terça-feira, janeiro 8

Saúde e Economia


Saúde e a Economia são duas áreas do conhecimento complementares e que, frequentemente, se cruzam. A Saúde proporciona bem-estar e qualidade de vida, a Economia permite o progresso das sociedades, o desenvolvimento científico e tecnológico, patamares mais elevados de bem-estar e de saúde.

Saúde e Economia relacionam-se, assim, de forma directa e interpenetrável, em prol do desenvolvimento do Homem.
É, todavia, interessante constatar que no âmbito específico e operativo dos Serviços de Saúde, a economia é, muitas vezes, uma disciplina mal-amada, incompreendida por uns e detestada e omitida por outros.
Daqui resulta a ideia, errada, de que a ciência económica e as ciências da saúde, estão em terrenos opostos e que estas últimas só se desenvolvem quando se libertam das pressões económicas.

Nada mais absurdo, irrazoável e irresponsável. Absurdo porque no limite a falta de recursos impediria os serviços de saúde de existir e de funcionar. Irrazoável, porque a Saúde, embora vital, não é o único sector que contribui para o bem-estar da humanidade, já que as necessidades e expectativas dos cidadãos, são hoje muito multifacetadas e todas as áreas necessitam de recursos que se tornam, assim, cada vez mais escassos. Irresponsável, porque, na Saúde como em tudo na vida, o funcionamento dos serviços deve impor regras de proficiência, racionalidade e parcimónia, numa palavra, de “accountability”.

O bom governo dos Sistemas de Saúde não pode, todavia, submeter à economia, as suas opções estratégicas e operacionais. Haverá sempre necessidade de estabelecer compromissos entre os custos de uma terapêutica e os benefícios que ela proporciona ou a eficácia com que se projecta na população que a ela acede.

E é também com o uso de regras de economia, que se devem tomar opções entre diferentes programas ou intervenções em saúde, face às tecnologias envolvidas, prioridades sociais e custos expectáveis. De uma coisa temos a certeza: os recursos
são finitos e a sua utilização deve maximizar o número de pessoas beneficiados e o “valor” que podemos dar a cada uma delas. É uma equação difícil, mas isso permite-nos perceber quão injusto e irresponsável é, concentrarmos numa técnica ou num procedimento um volume incontrolado e desnecessário de recursos.

Fomos recentemente confrontados com três situações em que os custos e, portanto, a Economia, tem importância para o sector da Saúde: o relatório sobre os deficits dos Hospitais; o programa de Saúde Oral para crianças e grávidas; e o anúncio da vacinação gratuita contra o cancro do colo do útero.

No primeiro caso, censurando primeiro para obter explicações depois. No segundo e terceiro casos, aceitando com simpatia e aplauso as novas despesas que aí vêem.
Aqui estão três excelentes exemplos onde valeria mais a pena perceber primeiro o seu impacte e fazer comentários de censura ou regozijo, depois.
GH n.º 32

2 Comments:

Blogger e-pá! said...

É rara a intervenção de economistas ou de gestores que não bata na mesma tecla:
"... os recursos são finitos ..."
Na Saúde este lema é, então, o castrador-mor das inovações, mudanças ou projectos de investimento.
Certo, o carácter finito de tudo, recursos inclusivé, é conhecido de toda a gente.
A começar na sua casa, no seu bolso...

Mas o conhecimento económico, padece, como todos os saberes, de uma platónica verdade:
"A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos" ...

Uma "verdade" que os economistas nunca sentem, ou referem.
Passam ao largo!
E, acabam por gerar um "desequilíbrio de oportunidade".

1:04 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Adenda:

No Público de hoje 09.01.08, o artigo da contra-capa, "o admirável mundo dos saudáveis" de Helena de Matos, mostra um tipo de perversão - selectividade de cuidados - enquadrável na vasta área de inovações que a Economia da Saúde trouxe à liça e que, francamente, infunde-me a mais profunda preocupação.

4:28 da tarde  

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