segunda-feira, maio 26

OM


O Sr. Bastonário está a passar por momentos muito difíceis. É por essa razão que dá sinais de alguma desorientação. Disso é exemplo a ideia de se propor intervir na avaliação (pelo accionista) dos CA’s de um órgão de gestão de uma entidade pública empresarial (HH’s EPE). Dir-se-ia que estamos perante uma manobra de diversão destinada a desviar atenções sobre o ambiente interno da própria OM e das graves tensões internas que aí emergem. Com efeito a pior coisa que lhe poderia ter acontecido, neste novo mandato, tem tanto de inesperada como de cruel. A questão das cataratas e das idas a Cuba sob a aparência de uma questão menor, de contornos mais ou menos folclóricos de política autárquica, transformou-se numa verdadeira maldição da consciência do Sr. Bastonário (até porque se trata de um problema que ele conhece muito bem há muitos anos). O episódio de Cuba aflora o que de pior perpassa no sistema de saúde português. A inexorável descaracterização institucional da OM, com a progressiva tomada de poder por agentes do poder sindical, retirou à OM o papel de independência moral, rigor ético e isenção profissional que lhe está, filogeneticamente atribuído e que a tornaria um instrumento de prestígio profissional dos médicos, de respeito pelo poder político e de reconhecimento pelos cidadãos. Temos hoje uma OM fragmentada e construída em cima de interesses espúrios, negativamente convergentes. Actualmente a OM não se constitui, perante a comunidade, como o elemento fulcral de representação dos médicos e da interpretação dos valores fundamentais que enobrecem e caracterizam a Medicina mas outrossim numa espécie de mediadora de interesses sectoriais de natureza económica e corporativa.

beverigde

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9 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

O equilíbrio e a sensatez é fundamental para obter resultados e para conferir credibilidade às causas. E a tudo.

Por acaso leu este pedaço de prosa:

"Actualmente a OM não se constitui, perante a comunidade, como o elemento fulcral de representação dos médicos e da interpretação dos valores fundamentais que enobrecem e caracterizam a Medicina mas outrossim numa espécie de mediadora de interesses sectoriais de natureza económica e corporativa."

Não seria melhor inciar um processo com vista a considerar a OM uma associação de malfeitores, ou como se diz no Brasil, fichar a Ordem nos arquivos criminais acusando-a de "formação de quadrilha"?

O nervosismo que começa a irradiar à volta da avaliação dos CA dos HH's EPE's, fora do contexto do Estatuto do Gestor Público, recentemente publicado (2007), mostra, ou melhor, esconde outras pretensões.

Se essa avaliação "especial" chegar, algum dia, a existir, a Ordem vai estar lá.
E não será para diversão.

8:36 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Programa de Intervenção em Oftalmologia

A Ordem dos Médicos considera louvável o esforço que o Governo fez no sentido de encontrar uma solução para o problema das listas de espera de cirurgia de cataratas, que agora passarão a ter o reforço do Programa de Intervenção em Oftalmologia, hoje, dia 16 de Maio, apresentado pela Ministra da Saúde.
Esta medida confirma o que a OM sempre defendeu, ou seja, que Portugal tem capacidade instalada para resolver o problema, sem necessidade de recurso a países terceiros, desde que os serviços portugueses sejam devidamente financiados e organizados.
É possível ainda encontrar soluções complementares que incluam a participação do sector privado da medicina, com uma metodologia a estabelecer de forma transparente, à semelhança de sistemas de reconhecida eficiência noutros países da Europa. Com esse tipo de solução, teríamos certamente o problema permanentemente resolvido. Contudo, é de assinalar o mérito que tem a medida agora tomada pelo Governo, desde logo pelos doentes, que têm direito ao tratamento atempado, mas também pelo reforço que significa da capacidade de intervenção do SNS.
Importa, agora, garantir que o plano funcione na prática, com o empenho de todos, que a sua avaliação seja feita com eficácia e que haja a capacidade crítica necessária para introduzir mudanças se elas se justificarem.

Dr. Pedro M. H. Nunes
Lisboa, 16 de Maio de 2008

Comentário: Está tudo bem,desde que não se enviem doentes para Cuba.
Concorda-se com o Programa de Intervenção em Oftalmologia (sector público) mas o ideal será o recurso ao sector privado (assim os preços a praticar não são afectados).
Pese embora a boa intenção da senhora ministra, lançar dinheiro para cima dos problemas não resolve.
"Desaparece o dinheiro e o problema persiste" (PPB).

1:38 da tarde  
Blogger xavier said...

Caro e-pá!,

Estou inteiramente de acordo com a frase que refere.
Não com o sentido que lhe dá. Mas sim como identificação de uma situação grave porque passa actualmente a OM. À qual o caro amigo, como se vê, não é sensível.

1:52 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro xavier:

Não vale apena fazer jogos de cintura.

A frase que foi usada é ofensiva e provocatória.

Não só para o Dr. Pedro Nunes, mas para todos os profissionais desta classe.

Caro Xavier:
Quando tiver um familiar doente aconselho-o a não o levar a um "mediador de interesses sectoriais de natureza económica e corporativa."
Leve-o a um médico.

Não estou a falar de um eventual estado de fragmentação ou desorientação da OM, discussão que aceito e acho interessante.
Estou a falar de médicos como... "mediadores de interesses"...
Inacreditável!
E, pensar que trabalhamos nas mesmas instituições, no mesmo sistema.

Caro Xavier:
Não se trata de sensibilidades. Aqui há algo de profundamente errado.

4:25 da tarde  
Blogger Tá visto said...

Não faz qualquer sentido que a Ordem dos Médicos queira participar na avaliação de desempenho dos conselhos de administração dos hospitais EPE. Se o argumento para esta pretensão é o de dever intervir por se tratar de instituições médicas, então o mesmo deveria suceder em todos os organismos, públicos ou privados, onde trabalhem e se pratiquem actos médicos (veja-se o absurdo).
Como também não faz qualquer sentido que a OM se queira substituir à Entidade Reguladora da Saúde. Tendo embora funções delegadas do Estado, a OM não deixa de ser um órgão corporativo eleito por uma classe que, sendo agente, é também parte interessada em tudo o que concerne à prestação de cuidados de saúde, nomeadamente ás questões económico-financeiras. Se duvidas houvesse sobre esta matéria, veja-se a recente posição do Bastonário relativamente ás listas de espera de Oftalmologia. A única solução que ocorreu ao Dr. Pedro Nunes foi a do envio dos doentes para o sector privado, aproveitando mesmo esta “falência pontual do sistema” para propor a generalização da convenção a todo o SNS, que é praticamente o mesmo que decretar a sua extinção enquanto Serviço Público com as características que se lhe conhecem.
É evidente que a Ordem tem o dever de avaliar a qualidade dos actos médicos onde quer que seja que eles se pratiquem, devendo ainda assumir plenamente as funções de natureza ético-deontológicas bem como a avaliação inter-pares através dos colégios de especialidade. No caso de se verificarem constrangimentos ao exercício médico com consequências na qualidade da medicina praticada em prejuízo dos doentes, é óbvio que tem a obrigação de intervir e de os denunciar. Este dever ético não confere porém à OM o direito de tudo querer comandar e controlar, como se os médicos fossem aos anjos da guarda do Sistema de Saúde.
Quanto às considerações que "beveridge" faz relativamente à desvirtuação do papel da Ordem dos Médicos, digo apenas que é pura ficção. A OM, tal como as demais, pode ter tido ao longo dos anos melhores ou piores bastonários e direcções, mas foi no essencial sempre igual a si mesma enquanto órgão eleito por uma classe. Sendo o exercício da medicina regido por um código deontológico próprio, os médicos são acima de tudo seres humanos que, tal como os restantes, interagem com a sociedade em que se inserem. Ou seja, não somos deuses mas também não somos mais monstros que os demais.

7:13 da tarde  
Blogger xavier said...

Discutir a OM, o que tem sido a sua actuação, em especial do seu bastonário, em relação às políticas de saúde, não pode ser entendido como ofensa à classe.

No meu entender nada do que aqui foi dito sobre a OM, foi ofensivo a justificar a reacção agastada do e-pá.
Basta lembrar o que se passou no último processo eleitoral, para aferirmos como estamos longe, muitissimo longe, do tipo de coisas que então foram ditas.

O pedaço de prosa alvo de indignação do e-pá também nada tem a ver com o projecto de avaliação dos CAs, como insinua o e-pá (mais uma das suas cruzadas inglórias).

O que me preocupa e lastimo é toda a hipocrisia relacionada com o folhetim das listas de espera. A reacção às viagens a Cuba e à importação de médicos espanhóis para tentar resolver listas de anos que os da casa nem beliscam.

Paciência tem a ministra em botar mais milhões para recuperar dois meses de espera.

Estou com o PPB:
«Normalmente, quando temos um programa especial de resolução das listas de espera, desaparece o dinheiro e não desaparece o problema»

Nas nossas discussões tem prevalecido quase sempre o equilibrio e a sensatez. Por isso, custa-nos, por vezes, entender certas reacções, pouco justificadas. Mesmo tendo em conta o habitual tom arrebatado das intervenções do e-pá.

11:55 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Nada disso Xavier!

Só gostava de compreender porque o comentáto de Tonitosa no post " A regra de Sutton", publicado 18.05.08, acera da APAH e da direcção de Manuel Delgado é considerado, pela comentadora Helena, como "impublicável"... e o assunto morre aí.

No caso da OM como uma entidade "mediadora de interesses..." (deixo o Dr. Pedro Nunes de fora) o comentário para além de publicável, é destacável (em post).
Critérios editoriais que devem pouco à isenção e nada à sensatez.
Afloramentos dedicados às predicções.
Estou habituado a discutir esses temas em casa.
Chamamo-lhes :
the good, the bad & the ugly...

Ficamos por aqui.

11:49 da manhã  
Blogger xavier said...

O que é que uma coisa tem a ver com a outra?

Criticas à APAH e AH tèm acontecido, por vezes, forte e feio.

O é-pá deu em compor o papel de virgem ofendida. O que é que se há-de fazer!
Ñão posto mais nenhum texto sobre a OM sem o consultar préviamente.

Descer tanto o nível é que não era preciso.
As crises de inspiração dão nisto.

11:40 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

Nunca me incomodei sobre o que se diz ou pensa acerca a OM de que como profissional médico, sou obrigatoriamente membro (para exercer a profissão).

Agora, se alguma vez estivesse convencido que pertencia a uma associação "mediadora de interesses sectoriais de natureza económica e corporativa"..., com certeza, que me consideraria um traficante, na pior área possível. Isto é, na área social.
Ora, isso sei, de saber de experiência feito, que não sou.

De maneira que faça o favor de "bater" na OM, quando ela merecer ou quando lhe aprouver.

Não foi a "porrada" na OM que trouxe à liça.
Isso não me incomoda, nem me ofende.

E, caro Xavier, aos 62 anos não se é virgem. Ou se é burro ou nasceu-se senil (para não dizer imbecil).

Finalmente, cabe aqui a última frase que Fernado Pessoa escreveu (em inglês no original):
"I know not what tomorrow will bring..."

4:01 da tarde  

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