do útero, porção não especificada” (CID-10), estimando-se que a mortalidade por cancro
do colo do útero seja superior a 300 casos por ano.
12. A maior incerteza no que respeita à vacina diz respeito à duração da imunidade, uma vez que, tratando-se de um fármaco novo, não é possível comprovar a sua persistência para além de 5 anos.
13. Trata-se, portanto, de uma vacina eficaz, segura e de qualidade, mas o Ministério da Saúde recomenda, fortemente, que sejam cumpridas as recomendações relativas ao rastreio do cancro do colo do útero. Esta é a
abordagem estratégica mais sábia, antes de se decidir incluir a vacina no Programa Nacional de Vacinação ou de a comparticipar.
14. Quer a Organização Mundial da Saúde (OMS) quer o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (European Centre for Disease Prevention and Control - ECDC) estão a promover iniciativas no sentido de serem realizados estudos conduzidos por peritos independentes de que resultarão a
emissão de recomendações por parte daquelas organizações espera-se ainda durante 2007. 15. Em Portugal, os serviços da Direcção-Geral da Saúde estão a estudar a
informação disponível sobre a epidemiologia da doença e o previsível impacte da vacina nas doenças causadas por VPH. Por outro lado, o INFARMED irá
analisar o estudo de custo-efectividade que lhe será submetido pela firma farmacêutica que comercializa a vacina. Será ainda realizado um estudo custo-
-efectividade independente.
16. Assim, de momento, é prematuro anunciar qualquer recomendação sobre a estratégia vacinal a seguir, a qual só poderá ser emitida quando as avaliações
técnicas, quer europeias quer portuguesas, tiverem sido concluídas. 17. O Ministério da Saúde está empenhado em avaliar o interesse da vacina para a
Saúde Pública e decidir a melhor opção para o País em função dos resultados obtidos, apelando aos especialistas na matéria que se pronunciem sobre o assunto. Por razões de transparência, recomenda-se especialmente que, nos seus pareceres e opiniões, explicitem a existência ou não de conflito de
interesses relativamente às firmas farmacêuticas responsáveis pelo
desenvolvimento das vacinas.
Direcção-Geral de Saúde, 24 de Abril de 2007".
Mas existem outras razões para sermos prudentes das quais não nos devemos alhear e não tomármos posições intempestivas marcadas pela excessiva mediatização dos nossos dias. Recomendo a leitura atenta da seguinte notícia do Guardian " Vaccination campaign funded by drug firm
Sarah Boseley, health editor
Monday March 26, 2007
Guardian
A campaign fronted by doctors and celebrities to persuade European governments, including the UK, to vaccinate all young girls against cervical cancer is being entirely funded by the drug company that markets the vaccine.
Sanofi Pasteur MSD, which markets Gardasil in Europe on behalf of the drug giant Merck, spent millions on what was billed as the "first global summit against cervical cancer", held in Paris on Thursday with doctors and patient organisations from across Europe.
The revelation comes as public health experts express disquiet about the promotion of a vaccine that is only effective in young girls - possibly at the expense of screening programmes that are essential to protect adults. They also worry that the long-term effects of the vaccine are not known. The vaccine protects against the most common strains of the sexually-transmitted human papilloma virus (HPV) which causes cervical cancer.
Diane Harper, a professor at Dartmouth medical school in New Hampshire, who led two vaccine trials, said the vaccine would not protect against all strains of the virus, and that nobody knows whether vaccinated 10-year-old girls would still be protected in 10 years' time, when they are sexually active and at risk. Mass vaccination programmes, she said, would be "a great big public health experiment".
The Paris summit was believed to be the brainchild of Professor David Khayat, a Paris-based specialist in cancer treatment - not vaccines - who has in the past declared consultancy and lecture fees from Merck. The organisers were named as the Club Européen de la Santé, an institution that promotes public health, but its president, Dominique Dupont, told the Guardian she agreed to participate only on condition that Sanofi Pasteur paid.
Celebrities, doctors and journalists were shipped in from across Europe and the United States by PR agencies working for Sanofi. The summit, which resembled a political rally, called for country-wide vaccination programmes."
Recomendo a leitura do equilibrado editorial do NEJM de 10 de maio 2007
" HPV Vaccination — More Answers, More Questions
George F. Sawaya, M.D., and Karen Smith-McCune, M.D., Ph.D.
The availability of a "cancer vaccine" has elicited enormous enthusiasm from the medical community and the public, culminating in advocacy for mandatory vaccination against human papillomavirus (HPV) and a recommendation from the Centers for Disease Control and Prevention (CDC) that 30 million girls and women between the ages of 11 and 26 years in the United States be vaccinated. Previous reports showed a remarkable 100% efficacy of a quadrivalent vaccine targeting HPV types 6, 11, 16, and 18 on outcomes related to vaccine HPV types in women with no evidence of previous exposure to those types. Since HPV types 16 and 18 are implicated in 70% of cervical cancers, these types are ideal targets for a new vaccine.
In this issue of the Journal, reports on two large, ongoing, randomized, placebo-controlled trials show the effect of this vaccine on important clinical outcomes, including rates of adenocarcinoma in situ and cervical intraepithelial neoplasia after an average of 3 years of follow-up. Investigators in these trials have hit their mark soundly: the vaccine showed significant efficacy against anogenital and cervical lesions related to vaccine type in women with no evidence of previous exposure to vaccine-specific types; the vaccine also appeared to be safe. In addition, the studies report outcomes in all subjects regardless of HPV status at baseline and regardless of whether outcomes were related to HPV types targeted by the vaccine. Policymakers now have more evidence to assess the benefits and risks of widespread vaccination.
Given the rarity of incident cervical cancer, preinvasive cervical lesions with high invasive potential are used in contemporary studies as surrogate outcomes for cervical cancer. Adenocarcinoma in situ is a rare lesion widely considered to be a precursor of cancer. Cervical intraepithelial neoplasia is graded from 1 to 3 on the basis of histopathological criteria. Grade 1 cervical intraepithelial neoplasia indicates the presence of active HPV infection and is not considered to be precancerous; current guidelines discourage treatment of this condition.Grade 2 cervical intraepithelial neoplasia is treated in most women but is not an irrefutable cancer surrogate, since up to 40% of such lesions regress spontaneously; current guidelines suggest that some young women with such lesions do not need to be treated.Grade 3 cervical intraepithelial neoplasia, on the other hand, has the lowest likelihood of regression and the strongest potential to be invasive. The Food and Drug Administration (FDA) considers grade 2 and 3 cervical intraepithelial neoplasia and adenocarcinoma in situ to be acceptable surrogate outcomes for cervical cancer; other observers consider grade 3 cervical intraepithelial neoplasia and adenocarcinoma in situ to be more appropriate surrogates.
In these trials, called Females United to Unilaterally Reduce Endo/Ectocervical Disease (FUTURE) I and II, what is the efficacy of vaccination among all subjects, regardless of causal HPV types? In the FUTURE I trial,5 rates of grades 1 to 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ per 100 person-years were 4.7 in vaccinated women and 5.9 in unvaccinated women, an efficacy of 20%. Analyses by lesion type indicate that this reduction was largely attributable to a lower rate of grade 1 cervical intraepithelial neoplasia in vaccinated women; no efficacy was demonstrable for higher-grade disease, but the trial may have lacked adequate power to detect a difference. Vaccinated women also had lower rates of external anogenital and vaginal lesions (1.3 vs. 2.1). In the larger FUTURE II trial,6 rates of grade 2 or 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ were 1.3 in vaccinated women and 1.5 in unvaccinated women, an efficacy of 17%. In analyses by lesion type, the efficacy appears to be significant only for grade 2 cervical intraepithelial neoplasia; no efficacy was demonstrable for grade 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ.
What can be inferred from these data about the potential effect of vaccination on populations that include sexually active women? In the FUTURE II trial, 93% of subjects were nonvirgins. With grade 2 or 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ as the outcome, the difference in risk so far appears to be modest: 219 of 6087 vaccinated women (3.6%) received this diagnosis over an average of 3 years, as compared with 266 of 6080 unvaccinated women (4.4%). The absolute risk difference of 0.8% indicates that 129 women would need to be vaccinated in order to prevent one case of grade 2 or 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ occurring during this period. If grade 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ were the most relevant outcome, evidence was insufficient to infer the effectiveness of vaccination.
Why is vaccine efficacy modest in the entire cohort? One factor is the apparent lack of efficacy among subjects with evidence of previous exposure to HPV types included in the vaccine. The FUTURE II trial showed no effect of vaccination up to month 12, perhaps owing either to preinvasive lesions or to vaccine-type HPV infections that were present at enrollment. Therefore, vaccination before the onset of sexual activity seems to be preferable. In contrast to the CDC's guidelines, the American Cancer Society does not recommend universal vaccination among women between 18 and 26 years of age, citing probable diminished vaccine efficacy as the number of lifetime sexual partners increases. Trial outcomes stratified by risk factors that are strong surrogates for HPV exposure and are readily obtained clinically (e.g., the number of lifetime sexual partners) may prove to be useful in the future development of guidelines.
Another factor explaining the modest efficacy of the vaccine is the role of oncogenic HPV types not included in the vaccine. At least 15 oncogenic HPV types have been identified,4 so targeting only 2 types may not have had a great effect on overall rates of preinvasive lesions. Findings from the FUTURE II trial showed that the contribution of nonvaccine HPV types to overall grade 2 or 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ was sizable. In contrast to a plateau in the incidence of disease related to HPV types 16 and 18 among vaccinated women, the overall disease incidence regardless of HPV type continued to increase, raising the possibility that other oncogenic HPV types eventually filled the biologic niche left behind after the elimination of HPV types 16 and 18. An interim analysis of vaccine trial data submitted to the FDA showed a disproportionate, but not statistically significant, number of cases of grade 2 or 3 cervical intraepithelial neoplasia related to nonvaccine HPV types among vaccinated women. Updated analyses of data from these ongoing trials will be important to determine the effect of vaccination on rates of preinvasive lesions caused by nonvaccine HPV types.
What can be inferred from these data about the potential effect of vaccination among girls 11 and 12 years of age? The FUTURE trials did not enroll subjects in this age group. Within both trials, subgroups of subjects with no evidence of previous exposure to relevant vaccine HPV types were evaluated separately for vaccine efficacy. In these subgroups, efficacy of nearly 100% against all grades of cervical intraepithelial neoplasia and adenocarcinoma in situ related to vaccine HPV types was reported in both trials. However, it would be important to know the overall rates of grade 2 or 3 cervical intraepithelial neoplasia or adenocarcinoma in situ regardless of HPV types. Without these data, it is difficult to infer both the effectiveness of vaccination and the role of nonvaccine HPV types in overall rates of preinvasive lesions.
What do these results mean for cervical-cancer screening? Screening should continue in all vaccinated women, given the cumulative lifetime risk of exposure to other oncogenic HPV types and the unknown duration of anti-HPV immunity. The effect of vaccination on cervical cytologic findings was not reported in either trial, but if vaccination reduces the rates of abnormal findings, this benefit would be important. Of note, a trial of a monovalent HPV-16 vaccine reported no effect on cytologic abnormalities.
Policymakers, clinicians, and parents have a keen sense of urgency about HPV vaccination. On one hand, the vaccine has high efficacy against certain HPV types that cause life-threatening disease, and it appears to be safe; delaying vaccination may mean that many women will miss an opportunity for long-lasting protection. On the other hand, a cautious approach may be warranted in light of important unanswered questions about overall vaccine effectiveness, duration of protection, and adverse effects that may emerge over time. HPV vaccination has the potential for profound public health benefit if the most optimistic scenario of effectiveness is realized."
Caro Avicena
A NEJM de 10 de maio 2007 está linkada no texto do É-Pá
Caro Avicena:
"Será lícito ou pelo menos questionável, que um grupo político ou grupos políticos partidarizem ou metam na "luta política " uma decisão sobre a inclusão de uma vacina contra o HPV, sem esperar que existam mais conhecimentos (evidência científica, estudos de custo-efectividade, recomendações aceites sem pressões das multinacionais) sobre ela."
É exactamente esse o substrato do meu comentário.
Centralizar o processo nas estruturas de sáude (médicas, epidemiológicas, de gestão, económicas, etc.) e retirá-las do insondável terreiro da luta política.
Por isso, porque este assunto é emblemático, e para contornar lutas de bastidor que, nos tempos mais próximos, vão envolver a introdução de uma vacina no mercado, defendo que uma "comissão de acompanhamento", multidisciplinar, deveria estar activa, sob a liderança da DGS.
O comunicado de Abril da DGS é uma "sintese estruturada de dados" que necessita de acompanhamento especializado. Atempado e contínuo. E não desvalorizar uma vertente fundamental - a informação e a educação - que, como sabemos, não cabem, nem se resumem, numa nota da DGS.
A "sensibilização" lançada pelos "Verdes" - foi isso na prática o que se passou na AR - deveria ter tido consequências (outras, no meu entender).
É, portanto, necessário fazer o "trabalho de casa".
Desconheço se isso está a ser feito. Mas gostaria que estivesse...
Caro É-pá:
E o que se sabe agora? Que tem uma eficácia significativa ou que parece ter? Digamos que é a ciência a avançar.
Já agora: o valor das 3 doses da vacina, para o combate a um vírus que é "natural" nos States, foi estimado inicialmente em cerca de 360 dolares ( ainda assim mais barato que por cá para quem possa pagar).
De resto, para os chamados países pobres a OMS sempre teve um "programa" , sendo que, com financiamentos e apoios sairá a 3 euros.( É bom lembrar que em África as meninas com 11 ou 12 anos são "vendidas" através do dote a uma "treta" de um casamento.
No entanto nos "Sates", como por cá, (também) não há programa.
Por lá os mais pobres terão apoios em princípio. Já os da classe média, a viver de acordo com aparências mais "altas" que a sua condição lhes permite, parece que ou têm seguro, ou não se vacinam.
Sabe-se que a faixa mais difícil para se fazer cumprir o programa de vacinação (a havê-lo), se situa na dos adolescentes e jovens adultos (de ambos os sexos) e não já nas crianças. Pergunto: onde está a educação para? - Para a toma da vacina e para a mudança de comportamentos - Onde? Já agora, ao que parece, a dita vacina é mais eficaz antes do início da vida sexual. (Alguém tem dados standardizados sobre quando começa a vida sexual?).
Bom, pelo sim, pelo não, quem possa, toca a vacinar criancinhas, adolescentes e jovens adultos, quer sejam meninas ou meninos, sim?
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