Reformas
Não gosto de personalizar as questões.
Os meus heróis morreram, quase todos.
Relativamente ao Prof. Cavaco Silva, respeito a escolha dos portugueses.
É o Presidente da República e não vou cair no erro daqueles professores que, mesmo cheios de razão, deram uma triste imagem de si próprios, num recente Prós e Contras.
Pessoalmente gostaria de ter outro, mas também não acredito que, quem quer que fosse, conseguisse libertar-nos da apagada e vil tristeza em que vamos vivendo.
Também não sou dos que pensam que foi um excelente primeiro-ministro.
Tivesse o Prof. Cavaco Silva realizado as reformas que a si mesmo se atribui e não estaríamos nesta situação.
Ao contrário, ajudou a desenvolver uma criatura de que só se deu conta na sua “licença sabática”: o “monstro”.
Quando se fala de reformas, lembro-me sempre do episódio protagonizado, no início do século passado, por um Professor muito conceituado, a quem perguntaram, publicamente, como deveria começar uma reforma do ensino.(Já nesse tempo se falava em reforma do ensino…)
“Importando os professores todos”, respondeu, de imediato.
E, depois duma breve pausa, preenchida pelo pesado silêncio dos seus ouvintes, acrescentou:
Já agora, talvez não fosse má ideia, importavam-se também …os alunos!
Os meus heróis morreram, quase todos.
Relativamente ao Prof. Cavaco Silva, respeito a escolha dos portugueses.
É o Presidente da República e não vou cair no erro daqueles professores que, mesmo cheios de razão, deram uma triste imagem de si próprios, num recente Prós e Contras.
Pessoalmente gostaria de ter outro, mas também não acredito que, quem quer que fosse, conseguisse libertar-nos da apagada e vil tristeza em que vamos vivendo.
Também não sou dos que pensam que foi um excelente primeiro-ministro.
Tivesse o Prof. Cavaco Silva realizado as reformas que a si mesmo se atribui e não estaríamos nesta situação.
Ao contrário, ajudou a desenvolver uma criatura de que só se deu conta na sua “licença sabática”: o “monstro”.
Quando se fala de reformas, lembro-me sempre do episódio protagonizado, no início do século passado, por um Professor muito conceituado, a quem perguntaram, publicamente, como deveria começar uma reforma do ensino.(Já nesse tempo se falava em reforma do ensino…)
“Importando os professores todos”, respondeu, de imediato.
E, depois duma breve pausa, preenchida pelo pesado silêncio dos seus ouvintes, acrescentou:
Já agora, talvez não fosse má ideia, importavam-se também …os alunos!
Brites
Etiquetas: Brites
13 Comments:
Só existe um pequeno problema com este post e com um mais abaixo.
Fala-se aqui em reformas, mas o que o actual governo está a fazer na educação não são reformas.
Análise custo benefício de quanto vais custar a "avaliação" e o tempo que vai levar a ser preparada, ninguém ainda fez?
Isso não custa dinheiro?
Ok pagam os mesmos não é?
Pois...
Os professores servem para ensinar.
A que propósito é que fazer reformas implica estar a despejar para cima de professores perto de mil horas não pagas de trabalho burocrático na maior parte dos casos totalmente inútil?
O meninos chumbarem porque não sabem, onde é isso está nesta "reformas"?
O gordos e anafados professores universitários com os seus horários por lei de 10 horas de aulas por semana são "reformados " também ou não são?
A que propósito é que confederações de país que tem uma representatividade NULA são chamados a dar bitaites na gestão das escolas? Isto agora é o quê? Uma feira?
É isto que são reformas?
Criar mais burocracia e mais burocracia, passar de ano toda a gente sem saber nada, e enganar as pessoas convencendo-as que terão empregos nas áreas que estudaram quando não o terão?
dissidente -x
Se o “pequeno problema” que existe com o post tem a ver com as reformas “que diz que este Governo está a fazer”, então não existe problema.
O post não diz nada disso.
Se vamos falar em verdadeiras reformas, então temos de começar por desenhar uma visão do futuro. Resolver os problemas do presente é, quando muito, consertar (no caso da Educação mais parece desconcertar) o sistema actual.
A Escola que temos foi criada para servir o estado industrial. O mundo mudou completamente e, como referiu Alvin Toffler, de passagem pelo nosso país, o modelo está falido.
Entretanto, Ministra e Professores passaram umas horas a discutir …a intendência.
Enfermeiros discutem reformas da Saúde com a tutela
A reforma dos cuidados de saúde primários (CSP), a implementação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e a requalificação dos serviços de Urgência foram alguns dos temas abordados na reunião que a ministra da Saúde, Ana Jorge, teve com a Ordem dos Enfermeiros (OE), no passado dia 27.
Do encontro, solicitado pelos enfermeiros, resultou a decisão de se agendarem «em breve» reuniões «parcelares» com os dois secretários de Estado da área da Saúde. Segundo informação enviada à Imprensa pela OE, o objectivo passa por continuar a abordar os temas que preocupam os enfermeiros, a que se junta também a questão das dotações seguras de profissionais e o modelo de desenvolvimento profissional dos enfermeiros.
Entre as propostas feitas pela OE encontram-se a «maior celeridade na reconfiguração dos actuais centros de saúde, através da implementação dos agrupamentos dos centros de saúde», e a «monitorização do que está a acontecer no terreno» no âmbito da RNCCI.
TM 04.03.08
Como disse e muito bem João Lobo Antunes no último prós e contras, é fundamental instituir-se a todos os níveis da Sociedade Portuguesa a norma da avaliação. Este princípio não faz parte da nossa cultura e, escaldados como estamos, pensamos sempre que os dados estão viciados à partida sendo o objectivo o habitual - A promoção dos amigos. O problema é que, em boa verdade, este é o comportamento usual das chefias, elas próprias avessas á avaliação e escolhidas vezes de mais por critérios politico-partidários. Para quem duvide, veja-se até que nível vai a ocupação de cargos por nomeação na administração pública.
Um outro aspecto é o da natureza do processo avaliativo. Este terá de ser simples, claro, objectivo e responsabilizante. Lobo Antunes mostrou a grelha de avaliação dos professores. Disse e bem em tom de charla, que mais parecia um mapa das linhas e estações de metro de uma grande urbe. Pessoalmente não me surpreendeu pois tendo conhecimento de um mapa idêntico de nome SIADAP (Sistema Integrado de Avaliação da Administração Pública), não esperaria outra coisa de burocratas da mesma extracção.
Penso pois que os professores têm toda a razão em opor-se a processos avaliativos deste tipo e, a prova da justeza da luta, está na dimensão do protesto. Estou certo que se os Sindicatos da classe não se tivessem oposto a medidas positivas desta Ministra, refiro-me em concreto às aulas de substituição, teriam hoje na rua a seu lado Alunos e Encarregados de Educação.
Brites, desculpe lá, mas o Toffler já há muito tempo que não tem credibilidade, pelo menos desde os anos 90.
E quanto ao que ele diz acerca de educação, está nos dois livros dele" a terceira vaga" e o 2choque do futuro".
A partir dos anos 90, tudo oq ue ele escreve não tem valor científico mas apenas valor de profecias e de neo liberalismo estilo neo cons.
Não é nada de pessoal contra si, mas tenho dificuldades em aceitar, modelo falido e para o estado industrial ou não, que na maior parte dos casos, os professores tenham com o novo regime, mais horas de trabalho burocrático do que fazerem aquilo para que lhes pagam: dar aulas.
Para lá disso o pressuposto do seu comentário parte do principio que nós em Portugal não vamos ter industria alguma.
Como me parece impossível um país não ter industria e continuar a ser país, então talvez seja melhor fechar as portas?
Ou vamos todos ser porteiros e seguranças e empresários em nome individual?
É que "estas profissões" não sustentam a nossa gloriosa república e o nosso falido sistema estatal.
Até sou a favor de uma forte existência de Estado, mas não do actual.
E no caso do organograma que vi da avaliação dos professores, só digo que quem concebeu aquilo é doido.
Existem diagramas de construção de reactores nucleares mais simplificados que aquilo...e mais baratos.
Dissidente-x
Sócrates e Ana Jorge congelaram o processo de reforma da Saúde.
O périplo de visitas à rede de CSP por parte da ministra da Saúde prossegue . Uma ou outra reunião com os responsáveis das corporações.
E é tudo.
A fazer correr o tempo até às eleições.
Mas há quem reclame da pasmaceira.
Ainda há muito trabalho a fazer: é preciso investir para requalificar os serviços mais diferenciados e apostar nas urgências básicas, defende António Marques
Pôr um rótulo nos serviços de urgência e não ter uma calendarização da requalificação necessária para cumprir o que está definido no mapa que acaba de ser aprovado é enganar a população. O aviso é feito pelo presidente da Comissão de Apoio ao Processo de Requalificação de Urgências, António Marques, que lembra que ainda há muito trabalho a fazer para que a nova rede "se torne realidade".
O mapa com os pontos da rede foi finalmente publicado no final da semana passada, prevendo 89 serviços de urgência em todo o país, mais seis do que tinha sido proposto pela comissão. Mas a "imensa maioria é sobreponível à nossa proposta", frisa o médico.
Agora, advoga, é necessário ter a certeza de que esta rede se vai concretizar e não se repetirá o que sucedeu em 2001, quando foi aprovado o mapa anterior que integrava apenas 39 serviços de urgência em todo o país mas, na prática, continuaram a funcionar 73. E, neste momento, "o mais premente é investir nos extremos": nas urgências mais diferenciadas (as polivalentes, que tratam todo o tipo de emergências) e nos serviços básicos (SUB), o novo conceito a criar em centros de saúde e hospitais mais pequenos.
Um exemplo: as urgências dos hospitais de Vila Real, Viseu, Évora e Faro - que no mapa aparecem classificadas como polivalentes - ainda não o são, pois necessitam por vezes de transferir doentes para hospitais com serviços mais diferenciados, acentua António Marques. Estas são "as situações mais flagrantes", diz, mas há também lacunas em outras urgências classificadas como polivalentes, como por exemplo a de Braga e a de Gaia, que enfrentam "dificuldades nas áreas de Neurologia e de Neurocirurgia", respectivamente.
É preciso identificar ponto a ponto as diferenças entre o que existe e o que é necessário para que os serviços correspondam à nova classificação. E a calendarização da requalificação, agora que o mapa já é conhecido, deve ser tornada pública, defende o médico.
A comissão vai ter, entretanto, que actualizar também a rede de referenciação (circuitos de encaminhamento de doentes entre serviços) em função dos pontos de rede publicados. De qualquer forma, este vai ser "um processo dinâmico" que poderá demorar meses e que implicará um reajustamento à medida que os serviços começarem a funcionar já com a nova classificação.
António Marques nota, a propósito, que actualmente a referenciação ainda é feita com base na tradição, em muitos casos. E dá o exemplo de Cinfães, que normalmente transfere os doentes para o Porto quando, nas situações pouco graves, poderia recorrer ao Hospital do Vale do Sousa, bem mais próximo.
Quanto ao problema do recurso inadequado às urgências (estima-se que cerca de 40 por cento dos doentes que procuram estes serviços não são casos urgentes), este "apenas será ultrapassado quando as pessoas perceberem que têm resposta noutros locais", diz. "É a regra do mercado. Este problema não se resolve sem se melhorar o que está à volta."
JP 05.03.08
O debate esclarecedor
Fiquei preocupado com a atitude dos professores e das consequências para o país com o que vi no debate Prós e Contras, do passado dia 25. O debate entre a ministra da Educação e os professores foi muito esclarecedor. Eu, que nos últimos tempos desta conflitualidade até estava a ficar sensível aos protestos dos professores, acabei por perceber que estava a ser enganado por eles. Hoje estou totalmente do lado da ministra e da reforma que o Governo quer implementar.
Percebi, para grande tristeza minha, que os professores se comportam como a classe mais corporativa e resistente à mudança, o que é fatal para qualquer sociedade que se quer desenvolver. (...) Não querem que os pais tenham uma palavra a dizer sobre a educação dos seus filhos. E isto choca-me porque, ao contrário do que se diz, há muitos professores que são muito maus pedagógica e cientificamente e são tudo menos empenhados. Vejo isto pelos professores da minha filha, que frequenta o 5.º ano numa escola pública. Os professores não querem as autarquias a interferir quando elas também sofrem sempre que o abandono escolar é muito elevado, como referiu o autarca de Paredes.
Percebi que os professores não querem ser avaliados, quando todos sabem que a melhor forma de aperfeiçoar a educação passa pela avaliação, que deve ser encarada sem fantasmas e de forma humilde. Percebi que não querem modelos de gestão que responsabilizem todos aqueles que têm a suprema tarefa de preparar cidadãos para o mundo. Foquei horrorizado com a atitude fechada dos professores, que são funcionários públicos, mas não querem tutela nenhuma.
Afinal aqueles que eu pensava que eram os motores do desenvolvimento da nossa sociedade são um preocupante factor de bloqueio.
Alexandre Carvalho, leitor JP 05.03.08
" Tambemquero"
Explique-se se conseguir, à que propósito devem os pais "ter uma palavra a dizer " na educação dos filhos,dentro da gestão da escola?
Portanto são so pais que devem dizer qual é a matéria a ser dada e que notas devem ser atribuidas aos filhos deles, é isso?
E as autarquias devem ter a ver com isto à propósito de quê?
Mas as coisas agora estão invertidas?
Mais corrupção do que aquela que já existe com autarquias a escolherem professores?
Em vez de concursos públicos?
Se o "tambémquero" quer "avaliação" então comece por exigir o fim do actual sistema em que as pessoas passam todas de ano até ao 9º ano saibam ou não saibam.
Se quer avaliação exija que os alunos que excedem o número de faltas permitido sejam chumbados.
Ou isso é "corporativismo?
Quanto eu andei no ensino secundário nos anos 80 chumbava-se por faltas e quando não se sabia nada.
Podia não se sair da escola a saber grandes coisas, mas sabia-se de lá a saber ler e escrever.
E não andavam lá paizinhos, nem autarquias, nem programas "novas oportunidades" .
Agora verifico que fui um ótario.
Devia ter esperado mais 20 anos, baldar-me às aulas, deixar que as autarquias escolhessem professores de acordo com a cor política do sítio, fazer trafulhices umas atrás das outras e no fim chegar ao 12ºano ou à Universidade sem saber escrever ou digitar português de telemóvel.
E passar o tempo bêbado nas aulas, guiar carros sem carta cheios de tuning e bater com eles, entre outras actividades do mesmo estilo.
Depois aparecem os sociólogos do ISCTE e a propaganda governamental da esquerda de doidos varridos que temos a desculpar os meninos e por culpa nos professores.
Uma "reforma" que diz que as pessoas para progredirem na carreira tem que passar o maior número de alunos não é uma reforma.
É uma vigarice.
Obviamente as pessoas colocadas entre não progredirem na carreira por chumbarem alunos ou passarem alunos e progredirem irão passar alunos.
Deve ser esse tipo de "intervenção dos pais" e das autarquias que se está a espera de vir a acontecer.
Depois até virá provavelmente a ser criado um ranking autárquico de escolas e autarquias como menor numero de chumbos por metro quadrado.
O resultado será zero chumbos no país todo.
Seremos todos doutores, Estúpidos que nem uma porta mas todos doutores.
DISSIDENTE-X
Dissidente-X
De acordo com as críticas a:
- carga burocrática dos professores
- modelo de avaliação: o diagrama publicado no Público é bem o exemplo duma disfunção burocrática.
Devo acrescentar que considero lamentável que o Ministério da Educação tenha "vendido" a ideia de que os grandes responsáveis pelos desastrosos resultados do nosso sistema educativ sejam os professores.
Ao contrário do que muitas vezes se afirma, é tão verdade dizer que os bons professores fazem os bons alunos, como afirmar que os bons alunos fazem os bons professores.
Não há uns sem os outros.
Por isso entendo que o facilitismo, nascido do “eduquês”, é um dos principais factores do insucesso escolar.
Completamente em desacordo quanto a Toffler.
De um dia para o outro, Portugal encheu-se de "privilegiados". Num país pobre e sem perspectivas, os "privilegiados" passaram a fazer parte da ordem do dia: com lugar cativo nos discursos oficiais, floresciam irresponsavelmente por trás da mais pequena reforma ou da mais simples medida. Confiante nos resultados da demagogia, o eng.º Sócrates governava contra médicos, professores, militares, funcionários públicos, magistrados, polícias e outros grupos afins que, de acordo com a propaganda vigente, se dedicavam, com zelo e sem vergonha, a defender os seus "privilégios" contra os superiores interesses da maioria dos portugueses. Neste vistoso contexto, as reformas, reduzidas a meia dúzia de medidas avulsas, não serviam propriamente para reformar: serviam, sim, para criar um permanente conflito de forma a evidenciar a "firmeza" do Governo e os "interesses mesquinhos" com que este tinha que se defrontar.
Sem melhores dias à vista, este "novo estilo" cansou. Em três anos, a determinação do primeiro--ministro passou a ser um sinal de arrogância, a coragem das suas "reformas" começou a ser vista como um sinónimo de teimosia e os floreados da propaganda transformaram-se numa inquietante forma de autismo.
Com a aproximação das legislativas, a popularidade em queda e a contestação crescente da rua, o Governo, que não recuava perante a força dos "interesses instalados" ou a antiguidade dos "direitos adquiridos", acabou por recuar atabalhoadamente perante os protestos do interior, sacrificando, de um dia para o outro, o ministro da Saúde e a sua proclamada reforma. Nesse mesmo dia, o eng.º Sócrates começou a "compreender" os antigos "privilegiados". E o Governo entrou em campanha eleitoral, com sessões contínuas de propaganda que se irão prolongar pelos próximos 18 meses, a um ritmo que não parece fácil de manter.
Pelo caminho, ficou apenas um vestígio dos tempos idos: a ministra da Educação, um produto típico do "novo estilo", forjado na guerra contra os "privilegiados", no autoritarismo do primeiro-ministro e na recusa do diálogo que deu fama ao eng.º Guterres. Órfã de um Governo que já não existe, Maria de Lurdes Rodrigues transformou-se num empecilho de campanha, transformando-se simultaneamente no alvo privilegiado de todos os que não se conformam com a ausência de resultados e a inutilidade dos sacrifícios.
Sem poder remover a ministra da Educação, o eng.º Sócrates está condenado a apoiar uma política sem futuro, sob pena de perder, por completo, o capital político de que ainda dispõe. Se os comentadores do costume ainda insistem na "coragem" de quem decide, independentemente do que é decidido, grande parte dos portugueses já percebeu que esta "coragem" não se distingue da prepotência e que pior do que hesitar é precipitar-se num caminho sem retorno, onde abundam as más decisões.
No que pode ser visto como uma estonteante fuga para a frente, o eng.º Sócrates decidiu disputar a rua aos manifestantes, convidando o PS a participar num comício de apoio ao Governo, como nos bons velhos tempos do PREC. O PS, no entanto, parece sentir cada vez mais saudades do diálogo do eng.º Guterres. Até porque se a maioria absoluta falhar...
CCS, JP 06 03 08
A rua não tem sempre razão
O direito à indignação e ao protesto são irrecusáveis, mas, numa democracia, as decisões tomam-se através do voto
É curioso e surpreendente situar-me eu na posição de criticar movimentos populares de contestação ao poder político, sem que me sinta obrigado a defender este, ou qualquer outro, Governo. Mas nem o facto de ter dado um contributo técnico, profissional, para o início deste processo me inibe de exprimir agora uma opinião.
As reformas no sector da educação e as relações laborais entre professores e ministério de tutela transformaram-se em conflito social e assumem já uma dimensão política. Não é uma novidade. O sindicalismo é uma entidade de representação de interesses colectivos (dos assalariados) mas que, institucionalizando-se, também cria os seus interesses "próprios": os dos dirigentes, dos militantes, dos funcionários do "aparelho", da salvaguarda da sua própria função e respectiva imagem pública. No caso português, os vectores mais dinâmicos e dominantes do sindicalismo são conduzidos por gente com uma iluminação ideológica e, frequentemente, com alinhamentos partidários: quando a conjuntura o permite, jogam o peso da acção social na cena política, geralmente contra o Governo em funções, no que tendem a ser acompanhados pelas diversas forças da oposição. Ninguém sabe como esta crise irá terminar, mas o diagnóstico compreensivo da situação não é muito difícil de fazer.
A novidade da conjuntura presente é a de que o mal-estar latente no corpo professoral transbordou agora para a rua, sob a forma de mobilização contestadora (mais do que reivindicadora), amplamente multiplicada pelos ecos mediáticos, onde se exprimem emoções e frustrações diversas. Não nos iludamos: as convocatórias e manifestações ad hoc, possibilitadas pelos gadgets de comunicação interpessoal, não são mais do que a forma pós-moderna do tam-tam africano ou do velho rumor urbano ocidental. Mas as "minorias activas" tentam controlar e canalizar este fluxo para objectivos que só elas saberão precisamente quais são. Quase todas as revoluções se fizeram assim. Contudo, não é porque um relatório de "sábios" alerta para os perigos de uma "crise social" ou um general reformado chama a atenção para a deslegitimação progressiva do nosso regime democrático que o país vacila nas suas convicções profundas de querer continuar a "ser", num clima de liberdade e com a prosperidade possível.
Os professores terão certamente algumas razões de queixa: a inadequação das instalações para a sua permanência e trabalho nas escolas exige fortes e urgentes investimentos; a avalancha das normas administrativas que sobre eles desaba carece provavelmente de algum simplex; etc. Mas qualquer observador atento que conheça um pouco o ambiente nas nossas escolas públicas teria percebido a existência, entre os professores, de uma implícita hierarquia de reconhecimento profissional que cindia o corpo docente em três grupos, grosso modo: um importante sector de indivíduos competentes, dedicadíssimos e experientes, merecedores de todos os encómios (até pelas crescentes dificuldades da missão educativa); uma pequena minoria de equivocados na profissão, incapazes de melhoria e perturbadores do clima relacional na organização escolar; e, como sempre, uma maioria de pessoas de boa vontade e com todas as capacidades para progredir e incrementar as suas qualidades profissionais, com benefícios directos para a aprendizagem das crianças e os resultados (qualitativos e quantitativos) do ensino. A organização da carreira docente em categorias profissionais e uma real avaliação do desempenho (que não tinha qualquer efectividade no estatuto anterior) procuraram traduzir organicamente aquelas clivagens, "partindo" o falso princípio da igualdade nas recompensas (quando os contributos são tão diferenciados) e tentando construir um sistema meritocrático e de responsabilidade (individual e grupal, no seio na comunidade escolar) no exercício da função docente.
É provável que o processo administrativo (concurso) que levou já à nomeação de uns milhares de professores-titulares tenha corrido com deficiências, produzindo casos de injustiça individual, no sentir dos próprios e dos seus pares, e distorcendo a "hierarquia reconhecida". Mas é precisamente àquele "igualitarismo" e "irresponsabilidade" que os líderes sindicais (e outros) têm vindo a apelar, na batalha que querem travar contra estas reformas.
A sociedade (e o Estado) atribui aos professores um "poder social" considerável: não apenas a responsabilidade de ensinar, mas também a faculdade de "julgar e avaliar" (os saberes adquiridos e, implicitamente, as pessoas que os exibem) e de se mostrarem eles próprios como "modelos educativos" para as crianças e jovens em formação.
Aos professores - meus colegas de missão -, eu desejaria que não se enganassem de alvo. O direito à opinião, à indignação e ao protesto são hoje irrecusáveis, mas, numa democracia, as grandes decisões de orientação política tomam-se através do voto de todos os cidadãos. E os cidadãos-professores têm de ter (e merecer) a autoridade e o respeito necessários para se apresentarem diariamente perante os seus alunos na sala de aula.
A rua não tem sempre razão.
João Freire, JP 06.03.08
BRITES:atenção ao seguinte.
Eu cheguei a ler Toffler
o choque do futuro /terceira vaga/ previsões e premissas/ powershift.
A partir do powershift que penso ter sido publicado em 92/93, a qualidade já não era a mesma, mesmo em artigos ocasionais que apanhei.
O que antes era - parecia-me - um esforço sério de reflectir e prospectivar à distancia, o futuro, estava agora( naquela altura)transformado em ideologia.
Em defesa de ideologia.
Ele deixou de ser um investigador para passar a ser um bom cidadão americano....
Foi isso que me desagradou.
No entanto, mesmo agora ao ler o "Choque do futuro" é actual, porque conseguimos ver o que acontece hoje, parcialmente já descrito num livro que foi escrito em 1969.
Esse é o mérito dele.
No que ao post diz respeito e sobre educação nem sequer me parece que Toffler tenha algo a ver com esta ideia disparatada de "reformas".
Acho que a sua ideia derivada de Toffler de dizer que a educação está organizada para algo que já não é o que está; não me parece que seja isso que está a ser feito com estas reformas.
Reformas, quer dizer, com estas "coisas"... que se querem implantar.
Dissidente-x
"Também quero"
Existem vários pequenos problemas.
a) a cassete dos sindicatos já está gasta.Mude-se a cassete para dvd.
B) os professores estão a organizar-se espontaneamente, nomeadamente na Blogosfera.
Na blogosfera há sindicatos? Há patrão?
C) concordo consigo em relação à rua.
Só é pena e lamentável que ao Partido socialista a rua sirva quando o partido socialista está na Oposição.
Quando está no poder a mesma rua que antes servia passa repentinamente a deixar de de servir.
c)Um partido no governo, faz leis, não faz reformas.
d) convém, quando se mudam as coisas, ter-se uma ideia clara do que se está a fazer.
Nos últimos 3 anos não existe uma qualquer ideia clara do que se está a fazer; excepto cumprir as ordens de Bruxelas no que ao deficit público diz respeito.
E atacar à vez, classes profissionais.
Isto não chega. Com rua ou sem rua, isto não chega.
Ao final de 4 anos de governo existe o vazio completo.
O que aliás não é de estranhar.
Quando se tem um programa político como o do actual governo que consiste em
a) chegar ao poder e manter-se lá;
b) dar graças a Deus por não ser do pcp;
as probabilidades de êxito são inexistentes.
Quanto aos sindicatos, eles agradecem imenso, que o governo queira negociar com eles do que com movimentos espontâneos e relativamente desorganizados de professores.
Assim continuam a iludir as pessoas parecendo que estão vivos.
O pcp também agradece.
Eu não agradeço, porque, como cidadão já estou farto de ver o PCP a ser artificialmente mantido para ser apontado como o lobo mau/ inimigo omnipresente que vem aí.
E servir para desviar as atenções de outras coisas.
O resultado: o estado a que isto chegou.
Só que o fim da linha é agora.
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