RCCI, projecto exemplar
O problema ou pelo menos parte dele, reside no facto de muita gente dos hospitais AH incluídos não terem percebido, talvez por distracção, por resistência à mudança ou por não acharem que o tema é uma prioridade, que a Rede de Cuidados Continuados Integrados é semelhante a contratar camas ou casos sociais é que não é. Passo a explicar: em 2003-2004 o Governo LFP fez publicar legislação e contratou camas para Cuidados Continuados, mas não definia tipologias de doentes, fluxos entre níveis de cuidados, critérios de altas nem criava equipas domiciliárias, pagava por cama quer estivesse ou ocupada ou não. Agora o que é que mudou, a tal pólvora, os Hospitais têm que ter obrigatoriamente uma equipa de gestão de altas, os serviços têm que conhecer os critérios que fazem com que cada um de nós venha a ser classificado com necessidade de cuidados continuados, referenciando às 48 horas o doente à equipa de gestão de altas para que esta em ligação com a equipa local do CS possa preparar a alta para: domicílio com apoio da equipa local; internamento numa das unidades convalescença até 30 dias; média longa duração até 60/90 dias e longa duração 90 e mais dias. Existe um manual de gestão de altas consensualizado anteriormente, as unidades têm recursos afectos, horas/profissional, com ênfase na reabilitação, indicadores de avaliação préviamente conhecidos e financiamento aprovado por cama/ocupada. Isto é daqui para a frente os Hospitais passam a ter instrumentos para se concentrarem na actividade dos doentes agudos, melhorarem a suas taxa de ocupação e demora média, olhando para os seus pacientes e descobrindo que a maior parte têm mais de 60 anos, entrando no Hospital por doença crónica descompensada ou por episódios agudos com ela relacionados e que mesmo nos episódios de "life-saving" a maioria dos doentes para além de terem mais de 60 anos têm outras patologias associadas, que as altas têm de ser preparadas incluindo as necessidades sociais, as de reabilitação para a vida e para a profissão (que em geral nunca foram uma prioridade). Quem gere os internamentos ou ida para o domicílio é a equipa local sedeada no CS articulando a Rede, o Hospital e os cuidados do CS, quer sejam prestados de uma forma mais intensa pelas equipas domiciliárias, agora têm enfermagem e fisioterapia, com apoio médico e de psicologia ou pelo médico família/enfermeiro de família. Se retirar algum do seu tempo para ler os documentos disponíveis na net, páginas da Missão CCI, do Alto-comissariado ou mesmo na de algumas ARS perceberá que estamos a falar de muitas coisas pela primeira vez. O Governo este e não outro e todos nós só podemos estar orgulhosos dos resultados, porque tivemos alguém que identificou o problema, colocando-o como prioridade no Programa eleitoral e de Governo, tendo depois de eleito e apenas em 18 meses colocado as medidas no terreno, partindo das melhores experiências internacionais, fazendo um diagnóstico da situação, organizando a metodoogia, encontrando mecanismo de financiamento e contratualizando de uma forma transparente, exigindo avaliação e prestando contas ao país e aos que partcipam no processo. Ao longo da minha vida profissional nunca tinha participado num processo semelhante, como diz o povo com cabeça, tronco e membros. Dificuldades muitas, resistências muitas, Directores de Serviços e AH que fazem orelhas moucas muitos, CA ausentes ou que ignoram o processo alguns, como diria o outro é da vida, aliás bastava ver alguns dos post para perceber o estado de conhecimento sobre o processo para muitos dos comentadores. Mas o que é importante é que mesmo num país marcado pelos ditos jocosos, as anedotas que riem da inveja nacional (como aquela do balde caranguejos portugueses que não necessitava de estar tapado, porque quando um queria fugir os outros lhe agarravam as pernas) se está a fazer e a iniciar um processo exemplar de que todos devemos ter orgulho, sabendo aproveitá-lo para melhorar a vida e a saúde dos cidadãos, mais que não seja por egoísmo uma vez que muitos de nós seremos dentro de um par de anos beneficiários do sistema. Quanto ao Barreiro, quem está lá dentro é que sabe, agora quem olha de fora o que pode perceber é que algo se passou para que a Rede não tivesse sido accionada.
Avicena
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1 Comments:
Eis o paradigma dos programas, sem qualquer tradução específica e experiênciável, pelo menos, por ora. Brindemos aos "estudos" inconsequentes.
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