Gostava de ter escrito isto
A visita de Cavaco à Madeira é uma nódoa que não sairá tão cedo, um momento de vergonha e capitulação que veio manchar uma Presidência até aqui pacífica, louvada e isenta de riscos. Mas, na primeira vez em que tinha de correr riscos políticos e assumir-se como representante primeiro da nação portuguesa, Cavaco Silva mostrou a massa de que é feito. E deixou muitas saudades de Presidentes com coragem e capazes de distinguir aquilo que, às vezes, é essencial e de que não há forma de fugir. Tivemos dois desses: Eanes e Mário Soares. Cavaco não tem esse instinto democrático inato: é um democrata por educação, não por natureza. Já o sabíamos, mas foi penoso ter de o recordar e logo a pretexto desta fantochada interminável e menor que é a longa chantagem de trinta anos que o dr. Jardim exerce sobre os órgãos de soberania e a política portuguesa.
Esta viagem de Cavaco à Madeira serviu para me explicar, se eu não soubesse já, a razão pela qual jamais votei ou votarei neste homem. Porque, ao contrário do que ele parece pensar, não é o cargo que está ao serviço dele, mas ele que deveria estar ao serviço do cargo. E não esteve.
MST, expresso, edição 1851 de 19.04.2008
MST, expresso, edição 1851 de 19.04.2008
12 Comments:
Sempre acreditei que o cargo institucional e representativo de Presidente da República portuguesa e as caractarísticas políticas, sociais e essencialmente culturais, de Cavaco e Silva, não se coadunavam.
Faltava qualquer coisa...
(Se fosse irónico e viperino como o Prof. Adriano Moreira, diria que o seu problema será não ter feito o liceu.)
Respeito-o enquanto PR - devo-lhe isso enquanto cidadão - mas não o admiro.
A admiração reservo-a para os meus eleitos.
Como madeirense que sou considero indigna e vergonhosa a atitude que tomou perante as insolências (também) institucionais de AJJ.
Segundo Valery um homem competente é um homem que se engana segundo as regras.
Não vagueia sobre as regras...
Esta visita também nos trouxe algo que dificilmente se perdoa: a negação da evidência que é a da existência de bolsas de extrema pobreza e indigência. E a negação expressa pela 1ª dama foi feita de forma inqualificável. Para se evidenciar o que de bom acontece não é necessário omitir ou negar o que demau também existe. Levou-se o capciosismo a extremo.
É verdade o que José Miguel Júdice disse esta semana na SIC Notícias sobre Jardim: há décadas que os responsáveis políticos portugueses o tratam como se tratam os doidos, fazendo de conta que não o ouvem e nunca o contrariando. Aliás, não são só os responsáveis políticos. Basta não se ser madeirense ou, sendo, não viver na Madeira, para poder ignorar Jardim. E se um madeirense que vive na Madeira se queixa, a resposta está na ponta da língua: "Votam nele, não votam?"Certo que votam, há décadas, e sempre com maioria absoluta, não havendo notícia de quem acuse Jardim de manipular resultados. Terão pois o que merecem e nós, os outros portugueses, só damos por eles e por Jardim quando ele se lembra de insultar alguém "do Continente" ou desata num berreiro porque quer mais dinheiro ou ameaça não cumprir leis da República. Como alguns pedopsiquiatras dizem da má educação das crianças, será a forma de Jardim dizer "estou aqui".
Há, porém, um pequeno, minúsculo pormenor: nem todos os madeirenses votam em Jardim. Nas últimas eleições, em 2007, foram quase 40% dos recenseados a não votar nele. E dizem as regras da democracia que esses 40% têm, não só direito à vida, como a respeito, respeito esse devido aos seus representantes eleitos no Parlamento madeirense. Representantes que Jardim, igual a si próprio, faz gala em desrespeitar e insultar. Até aqui nada de novo. Novo é ter tido, ultimamente, apoios de peso nesse desrespeito: primeiro, o do presidente da Assembleia da República, o socialista Jaime Gama, que naquele mesmo Parlamento elogiou Jardim como "uma figura ímpar da democracia portuguesa" (se era para ser irónico, a ironia foi daquelas com necessidade de livro de instruções). E, esta semana, o do Presidente da República, que iniciou uma visita à Madeira após o anúncio, por parte de Jardim, de que não seria alvo de uma sessão solene no Parlamento Regional porque ele, Jardim, "tem vergonha daquele bando de loucos" (para Jardim os " loucos" são os deputados eleitos da oposição, bem entendido).
Há quem, como António Barreto, defenda que Cavaco, nestas circunstâncias, não devia ter ido; e quem, como Pacheco Pereira, considere que Cavaco devia ir para tornar bem claro a Jardim que por mais absolutas que sejam as suas maiorias o regime em vigor é a democracia, e o país no qual vive é Portugal. Não me contando entre os apoiantes de Cavaco nas eleições presidenciais, esperava do Presidente eleito o mesmo que Pacheco Pereira. Por um motivo muito simples: é o seu dever. Mas Cavaco achou que não. E não só aceitou a desfeita à democracia e a si próprio, assim a modos de um qualquer sr. Silva e não do representante supremo de Portugal, como chegou a, num discurso qualquer, referir-se ao "sentimento inquebrantável entre portugueses e madeirenses". Fez-se pois luz: Cavaco acha que a Madeira é o estrangeiro. Até se compreende, mas não se desculpa.|
Fernanda Câncio, DN 18.04.08
Pois bem,
Num blogue onde muito mal se disse de Cavaco Silva durante a campanha eleitoral para a Presidência da República; no mesmo blogue onde o actual Presidente da República foi já elogiado (por estar ao lado de Sócrates?); num blogue onde predomina uma clara tendência esquerdista; não surpreende que Cavaco Silva seja alvo de críticas por dizer o que disse de Alberto João Jardim.
E não surpreende que MST tenha escrito o que escreveu pois ele, MST, como se torna evidente desde há muitos anos, procura imitar o seu progenitor. Mas fá-lo de forma que muitas vezes raia o mau gosto, a falta de bom senso e complexos de inferioridade. Ao contrário daquele que, afinal, lhe deu o nome.
Quanto às declarações do Senhor Presidente da República, meus caros colegas comentadores: a obra de AJJ fala por si. Só quem não conheceu a Madeira, ou quem não quer ver a realidade é capaz de ignorar o grande progresso daquela região autónoma.
E para alguns, é certamente difícil ouvir Cavaco Silva elogiar o Homem e a sua Obra; e mais difícil terá sido ouvir Jaime Gama fazer esse mesmo elogio!
Afinal, que diabo, Jaime Gama é um socialista convicto e, um Homem de acima de qualquer suspeita quanto às suas convicções políticas. E é a segunda figura da República.
Porque não foram aqui criticadas as suas declarações?!
Há pobreza na Madeira? Há concerteza. Até porque, como sabemos (pelo menos alguns de nós) o fenómeno tem contornos bem mais complexos do que a falta de recursos económicos.
Mas a Madeira dos nossos dias nada tem a ver com a Ilha onde, antes do 25 de Abril, havia uns "paquetes" que ficavam "ao largo" e uns quantos passageiros que se limitavam a ver a "paisagem" mais ou menos longínqua ao mesmo tempo que "uns miudos" rodeavam a embarcação à espera do lançamento de uma "moeda" que, com especial habilidade, apanhavam antes da mesma "aterrar" nas areias profundas.
Compare-se o que foi feito na Madeira com o que foi feito no Continente e tirem-se as conclusões.
O comentário do Tonitosa sobre o Alberto João é lamentável!
Caro Tonitosa:
A Madeira, como qualquer parte do território - encerra dois tipos de observação:
1. o vísivel;
2. e o oculto.
O visivel é muito folclórico, espanpanate, pejado de "obras públicas", explosivo em termos de investimento.
O oculto, é a miséria escondida, a promoção da pedofilia nos degradados bairros piscatórios de Câmara de Lobos, o desenvolvimento insustentável de indústria turística "ad libidum", a derrocada da exportação do vinho da Madeira e o fim da manufactura dos bordados (importam-se da China).
O vísivel é promovido, controlado e mostrado pelo Governo Regional. O Governo da República paga e não bufa.
O oculto, são as inefáveis sequelas do chamado "colonialismo continental", o garrote do Orçamento de Estado, a recusa de discutir o serviço da dívida na região, as serventias dos "off-shores", etc.
Caro Tonitosa:
Podemos ir à Madeira e sair de lá deslumbrados ou, francamente, desiludidos.
Politicamente, questionando o modelo der regionalização que está a tentar-se desenvolver.
Mas o "bailinho da Camacha" está preparado para vender a ilusão.
Antes de tentar perceber, volte à Madeira mais vezes´- é aqui tão perto.
Declaração de intersses:
Não tenho interesses em agências de viagens ou em investimentos turísticos regionais.
Caro Tonitosa por onde tem andado?
Tendo em atenção este seu comentário salazarento, cada vez pior.
A oposição atacou novamente Cavaco Silva, a Presidência do Parlamento e do Governo Regional, que alegadamente "fizeram desta visita uma visita turística" à semelhança "das de Américo Tomáz".
"A visita não correu bem, porque o Presidente não teve direito a sessão solene, porque o PSD e o Governo Regional esconderam as pessoas e os problemas da Madeira, enfim, esconderam a má realidade socioeconómica da Região", disse José Manuel Rodrigues do CDS/PP.
Edgar Silva (PCP) afirmou que no projecto de resolução social-democrata Cavaco Silva aparece "unicamente a falar, por sete vezes, durante os cinco dias que esteve na Região, do bom tempo que se faz sentir. O resto, é elogios a Alberto João Jardim".
JP 23.04.08
Esta visita de CS à Madeira deixou todos os portugueses envergonhados.
«Cavaco Silva foi à Madeira, aceitando que Jardim o impedisse de visitar o principal órgão de eleito da Região Autónoma (transformando o Chefe de Estado num mero visitante em pleno território nacional). Acabou a fazer rasgados elogios a um homem que recorrentemente viola as regras democráticas. Uma enfática demonstração da falta de firmeza da nossa democracia, onde o autoritarismo, a certeza da inimputabilidade e a boçalidade política são repetidamente premiados.»
Daniel Oliveira, arrastão
O Presidente da República visita a RA da Madeira a partir de amanhã e até sábado.Segundo a agenda publicada pelo portal da presidência não está previsto ser recebido pela Assembleia Legislativa em sessão plenária, o principal orgão do governo autonómico.É inconcebível que tenha aceite essa diminuição do seu papel e o do parlamento, tanto mais que, quando visitou há poucos meses a RA dos Açores, discursou seguro numa sessão solene da Assembleia na Horta, mandando recados mais dirigidos ao poder do Funchal do que aos açorianos.
Estamos perante a primeira grande derrota política de Cavaco Silva neste seu primeiro mandato.
posted by josé medeiros ferreira
O comentário do Tonitosa é de muito mau gosto. Direi mesmo que é uma provocação dado o dia que hoje se comemora.
A imagem que o casal Silva transmite é confragedora. Com a Maria a olhar embevecida para a cara metade e a dizer que não gosta de número. Que isso é com o marido.
É o piroso nacional no seu mais alto grau de sofisticação.
Estas imagens pelos vistos deixam o Tonitosa arrasado.
Ele há cada um...
Não posso deixar de achar piada a alguns dos críticos do meu comentário. São palavras de pseudo esquerdistas que ainda não perceberam que o muro de Berlim já há muito foi derrubado!
De outros, aceito a discordância. Temos opiniões divergentes e diferentes pontos de vista, agora como no passado, quanto a Aníbal Cavaco Silva.
Tivesse o Senhor Presidente da República criticado AJJ e aqui teríamos os mesmos comentadores a tecer loas a Cavaco Silva. Mesmo aqueles que "vociferaram" contra a candidatura de CS à Presidência da República!
Ou não seria assim?
Dívidas da Madeira; pedofilia na Madeira; bordados chineses na Madeira; pobreza na Madeira.
E o que se passa no Continente?
Será que estamos melhor?
Importações chinesas e indústria textil em crise; pedofilia...todos os dias se conhecem novos casos; dívida e pobreza ...basta lermos as estatísticas e pensarmos nos biliões de euros vindos da UE (muitos dos quais não se sabe que destino tiveram) e no entanto, como diz, aliás, o post de hoje do blogue "Tempos difíceis" a vida está cada vez mais difícil, para a maioria dos portugueses do Continente. E que dizer do desemprego, apesar desses mesmos biliões de euros!
Mas em relação a AJJ deixo a seguinte pergunta: já alguém o acusou de corrupção?
E quanto à sua "obra" na Madeira, na verdade parece-me que vale a pena lá voltar e comparar o que por lá se vê com o que todos os dias vemos e ouvimos no Continente em matéria de pobreza, bairros de barracas, violência, assaltos, corrupção, etc..
É certo que AJJ nem sempre opta pelo "politicamente correcto" mas que dizer, no Continente, das visitas de polícias a sindicatos e a escolas? E de telefonemas de políticos para órgãos de comunicação social.
E vale a pena lembrar a célebre frase: QUEM SE METER COM O PS, LEVA!
E que seria da democracia se determinadas correntes políticas (defendidas por alguns dos comentadores) acedessem ao poder?
Poderíamos continuar com este blogue?
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