Virou-se o feitiço...
Manuel Delgado critica ligação com cuidados continuados
A maior sensibilização da população para a existência da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) está a provocar «problemas» aos hospitais na hora de dar alta aos doentes. Pelo facto de saberem que os doentes a quem é atribuída alta dos cuidados agudos «têm direito a um período de reabilitação suportado em parte pelo Estado», agora «as famílias não querem levar os doentes para casa», revela Manuel Delgado, presidente do CA do HCC.
Trata-se de «um problema nacional hoje em dia», que tende «a agudizar-se porque as pessoas sabem que têm um direito novo». «Virou-se o feitiço contra o feiticeiro», já que assim «torna-se difícil devolver o doente à família».
Burocratização dificulta
Outro dos constrangimentos prende-se com a «excessiva burocratização» de todo o processo de transferência do doente para uma unidade da RNCCI. Quando o hospital encontrasse uma vaga na rede para enviar o doente, deveria proceder à passagem «imediatamente». Porém, não é isso que acontece. Segundo Manuel Delgado, «primeiro tem de vir uma declaração da Segurança Social com os rendimentos do doente, para que este saiba que percentagem vai pagar», o que «pode demorar uma semana ou mais». Em consequência, «enquanto os serviços hospitalares e sociais andam a reunir esta documentação pode perder-se a vaga, o que atrasa mais uns dias todo o processo», lamenta.
O compasso de espera motivado pelos procedimentos exigidos leva também a que o doente permaneça mais tempo do que o necessário no hospital. Até porque durante esse período «nem a família o quer». «Quem é que depois vai aceitá-lo numa unidade de convalescença se ele já estiver na família?»
Para resolver o problema, «os hospitais deveriam ter a obrigação de, quando o doente é internado, reunir logo toda a documentação necessária a todo o processo para eventualmente estar disponível em caso de necessidade, e não estar à espera da alta do doente para o fazer».
Em relação à sensibilização crescente da população para o «novo direito», considera tratar-se de uma situação «mais complexa», que não seria problemática «se todas as camas estivessem disponíveis quando houvesse necessidade de enviar doentes». Mas a realidade não é essa e, em «Lisboa e arredores», a escassez de lugares na RNCCI é um facto. «Em cuidados continuados nem todos os doentes precisam de ser internados», necessitando «sobretudo de apoio em tarefas domésticas e na alimentação». Por isso, a constituição de «brigadas móveis ligadas aos hospitais e centros de saúde que despoletem imediatamente apoio domiciliário» constituem uma boa solução. Além de permitir libertar camas hospitalares, esta medida iria ao encontro das preferências dos próprios doentes, que assim se viam integrados no seu meio, o que «potencia a reabilitação».
TM 1.º caderno 28.01.08
A maior sensibilização da população para a existência da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) está a provocar «problemas» aos hospitais na hora de dar alta aos doentes. Pelo facto de saberem que os doentes a quem é atribuída alta dos cuidados agudos «têm direito a um período de reabilitação suportado em parte pelo Estado», agora «as famílias não querem levar os doentes para casa», revela Manuel Delgado, presidente do CA do HCC.
Trata-se de «um problema nacional hoje em dia», que tende «a agudizar-se porque as pessoas sabem que têm um direito novo». «Virou-se o feitiço contra o feiticeiro», já que assim «torna-se difícil devolver o doente à família».
Burocratização dificulta
Outro dos constrangimentos prende-se com a «excessiva burocratização» de todo o processo de transferência do doente para uma unidade da RNCCI. Quando o hospital encontrasse uma vaga na rede para enviar o doente, deveria proceder à passagem «imediatamente». Porém, não é isso que acontece. Segundo Manuel Delgado, «primeiro tem de vir uma declaração da Segurança Social com os rendimentos do doente, para que este saiba que percentagem vai pagar», o que «pode demorar uma semana ou mais». Em consequência, «enquanto os serviços hospitalares e sociais andam a reunir esta documentação pode perder-se a vaga, o que atrasa mais uns dias todo o processo», lamenta.
O compasso de espera motivado pelos procedimentos exigidos leva também a que o doente permaneça mais tempo do que o necessário no hospital. Até porque durante esse período «nem a família o quer». «Quem é que depois vai aceitá-lo numa unidade de convalescença se ele já estiver na família?»
Para resolver o problema, «os hospitais deveriam ter a obrigação de, quando o doente é internado, reunir logo toda a documentação necessária a todo o processo para eventualmente estar disponível em caso de necessidade, e não estar à espera da alta do doente para o fazer».
Em relação à sensibilização crescente da população para o «novo direito», considera tratar-se de uma situação «mais complexa», que não seria problemática «se todas as camas estivessem disponíveis quando houvesse necessidade de enviar doentes». Mas a realidade não é essa e, em «Lisboa e arredores», a escassez de lugares na RNCCI é um facto. «Em cuidados continuados nem todos os doentes precisam de ser internados», necessitando «sobretudo de apoio em tarefas domésticas e na alimentação». Por isso, a constituição de «brigadas móveis ligadas aos hospitais e centros de saúde que despoletem imediatamente apoio domiciliário» constituem uma boa solução. Além de permitir libertar camas hospitalares, esta medida iria ao encontro das preferências dos próprios doentes, que assim se viam integrados no seu meio, o que «potencia a reabilitação».
TM 1.º caderno 28.01.08
Etiquetas: RCCI
3 Comments:
Oh! Não!
«brigadas móveis ligadas aos hospitais e centros de saúde que despoletem imediatamente apoio domiciliário», .. constituem uma boa solução...!!!
Como?
Complicar ainda mais?
Serviços domiciliários hospitalares´
+
serviços domiciliários dos cuidados primários
+
serviços de Cuidados continuados
coordenados por quem?
Integrados por:
Uma "Alta Autoridade do Apoio Domiciliário"?
Há muito - há anos! - que as famílias, após cuidados agudos hospitalares, têm dificuldades em reabilitar os doentes no domicilio.
Quando se fazem reformas a montante e a jusante alguém fica entalado no meio. Não é?
A solução deve (tem) ser encontrada no seio dos CCI.
Basta o "simplex", não criem o "complex"!
Por onde tem andado, Dr. MD?
Perante o que aqui escrevi sobre a "prática" existente nesta matéria, nomedamente num hospital do norte, a que tive acesso directo, esta opinião de Manuel Delgado em nada me surpreende. E só peca por tardia. Será que MD anteviu mesmo a saída de CC? Ou só agora se apercebeu dos problemas em matéria de CCI? E que dizer dos Cuidados Paliativos?
E a alguns que discordaram do que por mais que uma vez escrevi (recordo um comentário recente do Avicena) fariam bem se lêssem esta opinião de MD (certamnte para a maioria uma pessoa insuspeita).
Se o Xavier quiser (eu não gravo os meus comentários) poderá repor algo do que escrevi "sobre as minhas idas a um hospital do Norte" onde assisti e vivi situações absolutamente inaceitáveis para qualquer cidadão comum. E que muito tiveram a ver com o tal problema da inexistência de vagas em CCI.
Deixo apenas uma ideia ligeira sobre um desses momentos: como se convence uma família de que um doente com mais de 85 anos de idade, vítima de fractura do fémur, com anemia (que retardou a ciurgia) e em claro estado de subnutrição pode e deve regressar a casa três dias depois de ser operado (no caso concreto sem família que o apoie, para agravar a situação). E como se procura pressionar essa família dizendo-lhe que não há lugar para manter o doente, quando, como eu próprio constatei, havia geralmente mais de 25% de camas vagas (num total de cerca de 27 existentes, só em ortopedia). E ao mesmo tempo, doentes com "simples" traumatismos (resolvidos com uma tala ou gesso), numa mão ou num pé, davam lugar, no mínimo, a 3 dias de internamento.
Isto não é ficção. Eu vi.
E foi preciso teimosia...para que tudo acabasse bem!
Este Senhor Doutor, já após ter tomado posse do lugar que ocupa. em colóquio de Sociedade Científica para que tinha sido convidado como conferencista, respondia-me de cátedra sobre a eficácia dos Cuidados Continuados e eu, humildemente, dizia-lhe que 10% das camas de Lisboa estavam ocupadas por doentes que não necessitavam mais de cuidados médicos diferenciados.
Agora que eles não funcionam e vendo o seu próprio Hospital prejudicado por isso, parece ter descoberto a pólvora e até vai publicar que em certas condições pode explodir !
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