sábado, maio 31

Saúde, público & privado (2)


«Se os grandes grupos económicos estão a investir na saúde é porque sabem que dentro de pouco tempo está tudo desmantelado, e o Serviço Nacional de Saúde ficará para os coitadinhos. Estou muito preocupado com o avanço do neoliberalismo e com a capacidade de intervenção das grandes companhias majestáticas, como nunca antes». link António Arnaut, DD 30.05.08

Estamos todos.
Nos últimos tempos, temos assistido à inauguração de uma mão cheia de unidades hospitalares privadas. Investimento pesado. Última tecnologia. À sangria de técnicos do SNS. Este movimento, encorajado por CC e, certamente, pelo primeiro ministro, José Sócrates, promete continuar ao rubro nos próximos anos.
O marketing da saúde, a caça aos utentes, inevitavelmente, tornou-se uma actividade agressiva com utilização de sofisticados meios. Até o Eusébio já serviu de bandeira.
Imagine agora os médicos ortopedistas de um determinado HH do SNS a receberem, através de circular (23.05.08), endereçada em envelope fechado e nome próprio (completo), assinada pela administradora de uma unidade privada vizinha, a seguinte mensagem:
«No momento de dar alta, após uma cirurgia, quantas vezes já se deparou com as limitações de assistência e acompanhamento que o seu doente lhe apresenta?
Quantas vezes pensou em ter uma solução que reúna, numa só equipa, a resposta às necessidades, adequada e especializada, nesta fase sensível do pós-operatório?
A pensar nesses casos, desenvolvemos um Serviço de assistência pós-hospitalar em cirurgias ortopédicas, que pretende ir de encontro às necessidades de todos os doentes para quem o regresso a casa oferece as maiores limitações.» (…)
Aqui está. O sector privado a promover o seu "papel de complementaridade" relativamente à rede de cuidados continuados do SNS. Restrito aos doentes que podem pagar.
Nem a dr.ª Inês Guerreiro!

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1 Comments:

Blogger Tá visto said...

Para António Arnaut, este princípio, além da força ética que comporta, tem uma força jurídico-constitucional muito grande, pois será necessária uma concertação de dois terços dos deputados da Assembleia para o retirar da Constituição da República Portuguesa pela revisão do artigo 64º.

«No dia em que o PS o faça eu saio do Partido Socialista, do qual sou um dos fundadores», prometeu, embora tenha a esperança de que isso não irá acontecer porque o SNS sobreviverá.


Aqui está uma posição de grande frontalidade de um Socialista de sempre. Como em tudo na vida, também na militância partidária há limites. Enquanto Correia de Campos encontra inspiração política, vertida em prosa jornalística, numa figura como Manuela Ferreira Leite que publicamente decreta a morte do SNS; António Arnault avisa que baterá com a porta no dia em que o PS permitir a revisão do artigo 64º da Constituição da República. Devia passar isso a escrito e fazer correr em abaixo-assinado entre militantes socialistas.
Também dentro do PSD surgem vozes discordantes da política para a saúde da senhora de esfinge salazarenta. Paulo Mendo, em artigo recente no JN, criticava as posições da sua correligionária no debate televisivo entre candidatos.
Pressente-se que se está num momento decisivo de vida ou morte do SNS (é o mata-mata de Scollari), os grupos económicos, tendo investido já milhões e sentindo-se ameaçados pela mudança de rumo na política de saúde, irão investir seriamente no candidato a primeiro-ministro que lhes garanta os investimentos. Preparemo-nos pois para uma intensa refrega em torno das questões da saúde nos tempos que se avizinham. Faço votos para que o SNS vença e se revigore.

11:31 da tarde  

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