terça-feira, janeiro 8

Manuel Sobrinho Simões


Gestão HospitalarMuitas vezes a Saúde parece desenvolver-se ao sabor das vontades das diferentes corporações –Médicos; Farmacêuticos; Enfermeiros, etc. – é uma reacção natural ou, em Portugal, este estado de coisas tende a perpectuar-se e a ser contrária ao que devia ser? link

SS – É verdade que o peso específico (e o egoísmo) das corporações tem tornado a governação muito difícil entre nós.
O problema não é mais grave na saúde do que na justiça, educação, transportes, energia… Pelo contrário. Na saúde temos, em Portugal, melhores resultados do que em qualquer outro sector da administração pública. O desafio passa em conseguir canalizar de forma socialmente positiva as motivações e a energia das corporações que se movem no universo da saúde. Não sei se tal será possível mas tenho a certeza de que é fundamental assentar numa série de princípios: a) Prestigiar as profissões e os profissionais. Com o novo-riquismo da Europa dos negócios e dos lucros gerados pelas “oportunidades” financeiras, temos vindo a dar cabo das profissões no nosso Pais e assim não vamos a lado nenhum. (Aviso à navegação: é preciso perceber que se queremos ter bons profissionais, sejam médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos, ou outros, precisamos de lhes pagar bastante mais do que lhes pagamos actualmente); b) Melhorar, muito, o planeamento estratégico com clarificação de “quem é que manda” e de quais são os instrumentos disponíveis; c) Institucionalizar a avaliação externa e independente das organizações, dos resultados e das pessoas, com recompensa ao mérito e prestação de contas.
Estou convencido que se as corporações forem integradas num sistema com estas características e, sobretudo, se sentirem que o Poder reconhece o valor insubstituível das profissões e dos profissionais, será possível melhorar a governação na saúde (e no resto).

Gestão HospitalarO Serviço Nacional de Saúde (SNS), universal e tendencialmente gratuito, tende a acabar ou, em sua opinião, apesar das reformas em curso vai sofrer apenas ajustes a uma realidade nova, marcadamente mais global e mais economicista?

SS – Pelo que ficou dito atrás percebe-se que tenho muito orgulho no que foi possível fazer no âmbito do nosso Serviço Nacional de Saúde e que teria portanto muita pena se o destruíssemos. Agora que precisamos de o adaptar aos novos paradigmas da organização da saúde, do desenvolvimento das ciências biomédicas, da relação médico-doente, da empresarialização, isso precisamos.
entrevista de marina caldas, GH n.º 32

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