quinta-feira, dezembro 6

O Caso Amadora Sintra



A expressão da minha indignação

É de prever que comecem a desenvolver-se as mais sofisticadas manobras para contornar este inqualificável caso.
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O grupo José Mello Saúde é o grande concorrente (e tem sido o grande ganhador) dos concursos para os novos HH’s PPP’s. É, também, de supor que não gostará de estar envolvido num escândalo destas dimensões e com esta conotação. Tem grandes ambições na área, melhor diria, no mercado da Saúde. Elas, não estão escondidas, estão expressas no site do HH Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), quando define a sua missão:
“A José de Mello Saúde tem num enquadramento de mercado exigente, uma missão de grande ambição, “Promover a prestação de serviços de saúde com os mais elevados níveis de conhecimento, respeitando o primado da vida e o ambiente, através do desenvolvimento do capital intelectual das organizações, numa busca permanente do melhor onde a inovação, o desenvolvimento humano, a competência, o respeito pela dignidade da pessoa e a primazia do bem-estar da pessoa são os seus valores fundamentais.”
Conhecendo os contornos do escandaloso caso e acabando de ler este arrazoado literário (paleio de senhora de dinheiro, dito, fácil) começamos a compreender com que tipo de hipocrisia estamos a lidar.

Eis porque, na verdade, este não é um escândalo qualquer.

A gestão de instituições públicas, quer seja feita pelo Estado, ou, como no caso presente, avocada a uma entidade privada, não retira à instituição o carácter público nem confere à gestão privada prerrogativas especiais, nomeadamente, em relação ao comportamento com os funcionários que aí prestam serviço e às relações laborais que se estabelecem.
Para além de todos os atributos técnicos que a gestão deve incorporar, existem outros valores. Para dirigir, ou ser encarregue da gestão, não basta ter dinheiro. Mais do que isso é preciso ter idoneidade pessoal e reger-se por um código de valores (ética). Depois, a gestão desenrola-se com pessoas, logo, dentro de princípios humanitários. Quando se olha para as restrições laborais, sociais e de relacionamento, impostas ao médico em questão, a pergunta que nos ocorre é se o queriam encurralar (como se fazem aos animais).

A senha persecutória da gestão do Hospital segue uma lógica, aparentemente, kafkiana.
Acusado de negligência por … ninguém, um processo de despedimento virtual, etc. Isto, em português vernáculo, num quadro de cidadania, tem nome – é canalhice!
Isto, por outro lado, em linguagem empresarial é um pretexto para “gritar” por maior flexibilidade nas relações laborais.
É bom que comecemos a compreender-nos uns aos outros. É salutar que estes processos sejam encaminhados para os Tribunais.

Ficamos também sem saber se a inspecção desenvolvida pelo IGAS, para além da tentativa de reposição da legalidade (que a entidade gestora ignorou), em relação ao trabalhador da FP violentado nos seus direitos, tirou outras ilações.
Há, em todo este contexto, uma denúncia gravíssima para um Hospital que se integra no SNS, expressa pelo médico em questão e consubstanciada naquilo a que chama: "uma visão crítica da gestão no hospital, sobretudo pelo facto de se sobrevalorar a preocupação pela obtenção de lucro em detrimento da assistência e da prestação de cuidados de saúde aos doentes".
O IGAS e o MS têm aqui “pano para mangas”.

Reintegrar ou ressarcir o médico assediado, no meu entender, já não chega.
É preciso esclarecer, auditar, escrutinar esta terrível denúncia que assassina toda a lógica do SNS.
Por onde anda a ERS?

Porque, insisto, é preciso esclarecer, tornar claro, se o grupo Mello tem (ou não) idoneidade para trabalhar e concorrer a projectos na área da saúde.

Ao colega vilipendiado e perseguido, em todo este processo, a minha solidariedade.

Na verdade, só quando tentam derrubar-nos é que nos apercebemos da dificuldade em manter-nos de pé.
A Honra ao manter-se de pé faz parceria com o Dever.

É-Pá

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3 Comments:

Blogger empático said...

Caro e-pá,

Casos como este, também no Amadora-Sintra, aconteceram vários durante os últimos 4 anos. Passaram-se situações semeçhantes com gestores (bons gestores), com enfermeiros e com alguns médicos também. Inclusive com a actual Srª Alta Comissária da Saúde, que idirgiu nesse hospital de forma notável o serviço de Pediatria e que teve problemas e discordâncias semelhantes chegando ao extremo a que este outro colega médico terá chegado. Neste caso, porém, a actual administração do HAS teve receio das influências familiares da senhora e aturou a situação até a "Srª resolver a sua vida"... Por outro lado, a mesma Srª também teve cuidado em tratar da sua vida discretamente, embora sobre esse, como os outros, só a própria e os prórpios deveriam falar em pormenor (não fosse a Srª a actual ACS e talvez falasse. Enfim, o sistema com as amarras invisiveis).

Infelizmente, o grupo mello montou entre 2204-2005 uma rede de controlo e influência na comunicação social absolutamente assustadora e os muitos casos semelhantes têm ficado propositadamente ignorados nos cestos cheios dos editores das televisões e jornais de referência.

Interessa também referi que o mesmo grupo, no hospital Cuf Descobertas, despediu 'on the spot' e após uma divergência ética com os 'donos' do hospital, um seu director clínico por motivos semelhantes (faz poucos anos). A pessoa em questão, médico de elevada craveira técncia e ética também está hoje associado a um dos mais importantes programas do Plano Nacional de Saúde.

Quase que diria que vale a pena inciar um movimento de empatia pelos profissionais de alta craveira técnica mal-tratados por este grupo mello que, de facto, não devia estar a actuar na saúde em Portugal.

Estranhamos é que o alerta do e-pá não tenha mais comentários neste blogue pois a maior parte das pessoas do sector conhecem as muitas outras situações semelhantes.

Anda o Medo no ar. Bem nos avisou Manuel Alegre.

2:59 da tarde  
Blogger aidenós said...

Caro É-Pá:

Compreendo e partilho a sua indignação. O que chama o “Caso do Amadora-Sintra” está em Tribunal, o que, creio eu, suspende as decisões que tenham sido tomadas – e não sei quais foram ou se foram – no seguimento da acção da Inspecção Geral dos Serviços de Saúde. Esperemos para ver como o caso será encerrado.

Infelizmente há outros casos, em HH-SPA e em HH-EPE, em que os gestores, pelo facto de terem sido nomeados ou reconduzidos, se consideram detentores de poderes plenamente discricionários que os autorizam a praticar agressões frontais aos direitos dos profissionais – médicos ou não médicos, sejam ou não funcionários públicos –. A fórmula a que muitas vezes recorrem é o chamado colocar na prateleira, ou esvaziamento de funções, de profissionais mesmo se creditados com longa carreira e mérito profissional demonstrado. Até parece que, quando é a mediocridade que dita a lei, quanto maior é o mérito maior é o risco.

É isto, entre outras coisas, que deveremos esperar que vá acontecendo enquanto não houver avaliação dos gestores – e não só – feita a sério, isto é, por critérios objectivos e que cubram as várias áreas da sua responsabilidade entre as quais está o respeito pelos profissionais. É por assim o entender que já várias vezes aqui referi a importância e a urgência de se criarem condições para essa avaliação e, designadamente, para a aprovação de um Código Deontológico, ou de Conduta dos Gestores aos diversos níveis.

Que já tarda muito e que seria oportuno, não haverá dúvidas. Quem tem medo, de quê?

12:25 da manhã  
Blogger tambemquero said...

A palavra mobbing deriva do verbo inglês to mob que, em português, significa atacar, maltratar, tratar mal alguém, cercar, rodear, tumultuar e amotinar. O substantivo mob, donde deriva o verbo, significa populaça, gentalha, turba, ralé, multidão, plebe.
Transposto para o contexto mais racional da organização empresarial, o termo vem a significar a complexa prática vexatória ou persecutória ou de violência psicológica, posta em prática deliberada e repetidamente por um empregador ou por superiores hierárquicos directos, por colegas de trabalho de nível igual ou até por subalternos, em confronto com um trabalhador, com o objectivo de lhe provocar um estado de profundo mal-estar, isolamento e terror psicológico, adequado a causar um dano notável no seu equilíbrio psico-físico.
A literatura científica inglesa e australiana fala frequentemente de bullying, conceito bastante próximo de mobbing e que significa «agir com prepotência». O bullying conduz ao conceito de mobbing vertical, como veremos a seguir, também denominado bossing, e quer dizer «dirigir ou chefiar com arrogância.» O bullying é exercido pelo chefe/ boss, aí se incluindo o próprio patrão, director administrativo ou outros cargos similares.

O mobizado fica cercado e é agredido intencionalmente pelo mobber que assume um comportamento estratégico adequado à sua destruição psicológica, social e profissional.
A situação emergente da prática de mobbing chama-se mobizante, o seu autor chama-se, segundo a terminologia inglesa, mobber, enquanto a vítima é identificada como mobbed, mobizado. Porém, muitas vezes, no passado, em vez de mobbing empregavam-se outros termos, como por exemplo: violência ou tortura moral ou psicológica, perseguição, pressão ou agressãopsicológica.
Convém referir que no mobbing, além dos intervenientes acima referidos, há uma outra que a literatura inglesa chama de “sighted mobber”, que quer dizer espectador, ou seja, o colega do mobizado, que assiste ao drama e que se cala, colaborando assim de modo a que o mobbing se torne possível, efectivo e tragicamente eficaz. Leymann deu a seguinte definição de mobbing: «É uma forma de terrorismo psicológico que implica uma atitude hostil e não ética praticada de forma sistemática – e não ocasional ou episódica – por parte de uma ou mais pessoas, eminentemente, no confronto com um só indivíduo, o qual, por causa do mobbing, acaba por se encontrar numa situação indefesa e tornar-se objecto de uma série de iniciativas vexatórias e persecutórias. Estas iniciativas devem ocorrer com uma certa frequência (estatisticamente: pelo menos uma vez por semana) e durante um certo período de tempo (estatisticamente: durante pelo menos seis meses). Por causa da grande frequência e da longa duração do comportamento hostil, esta forma de mau trato provoca consideráveis sofrimentos mentais, psicossomáticos e sociais.»
Também clássica é a definição de Ege, segundo o qual o mobbing se caracteriza por ser substancialmente, «um acto (ou uma série de actos) que se repete por um longo período de tempo, realizado por um ou mais mobbers (dador de trabalho ou colegas), para causar danos a alguém habitualmente e de forma sistemática e com um objecto definido.
O mobizado é cercado e agredido intencionalmente pelos mobbers que o submetem a uma acção de estratégia comportamental que leva à sua destruição psicológica, social e profissional.»
Ambas as definições permitem-nos concluir que os elementos essenciais para a caracterização do fenómeno são a intencionalidade da conduta mobizante, a frequência e a repetição no tempo dos comportamentos perturbadores, pois, como diz Meucci «a definição exclui do seu âmbito os conflitos momentâneos e faz incidir a atenção sobre o momento no qual a duração e intensidade do comportamento vexatório determina condições patológicas sob o ponto de vista psiquiátrico ou psicossomático. Por outras palavras, a distinção ente conflito sobre o trabalho e mobbing não consiste sobre o que é infligido à vítima e sobre o “como” é infligido, mas acima de tudo sobre a frequência e duração de qualquer comportamento vexatório que é imposto.»
O mobbing é conhecido em Portugal e no Brasil por assédio moral; mobbing, nos países nórdicos, Suíça, Itália e Alemanha; harassment ou mobbing, nos Estados Unidos da América; ijme ou moral harassment, no Japão; harcèlement moral, na França; acoso moral na Espanha e bullying, na Inglaterra.
Conforme Marie-France Hirigoyen sublinha, não obstante as terminologias diferentes e as formas assumidas, que variam conforme as culturas, o assédio moral constitui, em numerosos países, um verdadeiro fenómeno da sociedade.
Messias Carvalho, TOC Ago 2006

Para lá da análise deste caso, dos contornos que lhe deram origem, da acção dos seus intervenientes internos e externos, será do máximo interesse averiguar se existem especificidades da gestão privada geradoras destas situações (por exemplo, uma prática reiterada de actuações norteadas prioritariamente por critérios economicistas que colidem com a deontologia dos vários grupos profissionais da saúde).

Sem pretender desvalorizar esta situação, como o aidenós refere, existem por esses hospitais fora resmas de casos de profissionais postos na prateleira por razões que a razão desconhece.

Tornou-se hábito assistirmos ao voltear da frigideira sempre que há rotação de partido do bloco central.

12:58 da manhã  

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