sexta-feira, maio 30

Sicko 2008


A entrevista do Prof. Miguel Gouveia link revela alguma falta de modéstia e está recheada de hipocrisia. Para quem tão bem conhece o tema, sistemas de saúde, esqueceu-se o Professor de explicar que os "pequenos" sistemas das caixas de previdência foram construídos durante o Estado Novo, com base em organizações corporativas controladas pelo estado fascista, bem longe do enquadramento da época bismarckiana, das monarquias constitucionais, dos ventos dos movimentos sindicais, das ideias socialistas e da revolução industrial. Portugal só teve em 1946 uma Federação das Caixas de Previdência e uma Lei da Assistência Hospitalar, enquanto que a Prússia tinha optado por um sistema de seguro social em 1883. Esquecendo-se que o país apresentava uma baixa capacidade para financiar a saúde, 2.8% PIB em 1970, que dispunhamos de uma cobertura de cerca 86% da população à data do 25 de Abril, que o complexo médico-industrial era incipiente, centrado nos médicos 8.156 em 1970, dispunhamos apenas de 13.797 enfermeiros (quem cuidava dos doentes eram ajudantes de enfermagem) e que a profissão médica acumulava diversas ocupações face à debilidade financeira das instituições públicas. Fala do SNS como se a Lei Arnaut alguma vez tivesse sido implementada, esquecendo que vivemos num sistema misto quer de financiamento quer de prestação, onde o sector privado sempre deteve uma fatia choruda do orçamento através das convenções. O último parágrafo, poderia ser passado para cinema por qualquer guionista de LA e figurar mais tarde num excerto de um qualquer documentário realizado sobre "como acabar com sistemas de saúde públicos". Se o Saúde SA instituir um Prémio "SICKO 2008" pode desde já contar com a minha proposta de nomeação do Professor Miguel Gouveia.
Avicena

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