quinta-feira, janeiro 10

PPP à portuguesa


A mudança de estatuto jurídico dos hospitais (SA/EPE), cuidados de saúde primários (CSP) e a criação de parcerias público-privado (PPP), constituem as mais importantes reformas de Saúde em desenvolvimento deste governo.

A Parceria Público-privada (PPP) é definida na lei como o «contrato ou a união de contratos, por via dos quais entidades privadas, designadas por parceiros privados, se obrigam, de forma duradoura, perante um parceiro público, a assegurar o desenvolvimento de uma actividade tendente à satisfação de uma necessidade colectiva, em que o financiamento e a responsabilidade pelo investimento e exploração incumbem, no todo ou em parte, ao parceiro privado ».

As PPPs, embora possam apresentar vantagens, como a obtenção de financiamento para a realização de projectos de modernização da administração pública, constituem processos complexos de projectar, implementar e administrar.
Por isso, diversos autores reconhecem que «as PPP só são bem sucedidas quando o grau de sofisticação entre ambas as partes é semelhante. Caso contrário, os custos em que o Estado incorre são muito superiores ao previsto. Em países como a Argentina têm sido um desastre, em países escandinavos têm corrido muito bem. Mas o que se deverá entender precisamente por «Grau de sofisticação»?
Significa que as equipas que representam o Estado têm que estar tão bem preparadas e tão motivadas quanto as privadas. O Estado tem de se munir de bons juristas, de bons financeiros, de bons auditores, de bons engenheiros, capazes de desenhar o projecto de concessão de uma forma muito robusta e de coordenar e monitorizar correcta e atempadamente a «performance» dos concessionários. Conforme é referido no relatório do TC «...a falta de rigor no presente vai-se transformar em milhões no futuro».(
Cristina Neto Carvalho, “Factores críticos de sucesso nas PPP”).

Entre nós, a primeira vaga de projectos PPP para a construção de quatro novos hospitais foi anunciada em Setembro de 2001. Estes projectos, além de investimento e exploração do edifício, prevêem também a concessão de exploração destas unidades a entidades privadas.
Assim sendo, a decisão relativamente a estes projectos de elevado risco terá forçosamente outros fundamentos, além da habitual necessidade de obtenção de financiamento, como seja a dificuldade de gestão dos hospitais públicos:

a) - Falta de controlo orçamental- até há bem pouco tempo: orçamentos elaborados com base no histórico, cobertura do excesso de despesa através de orçamentos rectificativos, crescimento constante da dívida;
b) - Dificuldades relativamente aos sistemas de informação, instrumentos indispensáveis à monitorização da produção e desempenho;
c) - Má distribuição e carência de pessoal, afectando a eficiência e qualidade dos cuidados de saúde;
d) - Aumento crescente das listas de espera;
e) - Acessibilidade- recurso à Urgência Hospitalar como forma de acesso expedito às Consultas de Especialidade.

Decorrido seis anos após o lançamento das PPP, o único projecto em funcionamento é o do Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul (CMFRS), situado em São Brás de Alportel. Ao longo destes anos parece ter-se formado consenso nos decisores para considerar as PPP de HHs apenas para parte física (investimentos e exploração do "edíficio"), não para exploração do hospital. Tudo pelo risco (falta capacidade Estado, existência de apenas três concorrentes sofisticados e muito poderosos, evolução da medicina e suas consequências, etc.).

De qualquer forma estão lançados (exploração do edifício e gestão) os concursos de cascais, braga, loures e vila franca, estando previsto para o início do corrente ano o lançamento do concurso do centro hospitalar do algarve.
Sob o ponto de vista político o projecto das PPP à portuguesa, parece talhado a servir a estratégia de três grandes grupos económicos privados nacionais que pretendem alcançar rapidamente o controlo de uma parcela importante do sector público de saúde.
(cont.)

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1 Comments:

Blogger e-pá! said...

O modelo de PPP's para a Saúde, que está definido, não parece ser o mais adequado.
E a razão encontra-se bem explicitada no texto:
"Estes projectos, além de investimento e exploração do edifício, prevêem também a concessão de exploração destas unidades a entidades privadas."
Muita areia para a camioneta (pública).

Em termos de rigor e de regulação pública, não estaremos mais próximos da Argentina do que da Suécia?

Caímos no embalo inovador que somos capazes de fazer sempre para além dos outros ou, qualitativamente, melhor.
Somos, simultâneamente, o País do velho do Restelo que tinha medo do mar desconhecido e do Viriato que desfiava legiões romanas.
Grande parte das vezes só estamos a propor-nos medir forças com tarefas para além das nossas reais capacidades ou conhecimento. Depois, no desempenho, falhamos estrondosamente.

Penso que é cada vez mais claro que deveria ter sido preservada a exploração dos Hospitais PPP's.

Como está e vai ser, em termos de exploração, o H. de Todos os Santos?
O concurso da empreitada será no primeiro trimestre de 2008?
Alguém sabe qual o modelo que vai ser definitivamente adoptado?

Onde está a capacidade de controlar de um Hospital com dimensão tipo "jumbo" ( substituir os HH's de S. José, Capuchos, Desterro, Santa Marta e Estefânia, não é "pêra doce").

A entrega da exploração do Hospital ao Sector Privado da Saúde, não deixará de parecer, aos olhos dos portugueses, uma capitulação.

Quando for anunciado, assim: "construímos, gerimos e exploramos o maior e mais moderno Hospital português...".
Quem não começa a temer pelo futuro do SNS?

3:05 da tarde  

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